Isla Maciel, a Argentina que não vê perspectivas
- Detalhes
- Vanessa Martina-Silva, de Buenos Aires, de Buenos Aires, ComunicaSul
- 15/01/2024
Desde que Javier Milei venceu o peronista Sergio Massa nas eleições presidenciais na Argentina, uma das perguntas mais escutadas nos círculos peronistas e progressistas é: quanto tempo vai durar seu governo?
É fato que o mandatário não terá vida fácil. Afinal, é praticamente impossível governar o país sem o apoio do peronismo, repetem todos os analistas. O único presidente não peronista que conseguiu terminar seu mandato foi Mauricio Macri (PRO), que governou de 2015 a 2019.
Mas é justamente Macri quem está afiançando a gestão Milei. Ainda durante a campanha, o político não só declarou apoio ao extremista, como garantiu que seria ele quem iria dar as condições de governabilidade ao nanico partido A Liberdade Avança.
Para além das promessas de campanha, como a dolarização, a explosão do Banco Central, os planos de motosserra, da venda de órgãos e de crianças e de outras polêmicas que Milei implantou na Argentina, pra não falar do decretaço com o qual iniciou seu governo, um fator bem objetivo preocupa os que lidam com a população menos favorecida do país: durante o governo Macri, a pobreza aumentou e as condições de vida pioraram consideravelmente.
Para compreender o cenário atual no qual vivem essas pessoas e projetar os riscos que correm durante os próximos anos, a reportagem da ComunicaSul foi até Ilha Maciel, favela mais pobre da cidade de Avellaneda, na província de Buenos Aires, entrevistar o padre Francisco Oliveira, conhecido como Paco.
Padre Paco é uma das vozes da Igreja Católica mais ativas na Argentina na defesa dos mais pobres, dos direitos humanos e de condições dignas de moradia e vida. Nascido na Espanha, ele chegou no país vizinho em 1987 e logo se aproximou da corrente progressista do catolicismo.
Quando entendeu a dinâmica da sociedade argentina, se posicionou como peronista “por ser um veículo do socialismo” no país. Milita dentro e fora da igreja e faz de suas obras sociais sua profissão de fé. Atua junto aos demais Padres da Opção Pelos Pobres, grupo independente e com posições pouco comuns dentro do cristianismo, como a defesa do casamento igualitário, do aborto e da legalização das drogas.
A entrevista com o cura foi realizada antes das eleições. Por isso, ele gentilmente aceitou responder três breves questionamentos via áudio, no WhatsApp, para atualizar suas impressões sobre o novo presidente do país.
ComunicaSul: Ouço todo o tempo que a administração de Milei será um governo Macri 2. O senhor me disse que o macrismo foi duro com os mais desfavorecidos. Assim, quais são as perspectivas para esse grupo, especialmente para os mais jovens, nos próximos quatro anos?
Padre Paco: Sim, Macri tomou o governo de Milei. Mas também colocou funcionários da época [dos ex-presidentes Carlos] Menem e de [Fernando de] la Rúa. Portanto, temos realmente o pior governo dos últimos 50 anos.
E as perspectivas são terríveis, não apenas para os jovens, mas para os trabalhadores em geral. Além disso, desta vez ele [Milei] disse o que iria fazer e as pessoas votaram nele. Macri mentiu. Por isso, agora é uma questão complicada. Muitos dos que votaram nele também vão acabar saindo às ruas porque serão prejudicados.
Você acha que a relutância de alguns setores em defender o voto em Massa pode ter impactado o resultado final muito mais do que o esperado em favor de Milei?
Eu acredito que realmente houve uma mobilização por Massa por parte de todos, todos os setores peronistas. Não por convicção em sua pessoa, mas pelo que estava em jogo. Digamos que não era possível ter meios-termos. Mesmo assim, não serviu de nada, não serviu para nada.
A Argentina é conhecida por seus movimentos de rua e forte mobilização política. Como vê os próximos quatro anos, do ponto de vista das favelas, comunidades, onde você mora e trabalha?
Para os mais pobres, para as favelas, os assentamentos, a situação vai ser muito, muito difícil. Já nos últimos dias, com a chegada do livre mercado, os preços dos produtos básicos foram aumentados de forma exagerada.
E vai ser muito difícil. As pessoas vão acabar indo para as ruas. Talvez, quem sabe, seja como em 2001, quando os pobres saquearam as lojas, os comércios e a classe média bateu às portas dos bancos. Não vejo algo muito diferente. Não acredito que dure quatro anos, acredito que sairá antes.
Um (des)encontro
Logo no primeiro contato com esta repórter, Padre Paco foi muito solícito e se mostrou disponível para realizarmos a entrevista pessoalmente. Porém, como ele estava muito ocupado às vésperas da eleição e como reside distante da capital, em um novo assentamento na cidade de Merlo, na província de Buenos Aires, combinamos de conversar quando ele fosse para a Ilha Maciel, onde dirige uma fundação.
O encontro estava marcado para as 11h. Por considerar que os taxistas talvez não quisessem entrar na ilha – percepção posteriormente comprovada pelos moradores – decidi ir de transporte público. A ilha fica imediatamente após o turístico e famoso bairro da Boca e para chegar é preciso atravessar a ponte sobre o rio Riachuelo. A localidade não pertence à capital e sim à cidade de Avellaneda, na província de Buenos Aires.
Com a antecedência necessária, coloquei a localização no Google Maps e iniciei e jornada com um metrô e um trem. Já próximo da hora combinada, resolvi enviar uma mensagem para dizer que me atrasaria alguns minutos. Ao abrir o mapa para conferir o quão distante eu estava, percebo que, ao invés de estar indo em direção ao rio, me distanciava, província adentro. Pânico geral.
Resolvo ligar para o Padre Paco e explicar a situação. “Ah… tudo bem! Eu também estou atrasado”, diz. Mas quando entende que eu estava indo de transporte, ele emite um alerta: era melhor entrarmos juntos na ilha, poderia ser perigoso eu chegar lá sozinha.
Explico onde eu estou e… para a surpresa de ambos, ele também havia colocado a localização no Google e estava se dirigindo para um lugar que nada tinha a ver com o destino. “Me espera aí na estação em que você está. Em 20 minutos eu te pego e vamos juntos”.
Desta forma, nossa entrevista começa em seu carro, uma Toyota vermelha antiga, empoeirada, com caixas e outros objetos para doação e que conta um pouco, por si só, como é a vida desse padre, que leva a vida dedicado aos pobres.
ComunicaSul: Quando tratamos da pobreza, uma das maiores vítimas são os jovens. Como descreveria a situação dessa parcela da população nessas comunidades mais vulneráveis?
Padre Paco: A maioria dos nossos jovens não estuda nem trabalha. Eles não estudam porque abandonaram o Ensino Médio, que na Argentina é obrigatório, mas a realidade é que muitas vezes eles não têm interesse ou perspectiva de futuro e a maioria deixa a escola.
Conseguir trabalho já é muito complicado para uma pessoa com experiência, ainda mais para um jovem…
Mas estamos falando de comunidades onde não há muita oportunidade de trabalho. Como eles conseguem garantir a subsistência sem ser seduzidos pelo narcotráfico, pelo crime, que é o que muitas vezes acontece nessas situações?
Muitos desses jovens têm problemas relacionados ao consumo de drogas. Muitos. O uso de drogas está por toda parte. Quem quiser, encontra facilmente. Na verdade, pessoalmente, por exemplo, acredito que a maconha deveria ser legalizada. Estaríamos tirando o poder de um grupo de criminosos e passando para o controle do Estado.
Agora, é certo que o problema das drogas é diferente para os jovens que não estudam, que não trabalham, em comparação com pessoas que têm um projeto de vida, onde muitas vezes o uso de maconha é apenas recreativo. Nossos jovens muitas vezes começam com maconha e acabam em qualquer lugar. E também temos a droga das drogas para os pobres, aqui chamada de paco [crack].
Nas eleições se discutiu muito o papel do Estado. Se deveria ser um Estado de bem-estar social ou um Estado zero, como defendeu Milei. Mas, antes de mais nada, gostaria de entender como o Estado chega a essas pessoas, se é que chega?
Bem, ele chega com algumas políticas universais, nacionais. Por exemplo, quase todas as pessoas em nossos bairros recebem a Asignación Universal por Hijo [Bolsa Família argentino], que é uma ajuda financeira mensal dada pelo Estado diretamente para a mãe ou o pai, caso não tenham emprego formal.
Também temos o cartão alimentação, um valor entregue diretamente à família com a finalidade principal de compra de alimentos. Com esse cartão, eles vão ao comércio e só podem comprar comida ou produtos básicos. Não podem, por exemplo, comprar bebidas alcoólicas.
Existem políticas na Argentina para que todas as pessoas, homens ou mulheres, que não conseguiram contribuir com todos os anos necessários para se aposentar. Elas podem receber a aposentadoria com o desconto dos anos não contribuídos.
E temos os programas, que são muito atacados pela direita. Por exemplo, há o programa Potenciar Trabajo [Capacitação para o Trabalho], onde o Estado paga a ela aproximadamente 60 mil pesos mensais [R$ 320 pelo câmbio da Western Union] e como contrapartida, ela deve trabalhar 16 horas por semana com organizações sociais ou religiosas, municipais ou ONGs.
Depois, há outros programas provinciais [estaduais], como o Bairros Bonaerenses, da província de Buenos Aires, que paga um valor menor e também exige uma contrapartida horária. Agora, isso é mais para o indivíduo…
E em termos estruturais?
A verdade é que temos bairros onde praticamente não há presença do Estado. No bairro onde eu moro desde maio, por exemplo, só agora, depois de muita luta, conseguimos a instalação dos medidores de luz por parte da empresa, que é privada.
É um serviço público, mas foi privatizado na época do [Carlos] Menem. Eles não queriam instalar os medidores mesmo sendo para que pudéssemos pagar a luz. A minha vizinha me fornecia energia elétrica ilegalmente. A energia passava pela casa dela e chegava até mim. Ela quase incendiou a casa dela, que era de madeira, devido ao alto consumo!
Bem, só agora o fizeram e porque fizemos muita confusão e eu – que tenho um certo peso, visibilidade – fui morar no bairro. Só agora temos coleta de lixo. Só agora começaram a consertar as ruas, não asfaltar, mas passar máquinas que nivelam um pouco o terreno e colocam cascalho, pedra solta, entulho de construção. Antes, era impossível entrar e sair do bairro. Não há ônibus…
Isso gera muita raiva nas pessoas. Porque, além disso, com o nível de inflação que temos, principalmente a inflação nos alimentos, as pessoas não têm dinheiro para chegar ao fim do mês. Nos bairros, não digo que passam fome, mas passam necessidades.
Portanto, existe uma bronca porque o dinheiro que recebem não é suficiente, mesmo com as políticas de assistência e os programas sociais. E há comunidades que estão totalmente abandonadas, nas mãos de Deus e da Virgem Maria. Isso gera muita revolta.
Eu vejo isso claramente: nas comunidades onde o Estado está presente e há militância, quase não houve voto para Milei. Mas onde o Estado não está presente e não há bases e organizações políticas que militem no território, no final, muitos votaram em Milei.
Porque o Estado não serve para essas pessoas… talvez nem tenham muita consciência de sua utilidade…
Totalmente. E há uma ideia de que as coisas precisam ser feitas antes das eleições ou então terão que esperar mais quatro anos. Antes das eleições, florescem Unidades Básicas. Depois, murcham, são fechadas…
O que são Unidades Básicas?
São os locais de formação política do Movimento Justicialista, o peronismo, nos bairros, comunidades. Também são locais onde são prestados serviços, como advogados que vão até esses locais para orientar questões judiciais, seja no âmbito penal ou familiar.
As pessoas acabam se sentindo um pouco usadas, porque quando convém, eles vêm até elas, mas depois as abandonam…
Desde 2009 eu venho com certa frequência a Buenos Aires. De fato, agora eu vejo uma quantidade muito maior de pessoas em situação de rua ou trabalhando como coletores. Gostaria de entender um pouco melhor essa situação porque os dados oficiais falam que há 40% de cidadãos na pobreza, mas se compararmos com a realidade de São Paulo, por exemplo, é muito pouca a quantidade de gente nessa situação aqui…
Sim, entendo sua pergunta. Veja, em primeiro lugar. Eu sempre vivo e trabalho com uma população que nunca deixou de ser pobre.
Então essa é a minha população, com a qual estou sempre. Seja 25% de pobres, 40%, 50% ou 10%, estou com essa população. O mandato de Cristina Fernández de Kirchner terminou com 23%, 25% de pobres. A pobreza diminuiu muito entre [os governos de] Néstor [Kirchner] e Cristina. O mesmo ocorreu em toda a América Latina.
Depois, tivemos quatro anos de macrismo, quando todos os índices foram para o inferno. As pequenas e médias empresas fecharam, as pessoas ficaram desempregadas e os programas sociais não tiveram aumento de acordo com a inflação. Eles tiraram muitos benefícios das pessoas e ainda endividaram o país em 45 bilhões de dólares, que sequer foram investidos dentro do país.
Chegou Alberto Fernández, mas tivemos uma seca no meio do caminho e tivemos a pandemia. E o governo dele foi muito fraco, muito fraco para enfrentar os poderosos. Não foi um governo de direita, mas esse homem vai embora absolutamente sem glória ou com mais tristeza do que glória, não vai como Cristina que, quando terminou seu mandato, teve o aplauso de uma Praça de Maio cheia.
O trabalho cresceu muito no governo Fernández, mas principalmente o trabalho informal ou trabalho por conta própria. É verdade que muitas pequenas e médias empresas abriram novamente, mas hoje o problema que temos é que pessoas empregadas não conseguem chegar ao fim do mês com o salário que recebem.
Cristina falou sobre isso… que hoje na Argentina há pobres que trabalham… e essa é uma situação muito complexa porque os pobres já não são aqueles que estão desempregados…
Exatamente. Nos setores populares, hoje, você não pode comprar nada. Você não vai pensar em comprar um fogão, por exemplo. Os tênis, nós compramos parcelados. Não é que você compra uma casa a prestação, você compra tênis dessa maneira. Não há nada que as pessoas possam comprar porque o salário não alcança.
Mas também não quero ser tão negativo. Este governo não teve nada a ver com o governo Macri.
Você me disse que Fernández foi fraco para enfrentar o interesse dos poderosos. Eu ouvi de umas garotas de 20 e poucos anos, que não importa quem ganhasse a eleição, a situação delas não mudaria. São jovens que não veem futuro para a Argentina. Como chegamos a isso?
A verdade é que vivemos em democracias muito frágeis em toda a América Latina e eu diria a nível global. Hoje em dia há pessoas que têm todo o dinheiro de, sei lá, três países juntos. Então, nossas democracias não respondem e nunca vão responder a todas as necessidades de nosso povo.
Olha, [o ex-presidente] Raúl Alfonsín dizia que com a democracia se come, se educa e se cura. Isso foi há 40 anos. A realidade é que hoje, com a nossa democracia, 40% da população não come, não se educa, não se cura. Mesmo assim, temos educação gratuita até a universidade pública e temos saúde pública.
Na época de Néstor, Cristina e também de Alberto, foram abertas muitas universidades na grande Buenos Aires e em outros lugares do interior do país, o que permite que haja pessoas que pela primeira vez possam ir para uma universidade.
Bem, todas essas coisas estão em jogo e em risco agora com Milei. Ou seja, por um lado, há muitas coisas ruins, mas por outro lado, há muitas coisas boas. O que acontece é que nós já estamos muito acostumados. Você diz a um chileno que Milei propôs oferecer voucher para a educação ou que quer acabar com a universidade pública e eles querem morrer porque estão sofrendo há muito tempo com isso.
Isla Maciel
“Veja, aí embaixo está a Isla Maciel. Ali é a Boca e este é o rio Riachuelo e ali está o rio da Prata”. Finalmente chegamos ao bairro. Exceto por suas construções peculiares, os chamados conventillos, que mesclam tijolo com latão, a região é parecida com diversas periferias brasileiras.
Conventillo em Isla Maciel Foto: Vanessa Martina-Silva
Em pouco tempo chegamos à Fundação Vila Maciel. Localizada em uma Praça bonita, limpa e renovada, com pouca gente na rua (talvez devido ao calor intenso que fazia naquele dia) nada indicava se tratar de um local perigoso. Estabelecidos na biblioteca da fundação, seguimos com a entrevista.
ComunicaSul: Como as pessoas têm interpretado as propostas políticas de Milei? Porque com algumas pessoas com as quais conversei e que votam nele disseram “mas ele não vai fazer isso”. Isso também aconteceu no Brasil, com Bolsonaro. Nós dizíamos: “ouça o que ele disse” e muitos respondiam que era “da boca para fora”. Ou seja, nós tivemos uma grande dificuldade de explicitar que aquilo era sério e que a situação poderia piorar muito. Por fim, ele venceu e ficou quatro anos. Então como é isso aqui?
Padre Paco: Não apenas Bolsonaro ganhou, como depois Lula venceu por muito pouco. Isso é o que me angustia na América Latina em geral e no mundo. Há um avanço real da direita.
A vitória de Bolsonaro inegavelmente impulsionou a direita no Brasil. Dá para dizer o mesmo com Milei?
Bem, primeiro eu acredito que isso vem de longa data, quando [o ex-presidente Domingos] Perón ganhou aqui com quase 60% dos votos, houve 35% que não votou nele, que era antiperonista por natureza.
Esses discursos de que a culpa é dos pobres, que se gasta muito com os pobres e sei lá… sempre existiram e não é de agora com Milei. Era o discurso de Macri, só que ele dizia de outra forma, dizia que não ia tirar direitos, mas ia melhorar as coisas.
No final das contas, as pessoas acabam votando com o bolso. Perón dizia que a víscera mais sensível do ser humano é o bolso. Às vezes é uma questão muito egoísta, de “eu quero estar melhor e pouco me importa o resto”. E outras vezes é porque estão passando mal. Nesse sentido, entendo o que Cristina disse recentemente no lançamento de um livro: não é que nossa sociedade está se tornando mais de direita, é que nossa sociedade está passando mal.
Mas as pessoas que votaram em Milei podem ser mais radicais, não?
Estamos recebendo ameaças de morte, estamos sofrendo ataques. Nas universidades públicas havia pichações dizendo “esquerdistas de merda, vocês acabam em 10 de dezembro”.
Estamos em um momento mundial em que as democracias se mostraram insuficientes para entregar o que prometeram às pessoas. Nos Estados Unidos, na Argentina, é a direita que chega com a radicalidade, dizendo que vai “explodir tudo”, que vai mudar… E a esquerda propõe manter tudo como está, fazendo acordos e se defendendo… não propõe mudanças ou revoluções. As coisas não estão ao contrário?
Eu nunca imaginei que militaria por Massa. Aliás, eu militava pela Cristina. Agora, acredito que se Cristina se candidatasse, perderíamos as eleições. Porque essa é a questão. Uma coisa é o que desejamos, mas outra é como se chega ao poder. Mas se Lula não se unisse até mesmo com alguém que o perseguia, o que também aconteceu com Cristina, não chegariam ao poder. As opções mais radicalizadas da esquerda, que talvez compartilhemos, não chegam ao poder. Assim, acredito que também a política é a arte do possível.
E por outro lado, para entender um pouco a Argentina, é preciso compreender que aqui não há esquerda. A esquerda é o peronismo. Ou seja, quem concedeu direitos à sociedade argentina foi o peronismo. E o povo sabe disso.
Agora, o peronismo é um movimento e dentro desse movimento. É como na Igreja, tem a extrema-direita e a extrema-esquerda. Temos uma ponta e temos a outra. Isso é difícil de entender estando de fora. Mas aqui não há esquerda. As bandeiras da esquerda são do peronismo.
A história da humanidade não é muito diferente. Sempre foi mais ou menos assim. Veja, aquele que eu sigo, Jesus Cristo, foi um fracasso total. Acabou sendo crucificado e dizia: “Oh, o reino de Deus está chegando, a fraternidade está comigo”. Terminou em uma cruz. É preciso continuar ajudando os pobres da cruz, os novos crucificados da história. Não há outra opção.
Vanessa Martina-Silva é jornalista do ComunicaSul.
A Agência ComunicaSul está cobrindo as eleições de 2023 na Argentina graças ao apoio das seguintes entidades: jornal Hora do Povo, Diálogos do Sul, Barão de Itararé, Revista Fórum, Portal Vermelho, Correio da Cidadania, Agência Saiba Mais, Agência Sindical, Viomundo, Fórum 21, Instituto Cultiva, Asociación Judicial Bonaerense, Unión de Personal Superior y Profesional de Empresas Aerocomerciales (UPSA), Sol y Sombra Bar, Federação dos Trabalhadores em Instituições Financeiras do RS (Fetrafi-RS); Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe-RS); Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos; Federação dos Comerciários de Santa Catarina; Confederação Equatoriana de Organizações Sindicais Livres (CEOSL); Sindicato dos Comerciários do Espírito Santo; Sindicato dos Hoteleiros do Amazonas; Sindicato dos Trabalhadores das Áreas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisa, e de Fundações Públicas do Rio Grande do Sul (Semapi-RS); Federação dos Empregados e Empregadas no Comércio e Serviços do Estado do Ceará (Fetrace); Federação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT Rio Grande do Sul (Fetracs-RS); Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT-PR); Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (AASPTJ-SP), Federação dos/as Trabalhadores/as em Empresas de Crédito do Paraná (FETEC-PR), Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema-SP); Sindicato dos Trabalhadores em Água, Resíduos e Meio Ambiente do Estado de Santa Catarina (Sintaema-SC), Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado do Paraná (Sintrapav-PR), Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp Sudeste-Centro), Sindicato dos Escritores no Estado de São Paulo, Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal de Santa Catarina (Sintrajusc-SC); Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (Sinjusc-SC), Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal em Pernambuco (Sintrajuf-PE), mandatos populares do vereador Werner Rempel (PCdoB/Santa Maria-RS) e da deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP) e dezenas de contribuições individuais.
*Gostou do texto? Sim? Então entre na nossa Rede de Apoio e ajude a manter o Correio da Cidadania. Ou faça um PIX em qualquer valor para a Sociedade para o Progresso da Comunicação Democrática; a chave é o CNPJ: 01435529000109. Sua contribuição é fundamental para a existência e independência do Correio.
*Siga o Correio nas redes sociais e inscreva-se nas newsletters dos aplicativos de mensagens: Facebook / Twitter / Youtube / Instagram / WhatsApp / Telegram