Petro e o governo progressista: na "reta final" contra o vento e a maré
- Detalhes
- Fernando Dorado
- 17/10/2024
Diversos fatos mostram que entramos em uma nova etapa ou fase do governo progressista. No último dia 8 de agosto, atingiu-se a metade do seu período. E, de acordo com as dinâmicas políticas na Colômbia, começa-se a entrar em uma espécie de “reta final antecipada”, já que as eleições parlamentares ocorrerão em março de 2026 e as presidenciais em maio.
Isso significa que, na metade de 2025, começam as campanhas eleitorais, e desde agora os partidos políticos e os “grupos de pressão” começam a definir sua postura frente ao governo atual. Ao que parece, a nomeação de Juan Fernando Cristo como ministro do Interior funcionou positivamente com os partidos políticos; resta ver como reagirão os setores empresariais e outros setores da produção e das finanças.
O avanço da reforma trabalhista e a escolha do novo controlador geral da república indicam que um setor da política tradicional (conservadores, liberais, La U*, parte dos verdes e outros partidos pequenos) compreendeu que, nessa “reta final”, não podem continuar com a estratégia de “bloqueio legislativo”, que também os desgastou perante a população. Além disso, eles não renunciarão ao acesso ao orçamento e à burocracia controlados pelo governo.
No entanto, pelos eventos recentes com as Cortes, especialmente o Conselho de Estado e a Corte Constitucional, é possível afirmar que no setor da Justiça as coisas são diferentes. É aí que a Procuradoria pode atuar como uma “barreira” para neutralizar a “guerra jurídica” (lawfare) que já está em pleno andamento. Três decisões judiciais recentes – a que autorizou o CNE a investigar administrativamente o presidente; a que anulou contratos com Juntas de Ação Comunal para construção de vias regionais; e a que anulou nomeações de comissários para a CREG – mostram que o bloqueio e a “guerra jurídica” se intensificam nesse setor estatal, apesar do “conto” do Acordo Nacional.
Parece que o mesmo ocorrerá com alguns setores empresariais intimamente ligados à oligarquia financeira. Eles cederam “algo” frente à reforma previdenciária, trabalhista e, possivelmente, à da saúde, mas vão endurecer em relação a outros setores estratégicos, como o de energia elétrica, tanto na geração (gás, petróleo, carvão, hidrelétrica) quanto na transmissão e distribuição. Já anunciam um “apagão financeiro e físico” no setor energético. Da mesma forma, começam a surgir tensões relacionadas ao investimento em infraestrutura rodoviária (concessões), uma área muito sensível para o grande capital. Assim, o “bloqueio” possivelmente se transformará em uma aberta “guerra econômica”.
Alternativas possíveis para 2026
Na Colômbia, os setores populares e democráticos têm a tarefa e a obrigação de dar continuidade ao governo de Petro. Surgem três alternativas possíveis, dependendo do desempenho do governo nos próximos meses:
1. A reeleição do presidente Petro, que requer uma reforma constitucional (o que é bastante improvável e, portanto, seria um desgaste promover essa iniciativa);
2. A eleição de alguém mais moderado que Petro “nas formas”, mas mais revolucionário “nos fatos” (ainda não há uma figura com esse perfil, mas ela pode ser construída, e algumas pessoas já começam a se destacar);
3. A eleição de alguém mais moderado que Petro “nos conteúdos”, o que resultaria em um governo mais próximo do “centrismo-santista” (setor de direita próximo ao ex-presidente Juan Manuel Santos, seria algo como o “mal menor”; semelhante à escolha de Gregorio Eljach para a Procuradoria).
Tudo depende do desempenho do governo na reta final. Se for “medíocre”, se não enfrentar com inteligência, “paciência estratégica” e “tranquilidade democrática” o avanço da oligarquia, as tentativas de criar “pânico econômico” e a “guerra jurídica” em todos os níveis, as direitas poderão construir uma candidatura viável, unificando toda a “centro-direita”, que poderia competir com algumas chances de vitória. O interessante do momento é que a extrema direita (“uribista” e “ultra-uribista”) não tem viabilidade em 2026, o que é positivo.
Nesse “centro-direita” estarão todos aqueles que, como o Moir (também conhecido como “Dignidad”), converteram seu ódio por Petro em algo mais do que uma atitude política, transformando-o em uma obsessão sectária. E, claro, também se unirão todos aqueles que – parcialmente – sentem ou percebem que, apesar de alguns erros e deficiências, o projeto progressista está ganhando força entre amplos setores populares e pode construir uma hegemonia social e política para o futuro.
Persistir em “fazer um bom governo” sem se deixar provocar pelo bloqueio institucional, pela guerra jurídica e pelo pânico econômico que os inimigos do governo progressista impulsionam de forma artificial é mais importante do que ficar denunciando “golpes de Estado”. Estes podem ser tentativas de alguns setores da extrema direita incrustados em algumas entidades, como o Conselho de Estado e o Conselho Nacional Eleitoral, mas não são a estratégia da maior parte da oligarquia.
É preciso se defender de todos esses ataques recorrendo à expertise legal, à maturidade democrática e, quando for oportuno, à mobilização social. Mas é necessário focar em ações contundentes, como a entrega de terras aos camponeses sem terra, o apoio total e prático às comunidades que sofrem desastres, e, acima de tudo, políticas e recursos para avançar com a industrialização e a organização associativa dos pequenos e médios produtores, tanto rurais quanto urbanos.
Se o governo for diligente nessas áreas, o povo se levantará para defendê-lo no momento certo, que muito possivelmente será nas eleições de 2026. A estratégia de “tensão”, que parece agradar ao presidente Petro, implica cair na armadilha da oligarquia e leva a que tanto os funcionários quanto o povo (a “opinião pública”) se concentrem na confrontação imediata e de curto prazo, perdendo de vista que o principal é “dar continuidade ao governo progressista” nas próximas eleições parlamentares e presidenciais.
Além disso, é necessário qualificar muito mais o movimento social e organizar “seriamente” o Pacto Histórico. A “estratégia de tensão” se assemelha à “primeira linha” do estallido social (revoltas populares com greve geral contra reformas liberais em 2019). Isso desgasta e isola, “mobiliza” os setores mais fiéis ao “petrismo”, mas nos distancia da maioria da população. Já temos bastante experiência nesse campo.
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