O que está em jogo em 2010
- Detalhes
- Andrea
- 15/04/2010
Lulistas sinceros acreditam que o presidente está realizando um avanço social maior do que o próprio Getulio Vargas. Os que divergem desse ponto de vista não sabem "o que realmente está em jogo em 2010". Portanto, o ponto a discutir com eles diz respeito a esta questão.
O fenômeno Lula tem um efeito social real, independentemente do êxito ou do fracasso do seu governo.
O caso dele é semelhante ao de Obama. É o fato de um negro ocupar a Casa Branca que tem um efeito não identificável diretamente, mas certamente muito forte, na sociedade norte-americana. Os Estados Unidos não serão os mesmos depois de Obama, independentemente do que vier a acontecer com a sua administração: o povo negro percebeu que "pode".
A ascensão de um "pau de arara" à Presidência da República tem o mesmo significado: o povo percebeu que pode chegar lá. Portanto, o Brasil pós-Lula não será o mesmo. Mas o Brasil será esse?
Para quem se considera socialista esta não é a pergunta chave para definir o que está realmente em jogo em 2010, e sim esta outra: ao término do governo Lula, o Brasil estará mais próximo ou mais distante da ruptura socialista?
Cientes de que a resposta só pode ser negativa, os lulistas levantam a questão do futuro do Brasil mais em termos de ameaça aos que divergem da sua posição do que de esperança de grandes avanços, porque estão cansados de saber que, no pós-Lula, as políticas econômicas não serão muito distintas das atuais, seja eleito qualquer dos candidatos do campo da ordem estabelecida.
Fica valendo, portanto, apenas a ameaça: se a esquerda assumir uma postura divisionista, os tucanos vencerão e anularão todas as conquistas proletárias.
Ora, todos sabemos que, na medida em que o campo da ordem – hoje preponderante – for se tornando hegemônico, as conquistas da classe operária em épocas passadas irão sendo anuladas uma a uma. Não por outra razão, aliás, a campanha de 2010 está sendo diligentemente montada para atingir dois objetivos: incutir na mente do eleitorado que as coisas estão melhorando e que não há qualquer alternativa ao sistema capitalista.
Se a direita lograr atingir esses dois objetivos, a hegemonia neoliberal estará totalmente consolidada. O próprio povo passará a entender que, para poder melhorar de vida, os capitalistas têm que ser atendidos em todas as suas reivindicações. Claro que isto não significará o fim do socialismo porque o socialismo existirá enquanto um homem explorar outro. Mas adiará seu retorno à agenda política do país e isto representará milhões de pessoas esmagadas pela truculência do sistema.
Portanto, o que está em jogo em 2010 é a possibilidade (longínqua, mas real) de desarmar essa armadilha por meio de uma denúncia e de uma proposta alternativa que consigam sensibilizar uma parcela significativa do eleitorado.
Não façamos ilusões quanto ao tamanho dessa parcela. Não será grande. Porém, se criar uma base para expansão da proposta socialista, já representará um avanço político.
Na verdade, trata-se de uma tarefa quase impossível, dada a brutal desproporção entre os recursos dos candidatos do campo da ordem e os candidatos socialistas. Contudo, é a única saída autêntica para quem, perfeitamente a par da extrema debilidade da esquerda, vê na campanha eleitoral uma oportunidade mínima, porém valiosa, de lançar sementes para combater a consolidação da hegemonia burguesa.
Não venham, pois, os lulistas com cobranças históricas antecipadas. O que a história responsabilizará, isto sim, serão aqueles que não souberam ler corretamente a conjuntura.
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Comentários
De um lado aqueles que querem diminuir as injustiças;
Aumentar a inclusão;
Melhorar a vida dos pobres;
Reforma agrária ampla e continuada;
Divisão das riquezas do Brasil;
E do outro lado o desejo de favorecimento de alguns;
O pobre, o negro, o índio, o quilombola, o povão pode ficar como estão;
O estado tem que ser mínimo. (mínimo para o povo e o Maximo para os privilegiados);
Terceirização, privatização e concessões dos pertences nacionais;
Vamos decidir a parada, porque:
Eu posso!
Você pode!
Nós podemos!
Fazer com o que o Brasil continue sendo nosso.
Se entendermos o socialismo como um PROJETO DE SUPERAÇÃO do modo de produção e destruição do capital - apropriação do trabalho alheio (mais valia), desperdício com taxas de obsolescência colossais que promovem a destruição (inclusive dos meios ecológicos de suporte a vida) de forma mais rápida que a produção de riquezas (valor de troca), separação e alienação do trabalho entre os que mandam, dominam, dos que executam, obedecem (gestão burocrática) - então, o socialismo, além de um ideal de superação do estabelecido (ideal importante para mobilizar, para nos “sacudir”, para criar alternativas...), e também uma NECESSIDADE HISTÓRICA, enquanto tal situação (de exploração e destruição generalizadas) persistirem.
Já tivemos várias tentativas e lutas emancipatórias, o que por um lado é um acumulo fundamental para balizar novos projetos, porém temos também um desafio basilar, qual seja, superar a fragmentação entre os grupos que, em ultima instância, compreendem tal necessidade histórica de superar este tipo de sociedade, centrada no capital, mas que por vários motivos estão fragmentados e até em conflito (para a alegria dos donos do poder).
É importante o debate, diferenças entre idéias, leituras e propostas, acumulo teórico, porém, é necessário, para se questionar, numa ofensiva transformadora, o statos quo, formas e metodologias de AGLUTINAÇÃO COLETIVA EM TORNO DE UM PROJETO DE AÇÃO claro e consistente.
Acho que o editorial conclama essa perspectiva, que o momento de disputa eleitoral não é um momento de “tomada do poder institucional”, mas sim um espaço de ampla denúncia das contradições e riscos que essa lógica implica a todos nós, e mais importante, um espaço para DIÁLOGO E FORMAÇÃO DE PROJETOS E PROPOSTA que sejam capazes de articular agentes da mudança, e colocar em movimento ações estruturantes de uma outra sociedade. Isso porque apenas assumir cargos institucionais, por meio do marketing eleitoreiro, manipulação de massas, e sem projetos de mudança efetivos, é tão somente se transformar em “gerentes do capital” (eis a chantagem lulista, pois de fato são melhores gestores da dominação que os tucanos). A conquista do poder coletivo (alienado no aparelho estatal), precisa ser vista como final de um processo de luta, composições, acúmulos de propostas e conquistas para a emancipação além do capital, e não o seu inicio (e esgotamento prematuro).
Sem me alongar mais, sugiro inclusive (e perdão pelo atrevimento), que uma ou duas propostas interessantes (apontando um horizonte socialista efetivo e inteligível para as pessoas), a se colocar no debate amplo, seria a combinação crítica entre as experiências de empresas estatais e o movimento cooperativista, ou seja, a criação, fomento, implante, etc, de um SETOR PRODUTIVO PÚBLICO ESTRUTURADO PELA AUTOGESTÃO SISTÊMICA E VALOR DE USO (socialização econômica), ao lado de um projeto político de socialização do poder, por exemplo, um projeto de instituir CONSELHOS GESTORES DE CONTROLE DEMOCRÁTICO, com a função de nomear, avaliação e revogar os cargos de dirigentes públicos do executivo, que hoje está mais para uma monarquia do que para um “setor público” (república).
Acho que foi um descuido da redação, falar que "o socialismo existirá enquanto um homem explorar o outro", faltou falar que o socialismo é uma utopia, que norteia toda a verdadeira esquerda."O socialismo (como sonho) existirá...". Mas, antes que pensem que estou fazendo um panfleto em homenagem ao ceticismo dos cínicos, toda utopia (presente) é um elemento real, concreto, mas que serve tão somente como um norte. O que adianta a búlsola sem saber trilhar os acidentes geográficos? O socialismo que podemos construir será diferente do socialismo que sonhamos. Não podemos cometer os erros idealistas e ou mecanicistas do passado. O socialismo em si(... necessário) é uma transição e o comunismo ainda impensável(e... possível).
Fica uma pergunta: será que já houve algo real que se igualou a algum sonho?
"Portanto, o que está em jogo em 2010 é a possibilidade (longínqua, mas real) de desarmar essa armadilha por meio de uma denúncia e de uma proposta alternativa que consigam sensibilizar uma parcela significativa do eleitorado."
Ora, aí está o Calcanhar de Aquiles da esquerda brasileira: só consegue pautar as mudanças da ordem como lutas entre correntes e partidos em congressos, eleições e espaços institucionais. É incapaz de perceber que a grande tarefa histórica atual dos socialista é justamente superar o projeto hegemômico do PT; é justamente colocar em xeque esse rebaixamento do horizonte estatégico que vemos hoje. Precisamos construir uma alternativa no plano real e quotidiano do povo e colocar em andamento (e não simplesmente propagandear na TV)um projeto real de transforção social. Mas isso é muito mais difícil do que disputar eleições. Eis a deficiência de toda a nossa esquerda.
então, Acredito que Marina tem uma maior clareza entre os opostos..
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