Correio da Cidadania

Estados Unidos: a chance dos democratas com Kamala Harris

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This combination photo shows Republican presidential nominee former President Donald Trump at an event, Aug. 15, 2024, in Bedminster, N.J., left, and Democratic presidential nominee U.S. Vice President Kamala Harris at a campaign event in Raleigh, N.C., Aug. 16, 2024. (AP Photo)
A desistência do presidente Joe Biden de concorrer à eleição e a sua substituição por Kamala Harris renovaram a disputa de novembro à Casa Branca. Embora tardia a alteração dos democratas, seus efeitos fizeram-se sentir logo, ao abater a confiança dos rivais republicanos, seguros até então da visível fragilidade do primeiro postulante.

Conquanto a troca de nome fortaleça a agremiação democrata no plano interno, no externo, ela ainda não influenciou o andamento de temas preocupantes como o da continuidade das confrontações no Oriente Médio e no Leste da Europa. Nas duas, a perspectiva é de alargar o conflito, não de interrompê-lo, a despeito das perdas humanas e dos custos materiais.

Colocada a dramática situação, questiona-se a ascendência dos Estados Unidos sobre o destino de seus aliados. O inquestionável apoio de Washington a Kiev e a Telavive não tem sido capaz até o momento de favorecê-los de maneira terminante. Em um, a guerra se estende há mais de dois anos e no outro aproxima-se de um.

Em sendo período de pleito presidencial, vem à baila com maior intensidade reflexão sobre o papel dos Estados Unidos na política internacional. Com a vitória na bipolaridade há três décadas e meia, o país se fixaria como o guardião da ordem capitalista. Assim, toda tentativa de desestabilizar o sistema aos olhos da Casa Branca deveria ser contida de imediato. Por isso, o envio de efetivos em largas passadas ao Iraque, antigo aliado, em 1991.

O ingresso dos democratas com Bill Clinton no lugar dos republicanos de George Bush a partir de 1992 não suspenderia o agir belicista ao redor do planeta. A catastrófica intervenção na antiga Iugoslávia seria um exemplo. A nação considerava-se nas palavras de Madeleine Albright, titular do Departamento de Estado no segundo mandato do dirigente, ‘indispensável’ - https://1997-2001.state.gov/statements/1998/980219a.html

Com o retorno republicano, sob a pesada batuta de George Bush Jr., a utilização da força como ferramenta da política exterior manteve-se e se ampliaria ao promover sem hesitação dois conflitos: o do Afeganistão na esteira do atentado terrorista de setembro de 2001 e meses depois o do Iraque no alardeio injustificado de ser ele detentor de armas de destruição em massa.

A eleição de Barack Obama aparentava ser a fase de recolha de tropas em solo médio oriental e cercanias e de reflexão sobre a atuação corroída de Washington desde o encerramento da rivalidade amero-soviética.

O Nobel da Paz conceder-lhe-ia no alvorecer da gestão condições para tanto. Seria guardadas as devidas proporções como na época de Jimmy Carter, ao assumir o país pouco tempo após a saída dos contingentes do Vietnã. Parte seria implementada pelo governante, porém, seria insuficiente diante dos anseios da sociedade em prol de mais diplomacia e menos forças armadas e acarretaria desta forma frustração.

Donald Trump e Joe Biden não iniciariam guerras de modo direto; todavia, o último se relacionaria com duas, a despeito de não ter sido o promovedor. Contudo, ele seria, na visão dos envolvidos, patrocinador de um dos lados e, por conseguinte, com capacidade de abreviar a duração da contenda.

Na prática, seu governo leva a prolongá-las, com elevação do sofrimento e da angústia nas áreas em combate e nas conexas com elas e, ao mesmo tempo, com corrosão do próprio prestígio perante as demais potências. Portanto, o mundo aguarda com ansiedade o desfecho do pleito de novembro, uma vez que pode haver a correção de rumo da política externa.

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Virgílio Arraes

Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.

Virgílio Arraes
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