Na contramão das ruas
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- 12/07/2013
O palavrório dos políticos de que a “bronca geral” das ruas tem seu aspecto positivo e é até bem-vinda poderia parecer um humilde reconhecimento da necessidade de retificar caminhos e rever atitudes. Definitivamente, não é o que está acontecendo.
Os jovens que foram às ruas bradam por uma radical inversão na política pública. Exigem que as necessidades fundamentais da população sejam consideradas como prioridade número um do Estado.
Contudo, as medidas concretas tomadas pelas autoridades econômicas – aumento do corte de gasto público para reforçar o superávit primário e elevação da taxa de juros – caminham na direção inversa. Em pânico com a possibilidade de que a mudança na política monetária norte-americana possa desencadear um movimento de fuga de capitais, o governo Dilma desdobra-se para recolocar o Brasil como paraíso idílico da especulação internacional. Como os fundos públicos são finitos, os recursos destinados aos credores do Estado são os mesmos que poderiam ser utilizados para financiar a melhoria da educação, saúde, transporte, habitação, segurança etc.
As centrais sindicais que aproveitaram a onda de protestos para, tímida e constrangidamente, manifestar contra os recorrentes ataques aos direitos dos trabalhadores pleiteiam redução da jornada de trabalho e fim do fator previdenciário.
No entanto, o Planalto e o Legislativo conspiram no sentido oposto. As medidas anunciadas pelo Executivo de desoneração da folha salarial são uma sangria nos cofres da Previdência Social. O projeto de lei que diminui a multa pela demissão sem justa-causa de 10% do saldo do FGTS, aprovado na calada da noite por unanimidade, reforça a renúncia de recursos para-fiscais. No momento em que a conjuntura econômica coloca no horizonte o espectro de demissões em massa, a redução do custo de demissão induz a um aumento na rotatividade do trabalho – um eficiente mecanismo de arrocho salarial.
Por fim, enquanto as ruas do Brasil clamam por decência e responsabilidade no trato dos recursos públicos, o presidente do Senado voa em jatinho da FAB para um convescote com seus pares em Porto Seguro; o presidente da Câmara requisita um avião público para levá-lo, em companhia da namorada, para assistir à final da Copa das Confederações; o Presidente do Supremo viaja, às custas do erário, para o Rio, sabe-se lá para quê; ministros de Dilma mantêm a rotina de, sem mais nem menos, requisitar jatinhos para assuntos particulares; e o governador Alckmin, que vinha do anúncio de medidas de austeridade e demissões de funcionários públicos, utiliza helicóptero oficial para receber a família que chegava de viagem no exterior em Guarulhos. Um escárnio.
O establishment político parece não acreditar que o povo tenha vencido a letargia e esteja de fato disposto a mudar o Brasil. Interpreta as manifestações como uma catarse generalizada que em breve se esgotará por si mesma. Passa ao conjunto da população indignada a lição de que a próxima “bronca” terá de vir com força redobrada. Tempos turbulentos se vislumbram no horizonte!