Sobre as denúncias éticas
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- 02/07/2007
A deterioração moral chegou a um tal ponto em nosso país que está mais do que na hora de reagir. Se não sairmos às ruas, em mais uma jornada cívica com a dimensão das Diretas Já, não se sabe até aonde o descalabro atual irá nos levar.
No tempo em que o PT era um partido de esquerda, havia uma voz forte no combate à corrupção. Após a defecção petista, os bravos parlamentares que antes se ocupavam em barrar a corrupção, estão calados ou mesmo ocupados - pasme-se - em barrar as apurações.
Nesse contexto, sobram poucas agremiações políticas ainda empenhadas em combater a corrupção. Entre elas, a que ainda conta com alguns poucos recursos para convocar o povo a protestar é o PSOL. Não fora o PSOL, não haveria comissão de ética para apurar denuncias de corrupção no Senado da República. O partido está procurando cumprir essa tarefa com coragem, mas sem utilizar a bandeira da ética para ofuscar a denúncia social.
É indispensável que a ação dos parlamentares do PSOL seja apoiada pelos movimentos populares combativos, pois são estes os que têm capacidade de mobilização de massa.
Não se pode ter certeza se esse chamado terá respostas, pois não sabemos se a paciência do povo já se esgotou ou ainda espera alguma coisa do governo Lula. Mas a possibilidade de não haver resposta não desonera os partidos de esquerda e os movimentos populares autênticos do dever de fazer o apelo.
Só que desta vez, precisamos pôr em prática uma grande lição do passado: a indignação ética não é suficiente para eliminar a corrupção, que atualmente é sistêmica. Decorre da promiscuidade entre agentes públicos e privados, característica inerente ao modelo político neoliberal. Portanto, para conseguir que um eventual movimento de massas possa levar ao fim da corrupção, o PSOL e os movimentos populares precisam, não apenas denunciar pontualmente esta ou aquela falcatrua, mas incluir na denúncia a imoralidade maior de um regime econômico, social e político que está massacrando o povo pobre e, sobretudo, não se esquecer de ressaltar que só em um modelo alternativo ao capitalismo a corrupção poderá ser domada. Muitos consideram absolutamente improvável que a massa possa aderir a qualquer proposta que ultrapasse o reformismo burguês e proponha uma verdadeira ruptura com o capitalismo.
Entretanto, há, felizmente, os que estão convencidos de que, por mais improvável que pareça, só uma proposta de alteração substantiva na economia, na sociedade e no poder do Estado, terá condições de ser ouvida por uma população cansada de assistir ao fracasso do reformismo. Quando o general De Gaulle conclamou os franceses a lutar contra a ocupação alemã, seu apelo parecia também bastante improvável.
Finalmente, mesmo que a hora do socialismo ainda esteja distante, só a referencia a uma ordem social nova, cujos padrões éticos ultrapassem as prescrições hipócritas da moralidade burguesa, pode evitar que a denuncia ética resvale para o moralismo vazio, voltado apenas para desviar a atenção do público dos problemas de fundo da sociedade.
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