Correio da Cidadania

Não à anexação e à ocupação a Cisjordânia e sim à paz e à democracia

0
0
0
s2sdefault

The Trump-Netanyahu bromance appears over. What's that mean for ...
É urgente que apoiadores internacionais da causa Palestina se unam em defesa da terra e da sobrevivência do povo palestino. Neste momento precisamos unir vozes em nossas redes sociais, falas públicas em todos os contextos para nos colocar “Contra a anexação israelense, Palestina livre”. É fundamental se opor a anexação da Cisjordânia situada na margem oeste do rio Jordão e delimitado por Israel ao norte, oeste e sul. Esta região, excluindo Jerusalém Oriental, abriga em torno de 430.000 judeus israelenses que vivem em 132 assentamentos, além de 124 “postos” menores construídos sob a ocupação de Israel. Esses assentamentos são considerados ilegais sob a perspectiva do direito internacional.

Entretanto, o “Acordo do Século", que eu prefiro chamar de “Apartheid do Século”, deve ser perpetrado pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu com aval de Donald Trump a partir de 1º de julho. Com isso haverá anexação de 30 % da Cisjordânia, violando os Acordos de Oslo e a Lei Internacional. A fixação de Israel por anexação de terras palestinas beira a construção de uma comunidade imaginada – para pensar nos termos de Benedict Anderson -, que estabelece uma “terra prometida” ao povo judeu, isso se evidencia quando se referem à Cisjordânia como “Judéia e Samaria” como forma de remeter a um discurso de terras dos judeus, mas, bem sabemos, que se trata da Palestina ocupada em 1948 durante a Nakba e aprofundada em 1967 com a guerra dos seis dias.

O tal “acordo do século” constitui pontos que vão contra os interesses dos Palestinos, a saber: o reconhecimento de Jerusalém como capital indivisível de Israel, a permanência dos assentamentos ilegais e a anexação definitiva do Vale do Jordão, que impedirá a sobrevivência de palestinos promovendo assim mais uma violência simbólica (quando se refere a uma comunidade imaginada, original) e concreta.

Ainda como parte do plano, Israel anexaria blocos de colônias israelenses na Cisjordânia e, em compensação, transferiria a um futuro Estado palestino – a ser criado em quatro anos – terras no deserto do Neguev (Sul do país) e no chamado “Triângulo” (Norte), apelido de um bloco de comunidades árabes na fronteira com a Cisjordânia. Baqa al-Gharbiyye é uma delas e também um importante centro urbano da minoria árabe em Israel (20% da população total do país).

A proposta de anexação acaba definitivamente com a solução de dois Estados. Lideranças palestinas denunciam o acordo unilateral, que mais enfraquece um governo palestino do que lhe dá autonomia. As principais áreas a serem anexadas são o Vale Cremisan e o Vale Al Makhrour, em Beit Jala. A medida pode resultar em cerca de 4,5% dos palestinos na Cisjordânia vivendo em enclaves dentro do território anexo. Os palestinos buscam defender toda a Cisjordânia - à qual reivindicam um direito histórico - de um futuro estado independente junto com a Faixa de Gaza. Esta anexação de Israel fragmentaria ainda mais as terras e deixaria um espaço ainda menor para constituição de um Estado da Palestina.

Se se concretizar esta anexação será uma violação do direito internacional e de várias resoluções da ONU. Mais de 100 juristas denunciaram a violação de regras do direito internacional, que proíbem a tomada de território pela força e instou outros países a se oporem ativamente. A anexação israelense de partes da Cisjordânia também “acarreta consequências de ofensas internacionais e – sob certas circunstâncias – leva a responsabilidade criminal internacional individual”, afirmou uma carta assinada pelos profissionais do direito. Uma declaração assinada por quase 50 especialistas declarou como plano ilegal do primeiro-ministro de ampliar a soberania anexando terras palestinas.

Na declaração os juristas expressam:

“A anexação do território ocupado é uma violação grave da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra, e contrariamente à regra fundamental afirmada muitas vezes pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e pela Assembleia Geral de que a aquisição do território por guerra ou força é inadmissível”.

A população de Al Makhrour e Cremisan, consideradas como áreas agrícolas dependem para sobreviver, principalmente nas plantações de oliveiras em que estão localizadas. Não apenas suas frutas (azeitonas) são usadas, mas são usadas para fazer óleo, sabonetes e o uso de sua madeira por artesãos palestinos. Al Makhrour, é considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO desde 2004, mas isso não impede que Israel continue cometendo crimes de guerra, deslocando os palestinos de suas casas e destruindo suas oliveiras, campos, escolas e hospitais.

No vale de Cremisan, Israel construiu um assentamento ilegal de Har Gilo. Nesta região um mosteiro construído no século 7 de ordem salesiana que apoia os cristãos palestinos também fica ameaçado nesta anexação. O vinho que eles produzem e armazenam é conhecido como um dos melhores da Palestina. Há no mosteiro uma escola que é frequentada por 400 crianças. O que vai acontecer é que o mosteiro e sua escola e terras agrícolas serão separados pelo muro de Israel. Desde agosto de 2015 que Israel arranca árvores para ampliação do seu muro, assim como a construção de um túnel na área de Bir Onah. Teme-se que todo o vale seja fechado com o anuncio da anexação em 1 de julho.

Nesta semana milhares de israelenses e palestinos protestaram contra a anexação da Cisjordânia. Evidencia-se que esta decisão israelense com apoio dos Estados Unidos nos projetos de expulsão e colonização de palestinos é mais um esforço da política norte-americana na execução de uma política colonialista e genocida em parceria com o Estado de Israel.

É urgente a necessidade de formamos uma frente ampla de colaboração e solidariedade para o enfrentamento desta barbárie que configura esta anexação da Cisjordânia ampliando o espectro das violências vivenciadas pelos palestinos, a começar pela própria negação da Nakba e das formas usurpadoras de direitos pelos sionistas de plantão com o manejo do primeiro ministro de Israel em colaboração com EUA.

Francirosy Campos Barbosa é antropóloga, docente Associada ao Departamento de Psicologia da FFCLRP/USP, pós-doutora pela Universidade de Oxford, coordenadora do GRACIAS – Grupo de Antropologia em Contextos Islâmicos e Árabes. Membro da diretoria do IBRASPAL.
Publicado originalmente no site https://ibraspal.org/pt/post/naoaanexacaoeaocupacaoacisjordaniaesimapazeademo 

0
0
0
s2sdefault