Por que Hugo Chávez incomoda tanto as elites?
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- Frei Gilvander Luís Moreira, Delze dos Santos Laureano e Dr. José Luiz Quadros de Magalhães
- 21/11/2007
As transformações sociais em curso na América Latina, especialmente na Venezuela, estão incomodando os diversos grupos que sempre tiveram privilégios insustentáveis. São os mesmos que se apropriam das riquezas naturais e impõem à população um modelo de "desenvolvimento" que degrada de forma irreversível o meio ambiente e provoca o esgarçamento do tecido social, fazendo da sociedade palco de violência sem precedentes.
O medo destes grupos se agrava com a possibilidade concreta de a Venezuela passar a integrar o Mercosul. Por isso, fomenta-se no Brasil um processo de satanização de Hugo Chávez e da Revolução bolivariana. A mídia, o quarto poder, através da Revista Veja, da TV Globo e cia., procura, de forma orquestrada, macular o processo de libertação ora em curso na Venezuela e na Bolívia. Tenta impedir a construção de uma outra forma de organização política fora da "democracia" liberal hegemônica, esta que pretende ser a vitória do capitalismo sobre o socialismo real, pós-esfacelamento do leste europeu e que teve a pretensão de determinar o "fim da história".
Estivemos em Caracas, na Venezuela, durante dez dias, no 6º. Fórum Social Mundial. Mantemos comunicação com várias pessoas amigas de lá. Diante da enxurrada de calúnia que a mídia propala impiedosamente contra Hugo Chávez, cabe recordar várias coisas que estão acontecendo na Venezuela.
Um grande mutirão pela educação acabou com o analfabetismo naquele país. O povo controla e comercializa o petróleo, grande riqueza natural que agora serve para melhorar a vida das pessoas e não mais aumentar o lucro das multinacionais. O povo venezuelano está cheio de esperança. Uma juventude, em sua maioria esclarecida, está comprometida com a organização popular, com a construção de uma democracia verdadeiramente participativa.
As críticas internas a Hugo Chávez vêm dos canais de TV que estão nas mãos das elites e da minoria privilegiada. A população pobre é beneficiada com preços de 30 a 50% mais baixos do que nos mercados privados nos milhares de Mercados Populares - MERCAL - que alimentam a maioria da população.
Os estudantes que lideram os movimentos por "liberdade" são os de classe média alta, defensores dos ideais de liberdade como privilégio para poucos, mesmo quando o sistema que mantém essa chamada "liberdade" condena à miséria e à exclusão a maioria da população.
Na Venezuela bolivariana, todos os estudantes que cursam universidades públicas, ou que ganham bolsas de estudos, diferentemente do que acontece no Brasil, prestam serviço social à comunidade. Dão uma contrapartida para a sociedade em vista dos recursos públicos que recebem para estudar. Só na Universidade Bolivariana mais de 500 mil jovens pobres estão estudando.
O governo de Hugo Chávez apóia a instalação, regulamentação e funcionamento de rádios comunitárias. Não há burocracia para conseguir a documentação e o governo ajuda financeiramente na compra dos equipamentos para se fortalecer a comunicação alternativa e mais interativa. Assim, não procedem as alegações de que não há liberdade de imprensa na Venezuela. O governo venezuelano não tem o monopólio da informação. Contrariamente investe contra o monopólio dos meios de comunicação, como o que ocorre hoje no Brasil, onde poucas famílias controlam o sistema de informação de massa.
Na Venezuela, atualmente, existem mais de 20 mil médicos cubanos, que, com apenas uma ajuda de custo cerca um salário-mínimo, estão alavancando uma revolução no sistema público de saúde. São responsáveis pelo atendimento primário da população, algo parecido com o médico de família. Estão nas favelas e bairros pobres; lá vivem e atendem, com competência e dedicação, os pobres. "Por mais de 50 anos os médicos venezuelanos recém formados se recusaram a ir para o interior, para os bairros, para a periferia. Só queriam ficar na capital, ganhar dinheiro às custas da dor. Agora, com Chávez, eles tiveram sua chance de ajudar o povo. Não quiseram. Então foi preciso apelar para a solidariedade. Vieram os médicos de Cuba e estamos tendo acesso à saúde nos lugares mais distantes e pobres", informa um jovem da periferia de Caracas.
Yojin Ramones, um venezuelano que vive no Brasil, referenda nossa percepção, revelando que na Venezuela há uma recuperação acelerada da atividade econômica, melhorando o poder aquisitivo de todos. Isso mesmo, de todos - os venezuelanos, ricos e pobres (antes eram apenas os ricos). O país tem anualmente o crescimento do PIB (Produto Interno bruto) mais elevado da América Latina, cerca de 10% nos últimos anos. Lá são convocados referendos sobre os temas mais importantes do país, de modo que o povo opine e escolha o que quiser. Os abusos dos bancos foram freados pelo governo. Por exemplo, a taxa de juro anual de um cartão de crédito é de 28% a.a. Aqui no Brasil é acima de 120% a.a.
Não há país da América latina que tenha feito tantas obras - como metrôs, pontes, teleférico, aeroportos - em apenas oito anos. Os serviços de saúde devolveram a vista a milhares de pessoas carentes de recursos, não só venezuelanos, mas latino-americanos. Pela primeira vez, muitos bairros pobres têm um médico para dar atenção às pessoas. A integração da América do Sul é prioridade para o fortalecimento de nossas raízes e forças latino-americanas.
Quanto à democracia é importante lembrar que o Hugo Chávez, assim como os partidos políticos que o apóiam, venceu todas as eleições que foram supervisionadas por organismos internacionais e políticos de todo o mundo, inclusive um ex-presidente norte-americano (Jimmy Carter). Todos atestaram a lisura dos pleitos.
Importante acrescentar que as eleições ocorreram com a grande maioria dos meios de comunicação (jornais, rádios e TV) em franca campanha de difamação contra o governo de Hugo Chávez. Em qualquer parte do mundo, os responsáveis pelas emissoras de rádio e TV, teriam sua concessão cassada, e em alguns países seriam processados por calúnia e difamação, como, por exemplo, nos EUA e na França.
A reforma da Constituição, ora em curso, faz parte de um processo de mudança estrutural radical, que pode transformar a Venezuela em uma sociedade sem miséria e sem exploração, fundada na solidariedade e não na competição, no egoísmo e na ganância.
Para além dos mecanismos de democracia representativa, o povo da Venezuela tem mostrado uma grande capacidade de mobilização e participação, construindo uma democracia participativa que legitima as transformações em curso.
Nós devemos ficar sempre atentos para que o caminho democrático participativo construído na América latina hoje não seja desviado por projetos pessoais. Toda mudança só é legitima se construída democraticamente pelo povo.
Nesta esteira é que temos de defender aguerridamente os povos e os projetos transformadores de Cuba, Venezuela, Bolívia e Equador. Primeiro, porque sãos povos que estão em processo de libertação, lutam com destemor contra o imperialismo e a opressão capitalista neoliberal. Segundo, porque se estes países forem sufocados, teremos que viver mais tempo com os valores da indiferença pelo ser humano que hoje domina as sociedades e ameaça o planeta.
Frei Gilvander Luís Moreira,
mestre
Delze dos Santos Laureano, professora de Direito Constitucional e Direito
Agrário, membro da RENAP - Rede Nacional de Advogados Populares, e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Dr. José Luiz Quadros de Magalhães, professor de Direito Constitucional da
UFMG,
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