Correio da Cidadania

A mentira sobre o potencial energético

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4. A mentira energética, o embrulho dos dados econômico-financeiros, e a “ficha suja” de quem inventou e promoveu o projeto.

 

O ponto mais forte do ufanismo criado em torno do projeto Belo Monte é a sua capacidade elétrica, ou, na linguagem preferida dos engenheiros, a sua potencia instalada, de 11 milhões de kilowatts , ou 11 mil Megawatts, o que a tornaria a 2a. mais possante instalada no Brasil. Como a usina de Itaipu é bi-nacional, o ufanismo se completa “ a maior inteiramente brasileira!”. Para ficar raciocinando apenas nas proporções entre as coisas, chama a atenção que o rio Paraná é bem maior, com uma bacia mais extensa, quase três vezes maior do que a do Xingu e em Itaipu foram instalados inicialmente 12.600 MW, somente 14 % a mais do que se pretende instalar em Belo Monte! Em compensação, ao chegar em Itaipu a água do Paraná está toda regularizada por dezenas de represas rio acima, e raramente a vazão é menor do que 1.500 metros cúbicos por segundo, enquanto no Xingu, Belo Monte seria a única usina, já no final do rio, sem qualquer regularização, e a vazão nas temporadas mais secas cai sempre abaixo de 1.000 metros cúbicos por segundo, e as vezes cai abaixo de 500 metros cúbicos!!! Bem, pode ser que na bacia do Xingu chova mais, aí a vazão do rio seria maior; de fato, no pico da cheia, o Paraná ultrapassa os 20 mil metros cúbicos por segundo, e o Xingu pode ultrapassar os 25 mil metros cúbicos por segundo.

 

Vejamos o que conta mesmo para a potencia de uma usina é a multiplicação da vazão do rio pela altura da queda a ser criada pela barragem, e aí de novo, a surpresa: a queda em Itaipu é de 120 metros, e em Belo Monte não passa dos 90 metros!

 

Ora, a primeira coisa que se precisa saber, num caso como esse, é se de fato o rio oferece toda essa força hidráulica e durante quanto tempo durante o ano. Os dados históricos de vazão do rio Xingu são presumidos, obtidos por comparação com o rio Tocantins, pois no Xingu as medições são muito recentes, e com base neles as empresas fazem previsões de que a dita “energia firme” nos anos futuros passará de 4.500 MW. Usando a mesma base de dados, pesquisadores da Engenharia Elétrica da Unicamp simularam o quanto essa usina teria produzido se ela já existisse nos últimos 70 anos, e concluíram que a potencia assegurada máxima nos meses secos, teria sido da ordem de 1.300 MW. [No livro Tenotã Mõ, 2005, registramos todas as fontes de informação, os detalhes técnicos e as referencias do modelo “Hydrolab”, utilizado pelos pesquisadores Marcelo Cicogna e Secundino Soares Filho, da FEEC/Unicamp].

 

Tem algo de muito errado no projeto da usina Belo Monte, provavelmente trata-se de uma mentira energética das grossas: parece que decidiram colocar um motor de Formula-1 num carro comum de passeio. Se concretizarem a besteira, várias maquinas enormes, de 550 MW cada uma, com turbinas que engolem mais de 600 mil litros por segundo ficarão paradas por vários meses, e pode acontecer de não haver água suficiente para virar nenhuma máquina!

 

Quando a história mal contada começou a ser descoberta, aí o “pai da criança”, engenheiro Muniz Lopes inventou outra, para desviar o foco: a usina Belo Monte ficaria ligada no Sistema Interligado Nacional e haveria uma compensação desse período muito seco no Xingu, por que o período do ano seria o oposto do período seco nos demais rios brasileiros. Ora, o Xingu nasce no mesmo Planalto Central que os rios Tocantins, São Francisco, e boa parte dos formadores do Paraná, e todos eles enchem de novembro em diante até março/abril e depois esvaziam. Pode sim, existir uma diferença de, no máximo um mês e pouco, por exemplo, em relação ao rio Iguaçu ou ao rio Uruguai, que nascem na Serra do Mar e passam por uma região mais próxima do Oceano. Agora “períodos opostos” entre os ciclos hidrológicos do Xingu e dos demais rios brasileiros é outra mentira, propalada pelos mentirosos de sempre !

 

Qual a destinação prevista da energia elétrica a ser ali produzida? Eis a pergunta óbvia que qualquer cidadão interessado faz. As respostas variam conforme a ocasião. Em 2001, quando ressuscitaram o projeto, diziam que era a fórmula salvadora contra o apagão. De lá para cá, continua sendo, “para evitar um novo apagão”. Mas dizem também que seria para garantir a futura expansão econômica brasileira, para gerar empregos na Amazônia, para desenvolver todo o pais para sempre, etc.

 

Entretanto, quase nunca deixam escapar que a eletricidade, que seria farta e barata, seria destinada para a ampliação aqui, no Pará, da industria mineral-metalúrgica internacional, devoradora de energia. Para aqueles brasileiros que ainda acham que na economia da Amazônia só pesam a madeira de lei, o gado, a soja, é bom registrar que já estão instaladas ali por perto do projeto Belo Monte, entre o leste do Pará e a metade Oeste do Maranhão: a maior mina de bauxita do mundo (MRN, em Oriximiná) e está sendo aberta a segunda maior (Jurutis, perto de Santarém), a maior fabrica de alumina, Alunorte, na região de Abaetetuba, no baixo Tocantins, as duas maiores fundições de alumínio, a Albrás também em Abaetetuba e a Alumar, na Ilha de São Luis, Maranhão, mais a maior concentração de grandes minas metálicas do mundo atual, nas Serras de Carajás: minérios de ferro, de cobre, de manganês, de níquel, industrias de concentração de cobre e de níquel, alem de médias siderúrgicas, que fazem ligas de ferro com outros metais, e os pequenos fornos de ferro-gusa. Quase todas essas empresas são estrangeiras ou de maioria estrangeira, quase toda essa produção é exportada, a preços bem vantajosos, para os chineses, japoneses, europeus e norte-americanos. Tudo isso consome muita eletricidade vinda pelos linhões da usina de Tucuruí.

 

É isso que se pretende multiplicar por três, quatro vezes, em pouco tempo, e para isso serviria a eletricidade do Belo Monte. Ao concretizar esses planos dos grandes trustes mundiais da mineração e metalurgia, também se garante a continuidade das rendas e do poderio da máfia comandada pelo ex-presidente Sarney, de seus filhos, de sua filha e seu genro e mais uma dúzia de apadrinhados, como o Ministro Lobão e o presidente Muniz Lopes da Eletrobrás.

 

“Honoráveis bandidos”. Foi o titulo escolhido pelo jornalista Palmério Dória para o livro que lançou em Setembro de 2009 sobre essa máfia, cuja alavanca principal é o dinheiro público, como lemos nas páginas 47 e 45 desse livro: “Quando foi criado o programa Grande Carajás, com jurisdição sobre o Pará e o Maranhão, criou-se também um mecanismo de incentivo fiscal que permitiu à Camargo Correa em vez de pagar imposto sobre esse superlucro ( da construção de Turucuí e outras grandes obras na região) , aplicar no projeto Alumar, na ilha de São Luis. O truque beneficiou a principal controladora da empresa, a (norte-americana) Alcoa, que não precisou botar dinheiro no negócio... A Alumar recebeu um contrato de energia semelhante ao da Albrás, fazendo jus a um desconto bem camarada. O valor do subsidio, de 2 bilhões de dólares permitiria comprar uma fábrica nova.” Ao entrevistar um historiador maranhense, o autor do livro registra o depoimento esclarecedor: “Todos os contratos, de 20 anos de duração, da Alumar que movimenta 430 milhões de dólares anualmente foram negociados por agentes de Sarney...Quando a Alumar anunciou a última expansão dela aqui em 2007, o anúncio da empresa foi na casa de Sarney. Fizeram uma festa lá na residência do chefe oligarca, na Praia do Calhau, pra dizer que a Alumar prestigia a família e agradece por seus honrados serviços.” [“Honoráveis Bandidos – um retrato do Brasil na era Sarney”, da Geração Editorial:São Paulo, 2009] –

 

O grande empecilho, no caso do projeto Belo Monte, que tinha “tudo para dar certo” não é ambiental , nem os índios, como diz a imprensa propositadamente, e sim as contas: quando começam a fazê-las, aí a mentira apareceu de novo. Por exemplo, desde 1980 lá no CNEC e no primeiro Inventário Hidrelétrico do rio Xingu afirmavam que o custo de investimento da primeira usina, a antiga Kararaô estava na faixa de 350 dólares por kilowatt instalado, enquanto na segunda usina projetada, Babaquara seria de mais de 900 dólares por kW instalado. Para comparação, sabemos que Tucuruí custou pelo menos dois mil dólares por kW instalado. Vejamos, para confrontar com este alegado “baixo custo” de Belo Monte, alguns números típicos recentes: em 2003 foi inaugurada Itapebi, uma hidrelétrica de porte médio, num rio bem menor (Jequitinhonha, no Sul da Bahia), com um canteiro de obras que fica na beira do asfalto da BR-101, a poucas horas de caminhão das fábricas de aço, de cimento, de equipamentos, de dois grandes portos marítimos (Vitória e Ilhéus). Essa usina, bancada com capitais do fundo de pensão Previ e do grupo europeu Iberdrola, tem uma única barragem convencional, uma represa com área de 60 km2; foram instalados 450 Megawatts, com um custo de investimento da ordem de 500 a 550 dólares por kW instalado.

 

Quando em 2008, começaram a acelerar os preparativos para licenciar Belo Monte e colocar a energia futura em leilão, diziam que o investimento total para uma usina com capacidade de 11 mil Megawatts seria de 7 bilhões de reais. Ou seja, aproximadamente 3,5 bilhões de dólares, o que daria, grosso modo, o mesmo índice de vinte anos atrás, 350 dólares por kW! Como é possível o projeto Belo Monte ter um índice de investimento mais barato do que Itapebi, ficando onde fica, longe de quase tudo, ligado por estradas péssimas e por um longo trajeto fluvial ao restante do país, e com tantas características distintas de uma obra convencional ??? É a mentira, de novo!

 

Ninguém sabe o custo provável e justificado de Belo Monte, essa é a realidade! Vejamos a noticia do caderno de Economia de um dos mais importantes jornais: “Mais do que questões ambientais, uma queda-de-braço entre governo e setor privado pode se tornar o principal empecilho para que a usina de Belo Monte, no Pará, saia do papel. Enquanto o Ministério de Minas e Energia estima que o custo da obra gira em torno de R$ 16 bilhões, os empresários asseguram que o empreendimento vale, no mínimo, R$ 30 bilhões. Esta discrepância foi demonstrada em reunião, ontem, entre o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e representantes das associações brasileiras das indústrias de Base (Abdib), de Máquinas (Abimaq) e Eletroeletrônica (Abinee). Segundo um dos presentes, o novo valor da usina "chocou" os empresários. Eles alertaram que a discrepância de preços torna mais difícil a elaboração de uma equação financeira, para que finalmente a data da licitação de Belo Monte seja marcada – [ extraído de O Globo, 29/7/09, Economia, p.23].

 

Poucos dias depois, o presidente da Eletrobrás, o tal “pai da criança”, jogou a toalha e resolver esculhambar de vez, comentando publicamente que o índice de custo de investimento ficaria ... entre 1.000 e 3.000 dólares / kW !!!!

 

Que os mentirosos tentem enganar os que serão prejudicados, como vimos na questão das áreas alagadas, do total de pessoas atingidas, é fato sabido, e não somente no Pará, é fenômeno mundial. Agora, que tentem enganar os financiadores da obra é muita pretensão, ou melhor, soberba! Mesmo assim, ainda podem acontecer várias coisas:

 

1)- os barrageiros fundamentalistas conseguirem enganar um consórcio de bancos internacionais, e obter deles o financiamento! Seria a dinheirama realmente gasta na obra? E se a obra ficasse pronta, daria lucro, pra quem? Ao que se sabe, a energia é para ser despachada bem baratinho para as fundições de alumínio, cobre e níquel, e assim a usina jamais poderá ser paga e aqueles bancos vão falir, e o capitalismo vai desmoronar.

 

Dá para acreditar? Claro que não, por isso, a segunda possibilidade é :

 

2) o atual governo Lula, aquele em que mandam mesmo os grandes capitais representados pelo ex-presidente Sarney, já ordenou que o BNDES, que trabalha basicamente com o dinheiro dos trabalhadores, o FAT, financie 70% do investimento total, com juros módicos e longos prazos de amortização. O atual presidente do BNDES, o refinado professor de Economia Luciano Coutinho já disse que obedece à estranha ordem, apesar de que os dados técnicos e econômicos detalhados do projeto Belo Monte nem tenham sido analisados com o devido rigor por seus funcionários – coisa que qualquer gerente do banco da esquina faz com nossos pedidos de financiamento.

 

Ou então... a terceira possibilidade, inusitada porém não absurda para empresas que sempre estão mexendo com minérios e com metais e pedras preciosas:

 

3) o dinheiro da venda de eletricidade não vai interessar, pode até dar prejuízo, por causa dos contratos lesivos que se fazem com as indústrias consumidoras eletro-intensivas, mas... os que estão melhor informados estão apostando que, no trecho seco da Volta Grande do Xingu, e no rastro da dinamite, das moto scrapers e escavadeiras da Camargo Correa e da Odebrecht, serão retiradas milhares de toneladas de ouro, como aliás já está ocorrendo nas lajes rochosas do leito do imenso rio Madeira, onde prosseguem os canteiros das obras das usinas Santo Antonio e Jirau.

 

Nesse caso, seria também mentirosa toda essa pressão desde 1980 pra fazer o Kararaô e depois o Belo Monte para garantir o suprimento de energia para o país? Vejamos, novamente, quem propaga o argumento, para depois gastarmos o cérebro com o argumento em si. É fato demais sabido por quem acompanha a vida política brasileira nos últimos trinta anos – como o jornalista Palmério Dória, autor do livro aqui mencionado - que a Eletronorte tem seus cargos diretivos preenchidos por indicação do ex-presidente Sarney que os dividia com os políticos paraenses. Algumas das carreiras mais sólidas dos eletrocratas brasileiros ali se fizeram: o diretor de Engenharia em 1989, Jose Antonio Muniz Lopes, famoso por ter tido as bochechas tocadas pelo terçado da índia Tuira em Altamira, foi posteriormente presidente da mesma empresa e recentemente, se tornou presidente da Eletrobrás. Outro indicado, também engenheiro, Silas Rondeau Cavalcanti, foi sucessivamente presidente da Eletrobrás ( quando o acordo de Lula com Sarney praticamente expeliu da presidência o professor Pinguelli Rosa, que vinha há décadas assessorando Lula nos assuntos energéticos ) e depois Ministro das Minas e Energia, quando a então ministra Dilma Roussef dali saiu para ocupar a Casa Civil.

 

Escreve o jornalista Palmério Dória, ao comentar as manobras de Fernando Sarney para cobrar judicialmente da estatal maranhense CEMAR a módica soma de 200 milhões de reais: “Pelo que se depreende, a mina do Sarney é o (filho) Fernando? É o Fernando, é o setor energético, a galinha dos ovos de ouro. Silas Rondeau foi indicado para o MME por quem? Sarney. Edison Lobão, o sucessor depois que Rondeau caiu pela mixaria de 100 mil reais (mensais), foi indicado por quem? Sarney. Eles mandam no Ministério que manda na Petrobrás. Estão com a parte do leão do orçamento brasileiro”.

 

Desde 2005, quando o chamado “mensalão” quase derrubou o 1o. governo Lula, que os cargos nas estatais elétricas vem sendo loteados entre sarneysistas, paloccistas do então ministro da Fazenda, e os indicados do deputado Roberto Jefferson, ainda hoje dirigente do PTB. Aliás, foi noticiado em 13 de julho de 2008, pelo jornal O Estado de São Paulo, pág. 10A que a Eletronorte tinha sua “conta de publicidade” milionária operada desde 2001, por uma agência em Belo Horizonte, a DNA, pertencente ao então recente bandido - estrela da vida política nacional, o publicitário mineiro Marcos Valério.

 

Novamente o jornalista Dória, mencionando o relatório da Polícia Federal, de 17.08.2008 enviado à Justiça Federal do Maranhão sobre a “organização criminosa chefiada por Fernando Sarney”, conclui que o relatório não deixa qualquer dúvida: ... “qualquer rolha de concreto, qualquer barragem nas hidrelétricas brasileiras pagava pedágio a Fernando Sarney. Quando José Sarney fazia discurso no Senado ( obs. em Julho de 2005, como relator do decreto legislativo que autorizava o governo a prosseguir com o projeto Belo Monte) dizendo que Belo Monte, no rio Xingu, na terra dos caiapós, vai ser a redenção da Amazônia, pode ficar certo de que, muito antes que as comportas se fechem, a alegre turma do Fernando já entrou em campo, faturando.”

 

Ou será tudo mentira? Quatro meses depois, voltaram a mencionar os indícios de conluio; puseram o ministro Palocci no alvo, e uma das flechadas era a presença de seu irmão Ademar na diretoria de Engenharia, a mais importante da Eletronorte. Pelo menos, assim ficamos sabendo quem foram os inspiradores e os marqueteiros das campanhas de mistificação sobre as usinas de Balbina, Tucuruí, Samuel, e do verdadeiro assédio sobre a opinião pública durante anos, buscando o convencimento sobre Belo Monte, promovidas pela Eletronorte e reforçadas pelos políticos paraenses e altamirenses, ávidos pelo seu quinhão... Antes, eram barrageiros somente os da “situação”, agora, são todos, quase sem exceção!

 

Em 2009, parece que o castelo na areia começou a se desmanchar, pois os empresários fabricantes de equipamentos começaram a perceber que as encomendas não estavam assim tão garantidas. Num evento tipicamente de “lobistas”, organizado pela agencia de noticias empresariais Canal Energia, o presidente da poderosa Associação Brasileira de Desenvolvimento das Indústrias de Base – ABDIB acendeu o sinal amarelo: “O financiamento tem que ser equacionado em decorrência dos volumes de recursos envolvidos. "[Tem-se] estabelecer as regras de financiamento devido ao volume de recursos", observou. Agentes de mercado calculam em cerca de R$ 20 bilhões o custo da usina. A questão do risco geológico depende de uma conciliação de pontos de vista, aponta. "EPE e Aneel têm uma percepção do risco geológico que muitos agentes não têm. Nossa tarefa é firmar essas percepções", afirmou Godoy. [Acessado em 26 de agosto de 2009 : http://www.canalenergia.com.br/zpublisher]

 

Uma outra agencia de noticias totalmente comprometida com os interesses da grande indústria – a do jornal Valor Econômico, uma associação entre a Folha de São Paulo e o Globo - não consegue disfarçar a embrulhada em que se meteram. Coloca uma chamada factóide na matéria, forçando o cronograma contra a evidencia dos fatos, mas, dentro da matéria, tenta destrinchar o embrulho: “ Para a realização do leilão, além da licença prévia, é preciso que o Tribunal de Contas da União se manifeste. Segundo fontes da ANEEL, a parte de análise técnica que cabe à agência já foi enviada ao TCU, em julho. Mas a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) ainda não entregou ao tribunal a análise de viabilidade econômica, onde o preço teto do leilão é estabelecido. Isso porque a Agência Nacional de Águas ainda não publicou a outorga dos recursos hídricos do rio Xingu na região de Belo Monte. Sem isso não é possível afirmar a quantidade exata de energia assegurada do empreendimento - ou seja, a energia efetivamente gerada durante um ano. Há problemas, portanto, para que o leilão aconteça ainda em 2009, já que o TCU exige 60 dias para esta análise. [extraído de “Licença prévia de Belo Monte pode sair ainda em outubro”, em www.valoronline.com.br/ acessado em 05/10/2009]

 

O lance mais ousado, contudo, só veio à tona no meio do mês de Outubro de 2009, quando os capitalistas – que tanto gritam pela redução do Estado e dos impostos ...- agora querem, alem do generoso financiamento do BNDES, que o Tesouro Nacional desembolse para garanti-los contra os riscos inerentes do negocio. Que, como se sabe e sempre foi escondido, são bem altos. O argumento hipócrita é de que os seus maiores projetos, suas miragens de um lucro cada vez maior, seriam de interesse estratégico do Estado nacional. Vejamos o noticiário da mesma agencia “lobbista”: “A reivindicação foi lançada pelos empreendedores interessados no projeto e a Casa Civil tem intermediado as negociações entre os diversos agentes envolvidos. Alguns administradores importantes da Casa Civil e do BNDES gostam dessa idéia pois, com o governo assumindo esse risco, a concorrência no leilão estaria garantida. Basicamente a proposta é que o Tesouro faça um empréstimo ao BNDES com condições estabelecidas em contrato que reflitam a assunção do risco pelo governo. O BNDES, por sua vez, replicaria estas condições à concessionária que estiver à frente de Belo Monte. Desse modo, o banco estaria com sua exposição neutralizada e os investidores isentos de assumir riscos como, por exemplo, uma decisão judicial que paralise as obras por questões de licenciamento ambiental. ...Mais preocupante ainda são os riscos geológicos do projeto, já que terão der ser feitas escavações gigantescas para viabilizar o desvio do rio... Se alguns destes riscos se concretizar, o prejuízo para os investidores seria muito grande. Um dos grupos que mais ativamente usa sua influência para defender essa questão frente ao governo é a Odebrecht. E a pressão não começou agora, por causa de Belo Monte. Já para os leilões das usinas do Madeira - Santo Antônio e Jirau, quando a empresa decidiu atuar não só como construtora mas também como investidora - os executivos da empresa argumentaram com o governo de que ele deveria assumir que obras de infra-estrutura são "projetos de Estado" e que, portanto, é o governo que tem que assumir riscos que fogem ao controle dos empreendedores [Extraído de www.valoronline.com.br/ “ Tesouro poderá garantir usina de Belo Monte”, SP 16.10.2009]

 

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