Eólicas ou Hidrelétricas?
- Detalhes
- Rogério Grassetto Teixeira da Cunha
- 17/04/2007
Diversos artigos já foram
escritos censurando o Pacote de Aceleração do Crescimento (PAC) por preverem
fortes impactos negativos sobre o meio ambiente, pelo plano não focar ações de
desenvolvimento que sejam compatíveis com preservação e por não aproveitar
algumas oportunidades que se abrem ao Brasil neste momento, relacionadas ao
mercado de carbono. Pois bem, aqui, e ao longo das próximas semanas, traçarei
as linhas gerais de um plano alternativo, o Pacote Ecológico de Crescimento
(PEC), no sentido de conseguir os objetivos delineados no PAC, mas de forma a
agredir muito menos o meio ambiente. Para começar, focarei o tema específico da
energia elétrica, um dos assuntos preferidos da mídia no momento, com
freqüentes e inflamadas declarações sobre a necessidade de aumento de oferta
energética para o crescimento.
No PAC, afirma-se que vai haver um investimento de R$ 78,4 bilhões no setor de
energia elétrica (entre geração e transmissão), planejando-se incorporar 12.300
megawatts (milhões de watts - MW) até 2010 e mais 27.420 previstos após esta
data. Dentre os investimentos presentes e futuros estão as criticadas
mega-usinas na região amazônica, duas no rio Madeira (Jirau e Santo Antônio) e
uma no Xingu (Belo Monte), além de uma grande quantidade de outras usinas pelo
país afora. Outros cerca de R$ 179 bilhões serão investidos no setor de
petróleo e gás natural (na contramão do clamor mundial por uma redução no
consumo de combustíveis fósseis).
Olhando-se outras fontes renováveis de energia (além da hidrelétrica),
percebe-se que conseguiríamos obter valores bastante significativos de oferta
elétrica com investimentos similares. Tomando-se a energia eólica, por exemplo,
cálculos feitos pelo Centro de Referência para Energia Solar e Eólica Sérgio de
Salvo Brito (CRESESB) indicam um potencial total para o Brasil de 143,5
gigawatts (bilhões de watts - GW), ou seja, mais de 10 vezes o que se quer
incorporar até 2010. Mesmo imaginando-se o aproveitamento de apenas 10 % deste
total já teríamos 14.350 MW, mais do que o planejado para os próximos quatro
anos.
E quanto aos custos? O Centro Brasileiro de Energia Eólica (CBEE), localizado
na Universidade Federal de Pernambuco, estima que, com o crescimento de
investimento no setor, ele pode ser competitivo, podendo gerar energia a US$
70-80 por MWh, ainda mais se considerarmos, alerta o CBEE, que o custo de
implantação de usinas na Amazônia será muito alto. De acordo com a empresa
privada Koblitz, responsável pela implantação de diversos projetos de
aproveitamento termelétrico de bagaço de cana no Brasil, o custo da implantação
da energia eólica giraria em torno de US$ 1.000 por quilowatt (mil watts – kw).
Já para as usinas hidrelétricas seria o dobro deste valor, com US$ 1.000 por kw
para a implantação e valor igual para a transmissão e distribuição
(aparentemente, a geração distribuída das fontes ditas alternativas produz
menos custos de transmissão e distribuição). Se estes valores estiverem certos,
para implantar um parque de geradores eólicos no país, capazes de produzir os
desejados 12.300 MW, necessitaríamos de um investimento de R$ 12,3 bilhões,
mais os necessários para os projetos no setor de transmissão, valores
perfeitamente dentro do previsto para o setor.
E isto ficando em somente um dos tipos de energia renovável não-hidrelétrica.
Mas há outros, como a geração de eletricidade via solar (e energia solar temos
de sobra), por meio de painéis fotovoltaicos, a redução da demanda por
eletricidade com o aquecimento solar de água (processo distinto da geração de
eletricidade), a construção de pequenas centrais hidrelétricas, menos
impactantes que as grandes usinas, e a produção de eletricidade por termelétricas
movidas a queima de biomassa. Além disso, poderíamos ter uma redução da demanda
futura se planejássemos o crescimento do país investindo em setores industriais
e de serviços que demandassem menos energia por real produzido (ou por emprego
gerado).
Dada a compatibilidade de custos, fico me perguntando quais seriam os motivos
desta insistência no modelo hidrelétrico que, apesar de suas inúmeras vantagens
em relação às termelétricas, nos traz também uma grande série de problemas
ambientais e sociais. Imaginei que há duas respostas possíveis e elas não se
excluem. Os tomadores de decisão dentro do governo podem simplesmente não estar
informados sobre este potencial e sobre a viabilidade. Seria uma questão de
ignorância. Por outro lado, a construção de usinas envolve enormes interesses
econômicos de empreiteiras, um seleto grupo de empresas que sempre tiveram
fortes ligações com o poder, e estas ligações não têm a melhor das famas. Aí
seria um problema muito mais sério que falta de conhecimento: não querer ou
poder confrontar interesses poderosos.
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