A Venezuela e os desafios para o Socialismo do século XXI
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- Antonio Julio de Menezes Neto
- 27/11/2008
A Revolução Bolivariana, ou o "Socialismo do século XXI", encontra-se em um momento crucial de disputa hegemônica. A oposição quer se livrar da imagem de truculentos golpistas e investe na "renovação liberal" e "democrática" e no discurso de combate à violência, um tema que preocupa os venezuelanos tanto quanto aos brasileiros. Liderados por parte de um movimento estudantil que se ampara num vago conceito de "democracia" e liberalismo, estes estudantes buscam manter privilégios com um discurso conservador.
Além do mais, o imperialismo americano recicla-se com o fim da era Bush e a entrada em cena de um presidente negro e democrata, o que obrigará, possivelmente, a um formato diferente da Revolução Bolivariana no enfrentamento aos EUA. Aliado a estes fatores, a oposição ainda se mantém com consideráveis privilégios econômicos e continua detendo grande parte do controle dos meios de produção. Além do mais, o enfrentamento a uma nova burocracia chavista é um desafio para a Revolução.
Um grande problema enfrentado pelo governo Chávez é a convivência de duas políticas. De um lado, o governo investe em políticas sociais, centralizado nas diversas "Missões" que enfrentam o analfabetismo; propõe e coloca em prática uma nova educação em todos em níveis; enfrenta o problema da saúde para os mais pobres; investe no cooperativismo e na economia solidária; realiza uma reforma agrária; e reestatiza setores básicos da economia que haviam sido privatizados no período neoliberal de Carlos Andrés Perez.
Além do mais, investe na organização da sociedade através dos Círculos Bolivarianos e das Comunas. Os pilares do chamado "Socialismo do século XXI" estariam centrados no controle estatal de grandes empresas básicas e no apoio à economia solidária entre os grupos informais. Assim, configuram-se importantes mudanças na sociedade venezuelana capaz de superar o próprio personalismo de Chávez.
Porém, os antigos privilégios ainda não foram desmontados. Muitas vezes, a Venezuela convive com as políticas distributivas e com mudanças estruturais na economia e na política através das velhas políticas elitizadas e concentracionistas, tanto na economia como na distribuição do poder. Isto gera dificuldades administrativas e certa confusão nas bases populares do chavismo.
As eleições de novembro demonstraram que o governo Chávez pode avançar muito. Venceu em 17 dos 23 estados, 80% das prefeituras e o PSUV teve 1,3 milhão de votos a mais do que a oposição. A participação foi de 65% dos eleitores e rendeu cerca de 60% dos votos para os apoiadores da Revolução Bolivariana e de Chávez. Lembremos que no plebiscito do ano passado, que procurava reformar a Constituição com importantes avanços populares, a participação foi de cerca de 40% e a derrota do chavismo de cerca de 1%.
Como sempre acontece nas eleições do período chavista, o governo não escondeu que estava em jogo à construção do socialismo na Venezuela e a oposição usou a velha cantilena de falta de democracia, apoiando-se no poder econômico, na imprensa e no apoio estadunidense. Aliás, estes últimos jogaram suas fichas nas áreas petrolíferas mais ricas e conseguiram uma vitória importante em Carabobo, demonstrando que a luta contra os privilégios é difícil, mas deve ser enfrentada com vigor.
O processo bolivariano avança. Mas ainda é cedo para conclusões. A disputa hegemônica ainda é bastante presente e cabe ao governo, aos Círculos Bolivarianos, às Comunas, aos partidos de esquerda e aos movimentos sociais avançarem para a radicalização do processo, deixando a dubiedade de um discurso sincero de avanço ao socialismo e avançarem na construção real de uma nova sociedade centrada no ser humano em vez de centrada na reprodução do capital.
Os caminhos estão em aberto e cabe à sociedade venezuelana a escolha de seus caminhos. Que eles definam pelo socialismo!
Antonio Julio de Menezes Neto é sociólogo, professor na UFMG e doutor em educação.
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