Correio da Cidadania

Vitória dos estudantes

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Deve-se aos estudantes da USP a confirmação da autonomia da universidade. Evidentemente é a hora de comemorar essa vitória.

 

Mas nem por isso está na hora de encerrar o assunto universidade. Será um erro pensar que a desocupação da Reitoria signifique o fim da agitação estudantil. As causas dessa agitação são profundas, de modo que surtos como os da USP, da Unicamp, da Unesp - estes dois últimos, aliás, ainda não concluídos - certamente ainda irão explodir várias vezes em diferentes partes do território nacional.

 

Importa, pois, indagar as causas que levaram os estudantes da USP ao gesto extremo de ocupar a Reitoria.

Como todos os demais setores da sociedade, a Universidade é hoje objeto da fúria do capital. Prestar o serviço de fornecer instrução superior tornou-se uma mercadoria - e mercadoria de alta elasticidade da demanda. Negócio rendoso, de retorno rápido e margens de lucro altíssimas.

 

Regular a oferta dessa mercadoria, a fim de ajustá-la às características da competição intercapitalista, constitui atualmente preocupação dos organismos internacionais de monitoramento das economias subdesenvolvidas. Dessa preocupação surgiu uma nova doutrina sobre a universidade.

 

Não mais a universidade como instituição basilar do edifício nacional, encarregada de pensar o país no mundo e de formar sua intelectualidade e seus profissionais qualificados. Mas universidade enquanto usina de preparação em massa de mão-de-obra dotada de conhecimentos e, sobretudo, de atitudes compatíveis com as necessidades das empresas capitalistas em uma época de grandes e rápidas transformações tecnológicas.

 

A grande preocupação dos centros do capitalismo é que surja, nos países desenvolvidos, uma escassez de mão-de-obra qualificada para incorporar as inovações, pois isto obrigaria os capitalistas a reduzir suas margens de lucro. Daí a razão pela qual as instituições internacionais de monitoramento dos países subdesenvolvidos, como o Banco Mundial e a União Européia, estão forçando os dirigentes dessas nações a reformar suas universidades, a fim de adotar a nova concepção de ensino universitário.

 

Em outras palavras: estão forçando os países subdesenvolvidos a criar um grande exército de reserva de engenheiros, químicos, localizado na Índia, Brasil, África do Sul e outra dezena de "países emergentes", a fim de comprimir os salários de seus colegas norte- americanos, ingleses, franceses.

 

Os estudantes que estão agitando os "campi" do estado de São Paulo podem até não estar plenamente conscientes desse processo, mas sentem diretamente os seus efeitos no aviltamento do ensino superior brasileiro, pressentem o futuro cinzento que os espera e têm a coragem de reagir.

 

Claro que não são todos os estudantes, e provavelmente nem a maioria deles, os que reagem. Mas, sem dúvida, são os mais valiosos, os mais inconformados, os que carregam dentro de si a chama da mudança.

 

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