A candidatura de Sergio Massa: desafios e expectativas
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- Carlos Eduardo Vidigal
- 13/07/2023
O jogo político argentino teve no mês de junho a definição dos candidatos que disputarão as Primarias Abiertas Simultáneas y Obligatorias (PASO) de 2023 no dia 13 de agosto, etapa que antecede as eleições marcadas para 22 de outubro. No campo peronista, duas chapas se apresentaram: a com maiores intenções de voto é liderada pelo atual ministro da Economia, Sergio Massa, tendo como vice Agustín Rossi, e a de Juan Grabois, com Paula Abal Medina na vice, ambas da frente Unión por la Patria (UpP). Na frente Juntos por el Cambio (JpC), as duas candidaturas são a de Patricia Bullrich-Luis Petri e a de Rodríguez Larreta-Gerardo Morales, que representam a centro-direita, embora a primeira esteja mais próxima da extrema-direita. A extrema-direita, que cresceu nas pesquisas nos últimos dois meses, tem como candidatos Javier Milei e Victoria Villaruel, pela chapa La Libertad Avanza (LA).
As dúvidas dos analistas sobre as primárias giram em torno da capacidade de Massa administrar o desempenho negativo da pasta da economia, sob seu comando, o elevado custo político da divisão na chapa Cambiemos e das estimativas sobre o efetivo potencial de Milei (temas a serem tratados nas próximas publicações).
Massa terá grandes desafios no próximo mês e meio, embora a unidade peronista em torno de sua candidatura e fato de ser o candidato oficialista contem a seu favor. Os maiores desafios dizem respeito à pressão que será exercida pelo cristinismo – que se diferencia do kirchnerismo de Néstor Kirchner, presidente entre 2003-2007, pelo maior personalismo e ativismo político “popular” – e à sua gestão à frente da economia, tanto no que se refere aos altos índices de inflação quanto à escassez de reservas no Banco Central.
O setor camporista do cristinismo, que tem em Máximo Kirchner seu líder “natural” e na organização La Cámpora a mística do radicalismo de esquerda dos anos 70, foi crítico da gestão de Massa na Economia, mas saberá preservar seu capital político, assim como cobrar a retribuição no caso de uma vitória peronista nas eleições.
As maiores dúvidas se encontram nos efeitos de seu desempenho como ministro da Economia junto ao eleitorado. Como Massa poderá se apresentar como melhor nome para enfrentar a crise, sendo ministro da Economia de um país com a inflação de 140% ao ano e com a elevação dos índices de pobreza? Como o governo Alberto Fernández responderá à escassez de dívidas em dólar, com seu ministro da Economia tendo enfrentado obstáculos nas negociações do FMI, dimensão que poderia ter aliviado as pressões sobre as parcelas da dívida externa em vencimento? A depender apenas das avaliações e encaminhamentos técnicos, o FMI adiantará recursos até a realização das primárias. Eventual “decisão política” do Fundo, antecipando desembolsos ou renegociando a dívida nos próximos meses facilitaria eventual vitória da candidatura oficialista, mas este ainda é, no momento, um horizonte pouco provável.
Quanto às relações exteriores, Massa deverá trazer em seu discurso a necessidade de manter um diálogo maduro com Washington, fiel da balança das políticas do FMI, o bom relacionamento com a China, importante mercado para as exportações do país, e o diálogo estreito com o Brasil, parceiro estratégico no Mercosul e interlocutor junto aos Brics. A diferença provável será alguma moderação do discurso sul-americanista e na ênfase atribuída à Celac e à Unasul. A conferir nas próximas semanas.
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