Correio da Cidadania

Nem Maduro nem María Corina; exigimos o fim da criminalização da juventude

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Protesta del día lunes en Caracas. Foto Fernando Vergara (AP/ LaPresse)
Protesto de segunda-feira em Caracas. Foto de Fernando Vergara (AP/ LaPresse)

Após as ondas de protestos de segunda, 29 de julho, contra a fraude eleitoral, com um grande componente juvenil e de setores populares, o governo nacional desencadeou uma brutal repressão. Segundo o procurador-geral da república, Tarek William Saab, mais de setecentas (700) detenções ocorreram durante os protestos (no fechamento deste artigo, o Presidente Nicolas Maduro confirma cerca de 2000 presos), números que coincidem com os de ONGs, que também informam que 74 adolescentes estão entre os detidos. Há também dezenas de desaparecidos e 11 mortos. Fazemos menção especial aos estudantes da Universidade Central da Venezuela (UCV): Rafael Sivira, de Estudos Políticos; Antony Granadillos, de Arquitetura; María Méndez, jogadora da seleção feminina de futebol; Armando Solís, da Faculdade de Humanidades e Educação; e Keiver Rincón, de Odontologia. Exigimos sua imediata libertação.

Toda esta situação se desenrolou após o CNE divulgar os resultados eleitorais do último 28 de julho, em um processo já desenhado à imagem do governo antes mesmo das eleições, ou seja, com um esquema fraudulento, com desqualificações, intervenções em partidos políticos e proscrições de tendências de esquerda opositoras ao governo. Uma situação que se expressou mais abertamente na hora de emitir o boletim de resultados, onde, sem contar com todas as atas, apenas com 80% delas, o CNE já declarava um candidato vencedor com uma tendência irreversível para Nicolas Maduro, com 52% dos votos, enquanto 44% foram para o principal candidato opositor, Edmundo González.

Os integrantes da Plataforma Unitaria Democrática (PUD) denunciaram que o governo restringiu o acesso aos fiscais do principal candidato opositor, Edmundo González, no processo de totalização dos votos. Também se recusou a entregar cópias das atas aos fiscais em numerosos centros de votação. Além disso, a ata com os resultados finais não foi impressa na sala de totalização do CNE. Toda uma série de mecanismos antidemocráticos que sugerem fraude.

Isso motivou uma série de protestos horas depois, denunciando a fraude, com grande componente popular e de jovens, cansados dos últimos anos de crise e das políticas antipopulares do governo de Maduro.

A situação da juventude trabalhadora e estudantil

Para ninguém é segredo que os jovens do país são uma das principais vítimas da crise dos últimos anos, seja por não vislumbrar um futuro com oportunidades, seja por serem diretamente vítimas da repressão cotidiana nos bairros do país, da falta de emprego ou dos baixos salários, ou ainda pelas cada vez mais difíceis condições para concluir seus estudos.

Somos os jovens os principais protagonistas das ondas migratórias de alguns anos atrás, onde muitos acabaram se tornando mão de obra barata como imigrantes em outros países, abandonando seus sonhos de estudar e ter uma vida melhor. São os jovens que tiveram que abandonar seus estudos para trabalhar em empregos precários e contribuir para suas famílias em meio à crise.

Essa realidade levou muitos jovens a protestar contra as dificuldades vividas nos setores populares, e muito provavelmente muitos desses jovens foram os que saíram com legítima esperança de um país melhor para protestar contra uma tentativa de fraude após as eleições. Infelizmente, a direita liberal, liderada por Edmundo González e María Corina nestas eleições, conseguiu capitalizar eleitoralmente o descontentamento com o governo, uma direita voraz, a serviço das transnacionais e dos Estados Unidos. Mas é Nicolás Maduro o principal responsável pelo fortalecimento da direita, um governo que também tem sido entreguista, serve a outras variantes do capital transnacional encarnadas em potências como Rússia e China. E que agora desencadeia uma forte repressão, negando o direito de protestar e criminalizando a população que reclama de uma fraude.

María Corina capitaliza o descontentamento com um governo autoritário

Solidarizamo-nos com todos esses jovens que protestaram e protestam para que o CNE mostre as atas e seja transparente com os resultados, com um legítimo espírito democrático. Condenamos a repressão estatal, as detenções arbitrárias e os desaparecimentos, mas também denunciamos as intenções da oposição de direita formada pela dupla Edmundo González / María Corina, que busca usar as mobilizações populares como manobra para negociar por cima.

María Corina Machado, que era a candidata original da oposição de direita, mas não pôde se apresentar porque o governo de Maduro a desqualificou, apoiando em seu lugar Edmundo González, tentou conduzir uma campanha eleitoral onde ocultou seu programa político o tempo todo e apenas apresentou a dicotomia democracia versus ditadura. No entanto, sabemos que Corina não tem nada de democrata, pois sempre apoiou uma saída golpista, inclusive nos tempos em que Hugo Chávez ganhava eleições populares com ampla margem.

Em 2019, foi uma das principais impulsionadoras do intervencionismo norte-americano e clamava por uma intervenção militar, chegando a criticar Juan Guaidó por ser "tímido". Esse passado recente de Corina não condiz com sua nova face defensora da democracia, ou será que ela só apoia a democracia quando está ao seu lado?

Também é importante dizer que o programa político com o qual María Corina Machado se identifica é o de Milei na Argentina, um fervoroso inimigo das causas populares, feroz privatizador e defensor do capital transnacional. Desde sua ascensão, Milei busca sancionar leis que limitem a manifestação, com anos de prisão para quem bloquear uma rua ou protestar impedindo o livre trânsito, algo muito parecido com o que Maduro faz aqui. É um religioso fervoroso contra o aborto e inimigo da diversidade, a qual chama com desprezo de "progressismo". Esse é o modelo seguido por MCM, uma admiradora declarada de Milei, não esquecendo seu famoso vídeo onde ela evoca privatizar tudo. E, embora saibamos que o candidato não é MCM, mas sim Edmundo González, também somos conscientes de que foi em torno da figura de MCM que se concentraram as falsas esperanças de mudança do povo venezuelano.

Denunciamos tanto o governo de Maduro e sua tentativa de fraude quanto a oposição de direita representada por Edmundo e María Corina e sua impostura popular e democrática. Ainda assim, consideramos que o povo tem direito a conhecer os resultados eleitorais concretos e ver sua vontade respeitada. Queremos que as atas sejam mostradas e uma contagem transparente dos votos. Exigimos o fim da repressão policial, o desmantelamento dos organismos parapoliciais que buscam gerar medo e ansiedade na população, e exigimos a liberdade para os presos por se manifestarem.

Fonte: La Izquierda Diario Venezuela.

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