Um ano que não deixará saudades
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- Andrea
- 26/12/2009
Marcante em 2009 foi a consagração de Lula na esfera internacional. Hoje ao lado dos líderes mais importantes, ele posa na primeira fila das fotos de participantes das cúpulas do mundo. Como disse o Obama, "ele é o cara".
A razão desse enorme sucesso não pode deixar de ser creditada, em parte, ao "charme" do ex-torneiro mecânico, pau de arara, que virou o "filho do Brasil".
Iludem-se, contudo, os que atribuem a badalação ao charme do Lula ou à emergência do Brasil como uma potência mundial. Este mito não resiste ao mais elementar senso de autocrítica: o Brasil não é potência emergente coisa alguma e sim, simplesmente, a "bola da vez" na mesa de bilhar em que se realizam os grandes negócios (e negociatas) destinados a tirar o sistema capitalista da recessão.
Como exemplos, a exploração de petróleo (pré-sal) e a ocupação da Amazônia para montagem de uma gigantesca economia exportadora de "commodities" agrícolas e florestais.
Lula é o "cara" porque ninguém melhor do que ele garante o clima de tranqüilidade social para que a rapinagem seja feita sem riscos.
Enquanto os investimentos afluem, há dinheiro para manter a ilusão e o discurso propagandístico da prosperidade dos mais pobres, embora o aumento real do gasto dessas famílias não tenha sido suficiente para impedir fenômenos como o aumento brutal da violência nos morros do Rio de Janeiro e nas periferias de São Paulo e de outras cidades grandes.
Além do sucesso do Lula, as outras marcas do ano que passou na esfera da política são: o estupro público do PT, outrora uma respeitável agremiação política de esquerda; e o desconcerto da oposição tucano-dem.
Lula não apenas fez o PT engolir a Dilma, o Ciro, o PMDB, o Sarney, como o fez de forma pública e escancarada, obrigando senadores a voltar atrás em público após bombásticas declarações em favor de posições que o presidente descartou. Um horror!
Nos arraiais tucano-dem, uma luta de punhais silenciosos (alguns não tão silenciosos) pela indicação do candidato presidencial de 2010, confusão generalizada e a evidência da corrupção. Não podem fazer críticas às políticas de Lula porque estas não mais são do que a continuidade de suas próprias políticas; não podem atacá-lo no aspecto moral porque estão enredados no mar de lama até o pescoço.
No campo da oposição de esquerda, tanto partidária quanto sindical e popular, o ano também foi marcado pela confusão. Os três partidos socialistas ainda não definiram suas táticas eleitorais para 2010. O mesmo problema entorpeceu a ação dos movimentos populares durante todo o ano. Espremidos entre a necessidade de romper com Lula e o risco de perda de subsídios hoje essenciais para seu funcionamento, eles assistem impotentes à onda de criminalização das suas atividades.
De todos os fatos nefastos registrados em um ano particularmente adverso para o movimento popular, o mais nocivo indubitavelmente foi a conversão da Medida Provisória 458 em lei. Mais do que a entrega de nada menos do que 67 milhões de hectares de terras públicas (uma extensão maior do que as áreas agrícolas da Alemanha e França somadas) ao agronegócio, a lei selou a nova posição do Brasil no esquema de divisão internacional do trabalho do sistema internacional do capitalismo. Virou-se com a malfadada lei a página da construção de uma economia industrial e sancionou-se a reversão neocolonial do país.
Para não ficar exclusivamente nos registros negativos, convém assinalar dois avanços importantes: a retomada das terras indígenas da Raposa-Serra do Sol, e a aprovação da unificação das duas centrais sindicais de esquerda – Intersindical e Conlutas.
Do ano de 2009 ficará a memória de uma sociedade totalmente anestesiada a assistir passivamente aos trágicos episódios que testemunham a acelerada deterioração do tecido moral do Estado brasileiro.
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