Correio da Cidadania

Corrupção: desta vez vai?

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Toda vez em que o Estado brasileiro parece reagir contra a corrupção, a classe média fica animada: "agora a coisa vai!".

Na verdade, trata-se de uma expectativa infundada, porque evidentemente um Estado corrupto jamais combaterá eficazmente a corrupção. Já se viu o roto falar do esfarrapado?

 

A expectativa da punição é incongruente e revela o comodismo condenável da maioria das pessoas de classe média: não se interessam pela política, não fazem nenhum esforço para se alfabetizarem politicamente; não se movem de casa para apoiar nenhuma campanha cívica séria (salvo as que a mídia patrocina – e que não são sérias) e, depois desse indiferentismo todo, pretendem ver o país livre da corrupção.

 

Para que corruptos sejam punidos, são necessárias leis adequadas, instituições eficientes, partidos políticos sólidos, imprensa verdadeiramente livre (e não oligopolizada) e cobrança efetiva da opinião pública. Se as pessoas que têm mais condições para fazer essa cobrança recusam-se, como alegam, a "sujar as mãos" na política, como podem pretender que o sistema funcione?

 

A prisão processual do governador do DF, José Roberto Arruda, retratada em cores vivas pela mídia sensacionalista, ao contrário do que parece, não significa de fato uma pressão verdadeira pela punição do acusado. Ela cumpre, na corrupta sociedade brasileira, a função de excitar os sentimentos menos nobres do ser humano: o prazer de ver o outro sofrer.

 

Desse modo, o triste espetáculo, sempre repetido "ad nauseam", serve apenas para desafogar a raiva que a corrupção causa nas pessoas e fazer com que se satisfaçam com isso. Não é por esse caminho que nos veremos livres da corrupção.

 

Impressionados com o rigor inusitado com que está sendo tratado o ex-governador do DF, algumas pessoas têm especulado sobre o fato. Significaria que, desta vez, o final não será pizza? Não há elementos para fazer tal afirmação: a prisão do governador é processual e está sustentada por uma liminar que pode ser suspensa a qualquer momento.

 

Contudo, para não deixar passar em branco a novidade de ver um governador atrás das grades, podem ser levantadas duas hipóteses explicativas para ela:

 

- acidente de percurso, ou seja, o "kit" usualmente utilizado para administrar escândalos cometidos por altos figurões deparou-se com um juiz mais rigoroso e com um ministro mais sensível à opinião publica. Isto fez com que se rompesse o padrão usual: anunciar drásticas medidas e não dar seguimento a elas, até que o clamor cesse;

 

- preocupação efetiva do "establishment" burguês com o impacto da impunidade de uma falcatrua televisionada em um ano eleitoral.

 

Aguardemos os próximos dias.

 

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Comentários   

0 #3 livrerenato 03-03-2010 06:26
O presidente do STF, sr.Gilmar Mendes, ele alega que a PF está abusdando de autoridade.
Pois pregava que os mafiosos não devem ser algemados, pois é um escândalo.
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0 #2 livrerenato 02-03-2010 11:33
A constituição de 46, na era Dutra, dá o acusado diretio de defesa. Pois pela lei somos rodos iguais, mas quem contrata advogados caríssimos, sai melhor.
Pois para a elite mafiosa, não é viável acabar com a corrupção. Na década de 90, na Itália, o povo foi nas ruas, pedindo punição, e através da operação mãos limpas, muitos mafiosos foram atrás das grades.
Para combater a corrupação, é só pela pressão popular para mudar as leis penais.
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0 #1 Lendo pensamentosR H Barchilón 02-03-2010 11:32
Impressionante. Parece que alguém estava ouvindo a minha conversa ontem e escreveu, tin-tin por tin-tin, tudo que eu penso a respeito da prisão do Arruda.
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