Protestos justos e indispensáveis
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- Andrea
- 04/02/2011
Em dezessete grandes cidades do país as prefeituras decretaram aumentos superiores a 10% no preço das passagens de ônibus. Outras tantas municipalidades anunciaram aumentos para os próximos dias.
Isto representa pesado ônus para a população pobre, pois o transporte constitui um dos maiores itens do orçamento dessa categoria de pessoas.
Enquanto isso, o governo federal recusa-se a aumentar o salário mínimo a mais de 5%, quando se sabe que a inflação não é a mesma para todas as categorias de pessoas. Um aumento de 10% na passagem de ônibus não afeta os que utilizam automóvel, mas atinge duramente as pessoas mais pobres.
Portanto, o descompasso evidente entre o ajuste do preço das passagens e o ajuste do salário mínimo explica a onda de protestos, marchas e ocupações de prédios, organizada especialmente pela juventude.
É preciso apoiar essas iniciativas, porque, se o povo não se defende, maior será o grau da exploração que sofre.
As prefeituras alegam a necessidade de conceder os aumentos, a fim de assegurar a qualidade dos serviços – argumento falho, pois todos conhecemos a péssima qualidade do transporte urbano.
Evidentemente, se se provar que o aumento de cerca de 10% é indispensável para evitar um colapso no serviço, não há como negá-lo. Mas, em tal caso, um governo sensível às necessidades da população pobre terá a obrigação de conceder aumento do salário mínimo igual ao do aumento do transporte.
Fora daí, essa população terá de sacrificar outros gastos indispensáveis ao seu padrão de vida – que já é tão baixo – para poder pagar o transporte de casa ao trabalho e do trabalho para casa.
Tudo isto faz parte do drama, ou da tragédia, da desigualdade social. Todos são iguais, proclama a lei burguesa. Todos podem freqüentar os parques públicos, todos podem ir ao cinema, todos podem comer em restaurantes, mas de que vale essa igualdade se o pobre não tem dinheiro sequer para pagar a passagem do ônibus?
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Comentários
De fato esse aumento da passagem atinge as populações com renda menor de forma mais impactante. E é absurdo o preço das passagens de ônibus no Brasil, inclusive as variações entre Estados. Enquanto em Porto Alegre as linhas de Ônibus não circulam de madrugada - afetando o direito de ir e vir de quem não tem carro - e mesmo algumas não circulam no domingo, outras sábados depois de certos horários esdrúxulos como 20h. Os trajetos são curtos e mesmo assim a tarifa é maior do que no Rio de Janeiro, por exemplo, onde diversas linhas circulam 24h em trajetos que cortam a cidade inteira.
Em Buenos Aires uma passagem de ônibus custa AR$ 1,10, há linhas circulando 24h (ainda que precariamente) e o salário mínimo esta em cerca de AR$ 900/1000. Além disso, os motoristas lá são muito mais bem pagos e os portenhos tem à disposição um serviço de metrô mais abrangente (embora ainda devesse melhorar) do que qualquer cidade brasileira. Por que lá é possível?
Só falta a prefeitura de porto alegre aprovar o aumento da tarifa para R$ 2,81, como solicitado pela empresa monopolista. Os portoalegrenses vão pagar uma das maiores passagens do Brasil para um serviço que não atende à população à noite e nos finais de semana, além de ter um sistema de disposição de linhas que quase obriga os cidadãos a pegar dois Ônibus por deslocamento, se este não for ao centro!
Mais do que protestar contra o aumento da passagem, temos que protestar para o aumento do incentivo ao transporte coletivo, desenvolvimento destes com meios mais baratos e/ou menos poluentes, além de mais seguros, já que as mortes provocadas pelo trânsito no mundo são gigantescas.
Enquanto isso o governo só incentiva o uso de transportes particulares. O aumento da passagem é um desses incentivos...
Só destaquei o primeiro ponto porque sou contra o uso exagerado dos transportes particulares em detrimento do coletivo. No mais, concordo com o texto todo. É deprimente tanto o pífio aumento do salário mínimo, principalmente com o gigantesco aumento das passagens de ônibus.
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