UNE: um congresso problemático
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- 13/07/2007
O Congresso da UNE não deu prosseguimento à rebeldia dos estudantes paulistas, que, no mês passado, ocuparam várias reitorias de universidades para reclamar contra o descaso dos governos com o ensino universitário.
É verdade que a maioria das teses e pronunciamentos foram bastante críticas às políticas do governo. Mas não apresentavam conclusões coerentes com as críticas que as precediam.
A direita, como era previsível, não deixou passar essa incongruência em brancas nuvens. Em um agressivíssimo editorial, o jornal O Estado de São Paulo teve o desplante de escrever que "o supra-sumo da falta de caráter político dos congressistas da UNE foi poupar o presidente Lula enquanto demoliam o modelo que ele não se cansa de louvar".
Poderíamos passar sem esta.
Mas, de quem é a culpa de termos de ouvir, calados, essa insolência da direita, senão o efeito divisionista e dissolvente do governo Lula nos movimentos da sociedade civil?
A UJS (União das Juventudes Socialistas), organização que venceu folgadamente a eleição para a nova direção da entidade, é o braço do PCdoB na UNE e, por isso, não pode criticar o presidente. Triste, não?
As correntes internas do PT, todas elas com representação nas diversas bancadas estaduais que compunham o Congresso, dividiram-se em três pedaços: a Articulação e a DS apoiaram a UJS; O Trabalho, Movimento PT, Articulação de Esquerda e parte da Articulação lançaram chapa própria.
Assim fragmentada, não se poderia esperar da maioria senão a conduta esquizofrênica que ofereceu flanco aberto para a mal intencionada critica do Estadão.
De qualquer modo, não é mesmo um bom sinal esse espetáculo de uma geração de líderes estudantis tão cedo cooptada pela "realpolitik". Mais grave ainda quando se considera que a mocidade reunida em Brasília representava aquela minoria que ainda se preocupa com os problemas do país, numa hora em que a maioria dos universitários preocupa-se apenas em conseguir uma qualificação para conseguir um lugarzinho nas empresas que exploram o Brasil.
Felizmente, do lado da minoria efetivamente oposicionista, formada pelo PSOL, PCB, PCR e outros partidos de esquerda, não faltaram coerência e combatividade. Mas faltou uma coisa muito importante: unidade.
PSOL e PCB formaram uma chapa e PCR saiu isolado. Se tivessem saído juntos, a oposição teria mais membros na nova direção da entidade. Melhor ainda se o PSTU fizesse parte da entidade e somasse seus votos aos dos outros partidos do mesmo campo.
Sem dúvida, está na hora de um grande encontro entre os estudantes do campo do socialismo para superar desencontros do passado - hoje sem maior significado diante das mudanças havidas no panorama mundial e brasileiro - a fim de estabelecer uma estratégia comum de atuação na política estudantil. Não se pode aceitar que uma entidade da importância da UNE deixe de participar do esforço de resistir à reversão colonial e de reestabelecer o entusiasmo pela construção da nação brasileira - autônoma, próspera e justa -, sonho que animou tantas gerações de brasileiros no passado.
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