Por que é preciso malhar Chávez?
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- 01/06/2007
A mídia passou a semana desancando o presidente Hugo Chávez por não ter renovado a concessão de um canal de televisão. A Constituição Venezuelana o autoriza a tomar essa decisão. Se ela tivesse sido ilegal, a Justiça do país a teria anulado, mas não há notícia de que isto tenha acontecido.
Então, por que acusar o presidente de agressão à liberdade de expressão?
Por um motivo muito simples: como a Constituição Brasileira contém dispositivo semelhante ao da lei magna venezuelana, convém prevenir o risco de que algum presidente, algum dia, tenha coragem de pô-lo em prática. Daí a necessidade de gerar na opinião pública a convicção de que as televisões são intocáveis. Qualquer intervenção dos poderes públicos em suas atividades precisa ser considerada anti-democrática, de plano - independentemente da verificação dos seus motivos. Além disso, nada como prestar um bom serviço aos amos norte-americanos, que estão buscando pretextos para fazer uma agressão "democrática" à Venezuela, cujas reservas de petróleo não são nada desprezíveis.
Jornais e telejornais estão cheios de fotos, filmagens, declarações e entrevistas contra a não renovação da concessão, mas não se divulgou nada mais substancioso sobre o criminoso comportamento dessa rede no golpe que a direita tentou dar no governo Chávez.
Para as oligarquias latino-americanas, a televisão presta um extraordinário serviço, pois consegue, com uma enorme eficácia, provocar divisão e confusão entre as classes populares. Para o imperialismo, substitui as antigas e custosas tropas de ocupação. Por isso, a televisão é tão poderosa e tão amparada pelos políticos do sistema dominante.
Contudo, não há reforma política mais necessária em toda a América Latina do que a quebra do monopólio das principais televisões, todas ligadas aos interesses do grande capital nacional e estrangeiro. Esses poderosíssimos veículos de comunicação, além de desinformarem a população e de promoverem a penetração dos anti-valores e da amoralidade da indústria cultural norte-americana em nossos países, constituem uma devastadora arma de destruição de imagem, a serviço das classes dominantes.
No caso venezuelano, o uso dessa arma atingiu um verdadeiro paroxismo. Qualquer viajante que tenha passado por Caracas é testemunha da escandalosa campanha que a Radio Caracas Televisão (RCTV) desfechava contra Chávez.
Dizia o velho governador Miguel Arraes que nenhuma reputação, por mais sólida que fosse, resistiria a quinze minutos de uma barreira de calúnias na televisão. Pode-se entender, portanto, que a maioria dos políticos brasileiros, cujas reputações não primam nem um pouco pela solidez, fujam, como diabo da cruz, da responsabilidade de acionar o dispositivo constitucional que obriga o Estado a fazer uma verificação rigorosa acerca do cumprimento dos requisitos estabelecidos em lei para aprovar as concessões de canais televisivos.
Mas o gesto do Senado, aprovando moção contra Chavez, já é demais. É caprichar na subserviência.
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