Golpe de Estado no Paraguai
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- 03/07/2012
Golpe ou auto-golpe? Sim, porque é muito estranho um golpe em que o sucessor era o candidato do deposto à sua sucessão, este que, após deixar o Palácio do Governo, vai tranquilamente para sua casa, onde reúne os seus auxiliares para planejar sua candidatura ao Senado em eleição que se dará daqui a apenas seis meses.
Será mesmo para o Senado a anunciada candidatura do presidente deposto ou, no meio do trajeto, seu sucessor deixará o cargo e a presidência voltará a ser objeto de eleição, desta vez tendo Lugo como candidato?
Os fatos ocorridos até agora indicam que tudo não parece passar de um expediente destinado a provocar um sentimento de simpatia para com um governante cuja popularidade está em baixa e, desse modo, credenciá-lo novamente a obter uma boa votação. Aliás, os protestos da massa popular contra o golpe nas ruas de Assunção são o começo dessa operação de recuperação de prestígio.
A pretensa deposição do presidente Lugo é mais um episódio revelador da extrema fragilidade institucional dos nossos países, sempre sujeitos a golpes de toda natureza. Golpes estes que, invariavelmente, acabam prejudicando o povo e postergando, para calendas gregas, a politização e a participação das massas populares nas decisões políticas.
Do ponto de vista do interesse brasileiro, é preciso assinalar a atitude correta do governo. Ao contrário de Cristina Kirchner que, além de não reconhecer o novo governo, levou o caso à OEA para sancionar o país, a presidenta Dilma preferiu enviar seu ministro de Relações Exteriores a Assunção para auxiliar em negociações que possam restabelecer a vigência das normas democráticas na república paraguaia.
Uma atitude merecedora de aplausos, pois, desse modo, não apenas defendeu o princípio da não intervenção externa em assuntos internos dos países, como impediu que a OEA se imiscuísse nos assuntos internos do Paraguai.
Não nos esqueçamos de que a OEA é, na verdade, organismo auxiliar do Departamento de Estado dos Estados Unidos, com a tarefa de mascarar de ação coletiva a intervenção dos Estados Unidos nos países do continente.
Intervir com a mão do gato? Hoje o Paraguai, amanhã o Brasil. Nada disso!
Comentários
Os argumentos favoráveis à “normalidade” da tramóia são toscos demais para um debate sério. Qualquer arbítrio pode furtar retórica de normas constitucionais, como a “defesa da segurança nacional” que justificou a ditadura militar brasileira e tantas outras pelo mundo. Ainda que houvesse base técnica para as denúncias contra Lugo, ela jamais suplantaria o direito de defesa do presidente e a integridade do seu mandato.
Os defensores do golpe não parecem notar que suas desculpas são imitações ruins das utilizadas pelos governos sul-americanos que eles próprios acusam de autoritários. Ignorando o fato de que Hugo Chávez, Evo Morales e Cristina Kirchner foram eleitos e desfrutam de grande respaldo popular, cada comparação indevida chama atenção para esses humores antidemocráticos que abraçam a legalidade apenas quando serve a projetos obscuros de poder.
A direita brasileira vê em Lugo o adversário ideal, impopular e pusilânime, que o teatro sufragista manipula e descarta ao sabor das conveniências. É tudo que Lula poderia ter sido e não foi. Nos primeiros anos de governo petista, a mídia demotucana urdiu silenciosamente sua ruína, certa de que chegaria o momento de esmagá-lo em circunstâncias muito parecidas. O julgamento do chamado “mensalão” é uma herança daquele período nebuloso e símbolo máximo da frustração dos nossos conspiradores.
Que se exponham, portanto, corroborando o que sempre dissemos a seu respeito.
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