Correio da Cidadania

O duplo nascimento de uma mulher

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Em 1981, ocorreu o segundo nascimento de uma mulher – que não quis revelar seu nome – posto que seu primeiro nascimento foi carnal e o segundo foi a libertação da sua consciência e da sua alma.

 

O fato de ter nascido duas vezes a obrigou a obter uma nova casa, mas desta vez de plástico, feita artesanalmente com algumas ferramentas que também utiliza para pronunciar seu descontentamento com a vizinha próxima: a Casa Branca dos Estados Unidos da América.

 

Há 34 anos, a mulher que cobre o rosto para proteger-se da inclemência do sol do forte verão da cidade de Washington DC mantém um protesto semelhante, posto que determina que as injustiças da vida devem ser denunciadas, porque do contrário é como estar morto frente à vida.

 

Meia hora bastou para conversar com a senhora, cujo corpo já refletia o rigoroso caminho que decidira empreender em prol da humanidade, como ela assim o manifesta, visto que se considera uma cidadã do mundo.

 

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A mulher com 20 e poucos anos

 

Vive permanentemente em frente à Casa Branca em Washington DC. Há 34 anos de estar ali, seu corpo já se encontra envelhecido como normalmente ocorre com um ser humano, todavia sua alma mantém a rebeldia de uma jovem mulher com seus 20 e poucos anos.

 

Protestar contra a guerra que assola o povo da Palestina e as políticas externas do governo dos Estados Unidos frente ao resto do mundo a faz acentuar sua cidadania; “cidadã do mundo”, como bem diz ela, ainda que nascida em Nova York.

 

Diariamente turistas visitam a Casa Branca, fazem alardes com seus objetos tecnológicos, batendo fotografias de si mesmos, dando glórias ao deus da vaidade que se injeta nos cérebros dos seres humanos através da extensa publicidade da época, mas ninguém em meia hora se deteve para perguntar à senhora o que ela fazia ali, ou se ela se sentia bem da saúde, o que comprova o esfriamento do coração humano em sua plena era de “progresso e desenvolvimento”.

 

Mas a ausência de solidariedade humana neste pequeno recinto da Terra, símbolo de poder perante o mundo, não detém o sonho da misteriosa senhora, que com bandeira em mãos denuncia o Estado de Israel, pois menciona que a ambição de poder desta jovem nação é compartilhada com o governo do seu país. Frente ao mundo, ambos atacam o povo palestino.

 

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A administração mundial

 

As descrições da senhora baseadas em feitos históricos das guerras produzidas ao redor do mundo mencionam que a imprensa internacional apresenta duas versões; uma é a de salvaguardar a vida da humanidade, e a outra a obtenção total dos bens naturais das demais nações do mundo, às custas de suas invasões.

 

A administração mundial, dos bens naturais ou territórios, como é o caso da Palestina, sob guerra permanente desde que foi ocupada por Israel, assim como as bombas atômicas lançadas no Japão, são partes dos lemas da mulher que nasceu duas vezes.

 

Em seu segundo nascimento, foi parida pela violência internacional, que a fez defender a paz como um elo perdido; 34 anos pedindo pela paz na Terra, frente ao berço das decisões internacionais, onde nas duas primeiras décadas do século 21 foram ditadas guerras e ataques contínuos de diferente índole, mas com resultados de mortes violentas.

 

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Acontecimentos que são postos de frente, através da guerra midiática que molda como argila o cérebro da humanidade, cada vez mais longe do amor ao próximo.

 

Sua estadia em frente à Casa Branca seguirá até que possa ser suplantada pelo resto da humanidade, afirmou a senhora, que assegurou que caso volte a nascer tomará a mesma atitude. Mas mantém a fé de que seus irmãos da Terra compreendam a importância de nascer outras vezes.

 

Quando interpelei a senhora, que estava esperando, sua resposta foi: “que vocês se unam para protestar, porque do contrário seguirão acreditando que são livres, dentro da prisão que se tornaram seus cérebros”.

 

 

Este artigo é parte de uma série de relatos sobre a estadia do autor na capital dos Estados Unidos e foi originalmente publicado aqui: http://cartasdewashingtondc.blogspot.com.br


Ronnie Huete Salgado é jornalista hondurenho.


Traduzido por Raphael Sanz, do Correio da Cidadania.

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