Honduras: o verde oásis de paz?
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- Ronnie Huete (texto e fotos)
- 07/02/2014
Violentamente, desrespeita-se a dignidade humana na terra latino-americana de Honduras.
O fechamento da administração do “porfiriato” (Porfírio Lobo Sosa) aumentou em 15% o imposto sobre a venda, na segunda nação mais pobre do continente americano.
Com renda per capita anual de 2,192 dólares, a população desta nação centro-americana terá que desenvolver uma enorme inteligência para sobreviver em um país onde também se criminalizam os direitos humanos e o protesto, e se aplaudem a tortura e a perseguição política como ato humano.
Em 2012, segundo citam as fontes internacionais, o crescimento do PIB foi de 3%, e a taxa de inflação anual é de 5,4%, com forte desemprego, que aumenta em 3,6%, indicando que há cerca de 288 mil desempregados na população economicamente ativa do país, cuja população total é de 8.303.000 habitantes.
As exportações em 2012, segundo números oficiais, alcançaram os 4,3 bilhões de dólares; contudo, as importações apresentam números mais altos do que o exportado, uma vez que se importou um total de 9.5 bilhões de dólares.
O cidadão comum centro-americano
Nos produtos de maior importação, sobressaem as máquinas e material de transporte, produtos químicos, alimentos, combustível e matérias-primas. A dívida externa pública atingiu os 4.7 bilhões de dólares e se mantém um índice de desenvolvimento humano de 0,632.
Dados que são revelados internacionalmente e apontam as condições indignas de vida que atravessam estes cidadãos comuns centro-americanos. Somado a isto, recentemente foram realizadas as eleições gerais, para eleger o presidente do Executivo, cujos resultados foram relatados por observadores internacionais como fraudulentos e irregulares em relação à contagem de votos.
Diante destes fatos, a população de Honduras protestou pacificamente nas ruas, sendo o protesto de estudantes da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH), no dia 26 de novembro de 2013, severamente reprimido, com um ferido.
Isto como resultado da repressão dos policiais e da milícia deste país, que foi fortalecida através da polícia militar.
No entanto, o discurso orgulhoso dos que conduzem o processo empresarial e burocrata governamental, desta nação vilipendiada, alegam que Honduras é um “oásis de paz”.
Atoleiro
Isso embora Ana Maria Villeda de Kafati, reconhecida apresentadora de TV de uma cadeia de grandes meios de comunicação de Honduras, tenha afirmado em seu programa de televisão, "Porque Nos Importamos", que a culpa do atoleiro socioeconômico em que se encontra seu país é do governo, exigindo ao novo Executivo não brincar com a dignidade das pessoas.
Esta mulher, casada com um hondurenho de ascendência árabe, é parte do empório econômico que monopoliza a liberdade de expressão em Honduras e é membro de um influente e reduzido grupo econômico que mantém enclausurada esta pequena nação centro-americana. Mas o discurso desta moça é o mesmo que salpica todos os governos “democraticamente” eleitos.
Os movimentos sociais ou progressistas deste país seguem o exemplo desses discursos. Desde o dia 10 de janeiro, fazem plantão no porão do Congresso, em protesto contra o aumento dos impostos sobre as vendas. Mesmo assim, as palavras emitidas por seus líderes têm um eco tumultuoso há mais de 30 anos.
A ausência de líderes sociais jovens, confrontativos, com uma cosmovisão diferente de organização em Honduras, é visível. Enquanto o plantão era feito no porão dos parlamentos hondurenhos, os deputados desta câmara se preparavam para condecorar uma mulher octogenária por ter servido ao seu partido conservador (Partido Nacional).
Os gritos de não ao "pacote" (aumento de impostos) foram ouvidos em torno desta estrutura a que chamam de “praça da mercê”; no entanto, a decepção nos rostos das pessoas que participaram foi observada quando ouviram o discurso de seus líderes, burocratizados no poder da "esquerda hondurenha", ou, como bem citou um grupo de jornalistas cubanos, no programa de televisão Cuba Debate, o "socialismo à hondurenha".
O delito da paz
Diante desse panorama da administração de Porfirio Lobo Sosa, 30 jornalistas foram assassinados, houve um incêndio na prisão de Comayagua, que é considerado o mais catastrófico dos últimos dez anos em uma prisão no mundo, e há a perseguição persistente a uma das líderes do povo originário Lenca, Berta Cáceres, que recentemente obteve sua liberdade de não ser processada por cometer o "crime" de defender os recursos naturais, especificamente o vital líquido da água.
O paradisíaco Caribe, pelo qual é abençoada esta terra, também possui bestas selvagens que, vestidas de verde, se propõem a aniquilar os agricultores que defendem o direito à terra, como ocorre na bela costa do Pacífico, na Ilha Zacate Grande, uma vez que estão sendo desalojados por um dos filhos do deserto, Miguel Facussé Barjum – cuja ascendência árabe é questionada pelos seus compatriotas no Oriente Médio, que lutam pela libertação do povo Palestino.
Sem uma forte oposição, a população deste país centro-americano decidiu se organizar em bairros, aldeias, vilas e outros assentamentos humanos que estão indignados com a tirania com que é governada Honduras.
Porque denunciar as violações aos direitos humanos, à liberdade de expressão, à defesa dos recursos naturais, os ineficientes sistemas de saúde e educação de Honduras, é um crime que se paga com a morte.
Motivo pelo qual as comunidades das principais cidades desta nação decidiram horizontalmente organizar-se dentro de espaços sociais e reais que eles conhecem de cor, uma vez que são a essência da luta emancipatória popular, longe dos discursos burocratas de "socialismo de Honduras".
A Europa de Honduras
O oásis de paz mencionado no discurso de quem está no poder tem uma face militarizada em cada esquina e na área onde vivem os mais pobres; o oásis de paz que pregam alguns religiosos de seu púlpito abençoa o alto custo de vida, como fez o cardeal Oscar Andrés Rodríguez. O cardeal argumentou que as medidas econômicas têm sido bem sucedidas para vencer a crise na União Europeia, como se Honduras algum dia tivesse parecido economicamente com um país europeu.
O oásis de paz enunciado por alguns empresários hondurenhos destila sangue de seres humanos que são mortos pela pior das violências, a pobreza.
A humanidade em terras latino-americanas de Honduras deve ser mais amante da vida e aproximar-se do amor ao próximo, em comunhão mútua pacífica que deve nascer como iniciativa de cada habitante, para não nos vermos mais, um ao outro, como competidores, mas como irmãos; para diminuir o tempo do medo, como descreve o presente universal, o escritor latino-americano, Eduardo Galeano.
Ronnie Huete Salgado é foto-jornalista hondurenho, esteve exilado no Brasil após o golpe de Estado de 2009 e é colaborador de veículos de mídia alternativa.
Nota do autor do texto: Qualquer atentado ou ameaça ao autor do artigo é responsabilidade de quem representa e governa o Estado de Honduras ou de seus invasores.
Traduzido por Daniela Mouro, Correio da Cidadania.