Um abuso injustificável
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- 18/09/2012
Seu vigário não perdoa: seis horas da manhã é hora de tocar o sino, a fim de acordar os fiéis para assistir a missa. Trata-se de um hábito muito antigo, que está se perpetuando no tempo.
Na era medieval, justificava-se esse despertar coletivo. Naquele tempo, as cidades eram bem menores que as de hoje, a maioria da população trabalhava no campo, onde se acorda muito cedo, e praticamente todos os habitantes eram católicos.
Hoje, esse hábito não se justifica, pois a realidade atual é muito diferente. Poucos habitantes das cidades trabalham no campo, acorda-se mais tarde e, sobretudo, a maioria das pessoas não é religiosa.
Despertar pessoas que não partilham a fé católica constitui evidente violação do seu direito de acordar na hora em que bem entendam.
Não é só aí que a Igreja Católica comete abusos. Dentre estes, convém assinalar o afã de colocar crucifixos e outros símbolos religiosos em prédios públicos.
O Estado brasileiro é laico e a Constituição estabelece a separação entre a religião e o Estado. Portanto, esses símbolos, colocados onde estão, ferem a lei.
Se os católicos podem colocar seus símbolos religiosos em prédios públicos, por que razão as outras religiões não podem fazê-lo?
Imagine-se como ficariam esses prédios se todas as religiões pudessem colocar seus símbolos em suas paredes.
Cabe, porém, uma pergunta em relação a este assunto: por que ninguém reclama?
A resposta foi dada pelo senador Nelson Carneiro, o célebre autor da emenda que instituía o divórcio no Brasil.
Durante a Constituinte, o deputado José Genoino tomou a peito a retirada do crucifixo dos plenários da Câmara e do Senado.
Nessa lida, procurou o veterano senador, na certeza de obter a assinatura. Foi então que Nelson Carneiro lhe disse: “Ah! Meu filho. Não vou assinar isso aí de jeito nenhum. Eu passei a vida inteira brigando com ele. Você acha que eu teria coragem de brigar com ele, logo agora, na horinha de ir embora?”.
Os hierarcas da Igreja Católica deveriam lembrar-se de que o próprio Cristo era uma figura humilde, que não gostava de se impor. Mesmo quando entrou em Jerusalém, aclamado pelas multidões, o fez montado em um modesto jumento.
Seguindo o exemplo do mestre, certamente atrairiam mais gente para a Igreja do que usando das relações que a Igreja mantém com o poder político para impor condutas contrárias a desejo legítimo das pessoas.
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