Estados Unidos: a chance dos democratas com Kamala Harris
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- Virgílio Arraes
- 21/08/2024
A desistência do presidente Joe Biden de concorrer à eleição e a sua substituição por Kamala Harris renovaram a disputa de novembro à Casa Branca. Embora tardia a alteração dos democratas, seus efeitos fizeram-se sentir logo, ao abater a confiança dos rivais republicanos, seguros até então da visível fragilidade do primeiro postulante.
Conquanto a troca de nome fortaleça a agremiação democrata no plano interno, no externo, ela ainda não influenciou o andamento de temas preocupantes como o da continuidade das confrontações no Oriente Médio e no Leste da Europa. Nas duas, a perspectiva é de alargar o conflito, não de interrompê-lo, a despeito das perdas humanas e dos custos materiais.
Colocada a dramática situação, questiona-se a ascendência dos Estados Unidos sobre o destino de seus aliados. O inquestionável apoio de Washington a Kiev e a Telavive não tem sido capaz até o momento de favorecê-los de maneira terminante. Em um, a guerra se estende há mais de dois anos e no outro aproxima-se de um.
Em sendo período de pleito presidencial, vem à baila com maior intensidade reflexão sobre o papel dos Estados Unidos na política internacional. Com a vitória na bipolaridade há três décadas e meia, o país se fixaria como o guardião da ordem capitalista. Assim, toda tentativa de desestabilizar o sistema aos olhos da Casa Branca deveria ser contida de imediato. Por isso, o envio de efetivos em largas passadas ao Iraque, antigo aliado, em 1991.
O ingresso dos democratas com Bill Clinton no lugar dos republicanos de George Bush a partir de 1992 não suspenderia o agir belicista ao redor do planeta. A catastrófica intervenção na antiga Iugoslávia seria um exemplo. A nação considerava-se nas palavras de Madeleine Albright, titular do Departamento de Estado no segundo mandato do dirigente, ‘indispensável’ - https://1997-2001.state.gov/statements/1998/980219a.html
Com o retorno republicano, sob a pesada batuta de George Bush Jr., a utilização da força como ferramenta da política exterior manteve-se e se ampliaria ao promover sem hesitação dois conflitos: o do Afeganistão na esteira do atentado terrorista de setembro de 2001 e meses depois o do Iraque no alardeio injustificado de ser ele detentor de armas de destruição em massa.
A eleição de Barack Obama aparentava ser a fase de recolha de tropas em solo médio oriental e cercanias e de reflexão sobre a atuação corroída de Washington desde o encerramento da rivalidade amero-soviética.
O Nobel da Paz conceder-lhe-ia no alvorecer da gestão condições para tanto. Seria guardadas as devidas proporções como na época de Jimmy Carter, ao assumir o país pouco tempo após a saída dos contingentes do Vietnã. Parte seria implementada pelo governante, porém, seria insuficiente diante dos anseios da sociedade em prol de mais diplomacia e menos forças armadas e acarretaria desta forma frustração.
Donald Trump e Joe Biden não iniciariam guerras de modo direto; todavia, o último se relacionaria com duas, a despeito de não ter sido o promovedor. Contudo, ele seria, na visão dos envolvidos, patrocinador de um dos lados e, por conseguinte, com capacidade de abreviar a duração da contenda.
Na prática, seu governo leva a prolongá-las, com elevação do sofrimento e da angústia nas áreas em combate e nas conexas com elas e, ao mesmo tempo, com corrosão do próprio prestígio perante as demais potências. Portanto, o mundo aguarda com ansiedade o desfecho do pleito de novembro, uma vez que pode haver a correção de rumo da política externa.
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Virgílio Arraes
Doutor em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e professor colaborador do Instituto de Relações Internacionais da mesma instituição.