Laboratório da corporocracia
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- Ronnie Huete
- 14/12/2012
As ditaduras ideológicas no mundo respondem à globalização econômica, cujos discursos, tanto à direita quanto à esquerda, submetem seus povos a uma corporocracia nascida da involução da democracia.
Teóricos internacionais concordam que a política não é mais que a busca do poder privado por parte de determinados indivíduos.
Em várias nações do mundo, tal fato é uma história que se repete através do disfarce de qualquer ideologia, até colocá-lo nos termos das bobagens românticas ou filosóficas de sua preferência, costumava citar um famoso cantor estadunidense da década de 60.
Essencialmente, a política é uma busca privada do poder, onde a salada de ideologias dispõe de seus melhores discursos e promessas, ante uma população mundial cada vez menos adepta do sistema democrático.
Basta lançar o olhar à crise gerada pelos grandes especuladores do mercado e da bolsa de valores, que propiciaram a maior das catástrofes econômicas do mundo no século 21.
A corporocracia
Os constantes protestos em uma Europa cada vez mais dividida pelas fronteiras econômicas são uma prova do fracasso da democracia que sucumbe diante da corporocracia.
Esse modelo corporativo evoluiu, causando a involução econômica da maioria dos países do globo, cuja estrutura econômica, política, social, religiosa e militar depende das decisões do monopólio corporativo.
Desde os países mais desenvolvidos até as nações mais exploradas e submetidas à pobreza, como é o caso de Honduras, a corporocracia funciona perfeitamente.
As grandes transnacionais, ao longo da história econômica e global dos povos do mundo, promoveram uma neocolonização sobre os países independentes dos antigos impérios, pois através dos modelos econômicos e da série de regalias por elas obtidas foi fácil reconquistarem economicamente tais nações.
“Establishment”
Honduras é uma dessas colônias de “neofranquias”, cuja estrutura econômica contribui para o “establishment” dominante no mundo.
A nação centro-americana submetida às decisões de quem conforma a corporocracia, através de seus servos econômicos estruturados em poderes estatais como o judiciário, legislativo e executivo, participou de um processo eleitoral primário em 18 de novembro.
As siglas políticas de direita e de esquerda recentemente fizeram um encerramento de campanha proselitista, cheio de emotividade, delírios e uma embriagada incoerência, tudo emitido nos discursos de seus pré-candidatos presidenciais.
O vazio de seus discursos comprova sua falsa tradição de governar, posto que têm claro que seguirão servindo aos interesses da corporocracia.
A participação dos cidadãos hondurenhos nos fins de campanha é facilmente manipulada por pouco dinheiro ou comida, para que apareçam gritando em nome da democracia.
Parto empresarial
O pré-candidato da etiqueta de extrema-direita, Ricardo Álvarez, cuja origem panamenha não é obstáculo para ser o próximo representante da corporocracia de Honduras, é o preferido para ser imposto pelos coordenadores desse sistema corporativo.
Sob a bênção da embaixada dos Estados Unidos no país, Álvarez se aproxima de ser o próximo gendarme da oligarquia nacional centro-americana.
Esse politiqueiro atualmente atua como prefeito de Tegucigalpa e Comayagüela, cidades gêmeas que conformam a capital desta nação, e sua forma de governar é visível ante a desordem urbana em que está sufocada a capital há décadas.
Ricardo Álvarez nasce sob o apoio corporativo do ex-presidente de Honduras e antigo representante executivo da corporocracia, seu compatriota Ricardo Maduro Joest, cujos interesses econômicos são delineados pelos grupos corporativos Poma e Roble, ambos de capital centro-americano.
Emotividade fugaz
Com o forte apoio de empresários nacionais e internacionais, Ricardo Álvarez segue o roteiro da corporocracia com maior facilidade, em um país que fortalece sua ditadura empresarial, política e religiosa, muito avalizada pelos partidos políticos tradicionais, além dos recém-surgidos a fim de apagarem o ímpeto revolucionário dos cidadãos hondurenhos.
Neste 18 de novembro, a corporocracia deu seu primeiro passo para continuar com o estabelecido em Honduras e o mundo através de seu “establishment”, tudo isso com a cumplicidade dos discursos da esquerda e da direita, entorpecidos por uma emotividade fugaz proselitista.
Aprovando processos eleitorais já delineados pela corporocracia, dificilmente os cidadãos do mundo poderão conhecer sua liberdade em sentido total.
Observar Honduras como laboratório da corporocracia em que foi transformado o país é um roteiro eficaz para não repetir esses erros mundo afora.
Ronnie Huete Salgado é foto-jornalista hondurenho exilado no Brasil após o golpe de Estado de 2009 e colaborador de veículos de mídia alternativa.
Nota do autor do texto: Qualquer atentado ou ameaça ao autor do artigo é responsabilidade de quem representa e governa o Estado de Honduras ou de seus invasores.
Tradução: Gabriel Brito, Correio da Cidadania.