Dom Oscar Romero: 33 anos de martírio e de legado libertador
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- Frei Gilvander Luís Moreira
- 27/03/2013
No dia 24 de março de 2013, celebramos 33 anos de martírio de dom Oscar Romero, arcebispo da arquidiocese de San Salvador, capital de El Salvador.
Nomeado bispo por ser considerado conservador, passou por um processo de profunda conversão e assumiu a causa dos pobres. Sentiu profundamente o assassinato do padre Rutílio Grande, seu secretário, e de milhares de lideranças camponesas, de Comunidades Eclesiais de Base, que se levantavam contra a ditadura militar imposta sobre El Salvador.
Eis, abaixo, 17 anúncios e denúncias que ecoaram a partir da boca de Romero nas suas homílias. Através da rádio, a mensagem de Romero encontrou acolhida nos corações de tanta gente que segue vivendo se inspirando no ensinamento e testemunho libertador de Romero.
1. “Irmãos, eu gostaria de gravar no coração de cada um esta ideia: o cristianismo não é um conjunto de verdades nas quais devemos acreditar, de leis que devem ser cumpridas, de proibições! Assim se torna muito repugnante. O cristianismo é uma pessoa, que nos amou tanto, que pede nosso amor. O cristianismo é Jesus Cristo e o evangelho” (06/11/ 1977).
2.“Que maravilha será o dia que cada batizado compreender que sua profissão, seu trabalho, é um trabalho sacerdotal; que, assim como eu celebro a missa no altar, cada carpinteiro celebra sua missa na sua carpintaria, cada profissional, cada médico com seu bisturi, a mulher na feira, no seu lugar de trabalho... Estão fazendo um ofício sacerdotal. Quantos motoristas que escutam esta mensagem no seu táxi. Tu, querido motorista, junto ao volante do seu táxi és um sacerdote se trabalhas com honradez, consagrando a Deus seu táxi, levando uma mensagem de paz e de amor a teus clientes que vão no seu automóvel” (20/11/1977).
3. “Uma religião de missa dominical, mas de semanas injustas não agrada ao Deus da Vida. Uma religião de muita reza, mas de hipocrisias no coração não é cristã. Uma Igreja que instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade, porém que não ouve os clamores das injustiças não é a verdadeira igreja de nosso Divino Redentor” (04/12/1977).
4. “Ainda quando nos chamem de loucos, ainda quando nos chamem de subversivos, comunistas e todos os adjetivos que se dirigem a nós, sabemos que não fazemos nada mais do que anunciar o testemunho subversivo das bem-aventuranças, que proclamam bem-aventurados os pobres, os sedentos de justiça, os que sofrem” (11/05/1978).
5. “Muitos querem que o pobre sempre diga que é “vontade de Deus” que assim sobreviva. Não é vontade de Deus que uns tenham tudo e outros não tenham nada. Não pode ser de Deus. A vontade de Deus é que todos os seus filhos e filhas sejam felizes” (10/09/1978).
6. “É ridículo dizer que a Igreja se tornou marxista. Porém há um ‘ateísmo’ mais próximo e mais perigoso para nossa igreja: o ateísmo do capitalismo, quando os bens materiais se tornam ídolos e substituem Deus” (15/09/1978).
7. “Uma igreja que não sofre perseguição, mas que desfruta privilégios e o apoio de coisas da terra – Tenham Medo! – não é a verdadeira igreja de Jesus Cristo” (11/03/1979).
8. “Quantos existem que não dizem ser cristãos, porque não têm fé! Têm mais fé no seu dinheiro e em suas coisas do que no Deus que criou tudo” (03/06/1979).
9. “Para que servem belas estradas e aeroportos, belos edifícios e grandes palácios, se foram construídos com o sangue de pobres que jamais vão desfrutá-los?” (15/07/1979).
10. “Não nos cansemos de denunciar a idolatria da riqueza, que faz consistir a grandeza da pessoa humana no ter e esquece que a verdadeira grandeza é ser. A pessoa humana não vale pelo que tem, mas pelo que é e faz” (04/11/1979).
11. “Devemos buscar o menino Jesus, não nas imagens bonitas de nossos presépios. Devemos buscá-lo entre as crianças desnutridas que foram dormir esta noite sem ter o que comer, entre os pobres vendedores de jornal que dormiram muito mal” (24/12/1979).
12. “Que maravilha será o dia em que uma sociedade nova, em vez de armazenar e guardar egoisticamente, se partilhe, se reparta e se alegrem todos, porque todos nos sentimos filhos do mesmo Deus! Que outra coisa quer a palavra de Deus neste ambiente salvadorenho senão a conversão de todos para que nos sintamos irmãos?!” (27/01/1980).
13. “Não é um prestígio para a Igreja estar bem com os poderosos. Prestígio para a Igreja é sentir que os pobres a sentem como sendo sua, sentir que a igreja vive uma dimensão na terra, chamando todos, também os ricos, à conversão e à salvação a partir do mundo dos pobres, porque eles são unicamente os bem-aventurados” (17/02/1980).
14. "Se denuncio e condeno a injustiça é porque é minha obrigação como pastor de um povo oprimido e humilhado... O Evangelho me impulsiona a defender meu povo e em seu nome estou disposto a ir aos tribunais, ao cárcere e à morte.”
15. “Tenho estado ameaçado de morte frequentemente. Tenho que dizer-lhes que como cristão não acredito na morte, mas na ressurreição: se me matam, ressuscitarei no povo salvadorenho. Digo isso sem nenhuma vanglória, mas com grande humildade. Como pastor, estou obrigado, por mandato divino, a dar minha vida por aqueles que amo, que são todos os salvadorenhos, inclusive por aqueles que vão assassinar-me. Se chegarem a cumprir as ameaças, desde já ofereço a Deus meu sangue pela redenção e pela ressurreição de El Salvador. O martírio é uma graça de Deus, que não creio merecer. Porém se Deus aceita o sacrifício de minha vida, que meu sangue seja semente de liberdade e sinal que a esperança se torna realidade. Minha morte, se aceita por deus, seja para a libertação do meu povo e como testemunho de esperança no futuro. Vocês podem dizer, se chegarem a me matar, que perdoo e bendigo aqueles que me matarem. Desta maneira se convencerão que perdem seu tempo. Um arcebispo morrerá, porém a igreja de Deus, que é o povo, nunca perecerá” (março de 1980).
16. “O Reino já está misteriosamente presente na nossa terra. Quando vier o Senhor, se consumará sua perfeição. Esta é a esperança que alenta a nós os cristãos. Sabemos que todo esforço para melhorar a sociedade, sobretudo quando está tão metida na injustiça e no pecado, é um esforço que Deus bendiz, que Deus quer, que Deus exige de nós” (24/03/1980).
17. Dom Oscar Romero bradou aos militares que estavam assassinando o povo: “Nenhum soldado está obrigado a obedecer uma ordem contrária à lei de Deus que diz: ‘não matar’. Uma lei imoral não deve ser cumprida por ninguém. Soldados, em nome de Deus e no nome deste povo sofrido, cujos clamores sobem até ao céu cada dia mais tumultuosos, lhes suplico, lhes rogo, lhes ordeno em nome de Deus: cessem a repressão”.
Dom Oscar Romero vive em todas as lutas libertárias!
Gilvander L. Moreira é frei Carmelita.
Página: www.gilvander.org.br
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