Por que derrubaram Lugo?
- Detalhes
- Atilio Boron
- 27/06/2012
Acaba de se consumar a farsa: o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, foi destituído de seu cargo num julgamento sumaríssimo, no qual o Senado mais corrupto das Américas - e isso quer dizer muito! – o achou culpado de "mau desempenho" de suas funções devido às mortes ocorridas no despejo de uma fazenda em Curuguaty.
É difícil saber o que pode ocorrer daqui para frente. O certo é que a matança de Curuguaty foi uma armação montada por uma direita que, desde que Lugo assumiu o poder, estava esperando o momento propício para acabar com o regime que, apesar de não haver afetado seus interesses, abria um espaço para o protesto social e a organização popular, incompatíveis com sua dominação de classe.
Apesar das múltiplas advertências de numerosos aliados dentro e fora do Paraguai, Lugo não assumiu a tarefa de consolidar a grande, porém heterogênea, força social que, com enorme entusiasmo, o levou à presidência em agosto de 2008.
Sua influência no Congresso era absolutamente mínima, um ou dois senadores no máximo, e somente a capacidade de mobilização que demonstrasse nas ruas seria o fator que poderia dar governabilidade à sua gestão.
Mas Lugo não entendeu assim e, durante seu mandato, se sucederam múltiplas concessões à direita, ignorando que, por mais que a favorecesse, ela jamais iria aceitar sua presidência como legítima.
Gestos de concessão a favor da direita resultam unicamente em torná-la mais agressiva, e não em apaziguá-la. Apesar das concessões, Lugo sempre foi considerado um intruso incômodo, por mais que promulgasse, ao invés de vetar, as leis antiterroristas que, a pedido "da Embaixada", aprovava o Congresso – o mais corrupto das Américas.
Uma direita que, com certeza, sempre atuou irmanada com Washington para impedir, entre outras coisas, o ingresso da Venezuela no Mercosul. Lugo se deu conta tarde demais do quão "democrática" era a institucionalidade do Estado capitalista, que o destitui num tragicômico simulacro de julgamento político, violando todas as normas do devido processo.
Uma lição para o povo paraguaio e para todos os povos da América Latina e do Caribe: só a mobilização e a organização popular sustentam governos que querem impulsionar um projeto de transformação social, por mais moderado que seja, como tem sido o caso de Lugo.
A oligarquia e o imperialismo jamais cessam de conspirar e atuar e, se parece que estão resignados, esta aparência é inteiramente enganosa, como acabamos de comprovar há poucos instantes em Assunção.
Atilio A. Boron é cientista político e sociólogo argentino de nascimento e latino-americano por convicção.
Comentários
Assine o RSS dos comentários