“Rezávamos para morrer”
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- La Libre, AFP
- 10/11/2023
É um fluxo interminável de homens exaustos. Eles chegam em pequenos grupos, exaustos. Alguns caem de joelhos devido ao cansaço, e todos querem mostrar as cicatrizes de sua detenção em Israel: pulsos torturados, números amarrados nos tornozelos.
Na sexta-feira, Israel começou a devolver ao pequeno território palestino sob os bombardeios israelenses milhares de gazenses que haviam vindo trabalhar em seu solo antes de 7 de outubro. Alguns temem perder suas famílias e casas em Israel.
"Passamos 25 dias na prisão e hoje nos trouxeram aqui. Não temos ideia do que está acontecendo em Gaza, não temos ideia da situação", disse Nidal Abed à AFP, vestido com uma camiseta preta.
A situação à qual ele se refere, que começou há um mês, é a guerra desencadeada em 7 de outubro por um sangrento ataque do Hamas, que controla Gaza, e que causou mais de 1.400 mortes em Israel, segundo as autoridades.
Desde então, Israel bombardeia incessantemente a Faixa de Gaza, onde cerca de 2,4 milhões de palestinos vivem sitiados, muitos sem acesso à água potável, eletricidade e, cada vez mais, alimentos. Mais de 9.227 pessoas morreram, a maioria civis, nos bombardeios israelenses, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza.
Três dias após o ataque do Hamas, Israel cancelou os 18.500 vistos de trabalho concedidos aos palestinos de Gaza.
"Morrendo a qualquer momento"
Na passagem de fronteira de Karem Abu Salem (conhecida como Kerem Shalom no lado israelense), os repatriados passam em fila. Nenhum deles pôde levar seus pertences, e alguns conseguiram apenas colocar um casaco.
Yasser Mostafá, por exemplo, usava um cardigã sobre o pulôver quando foi detido nos primeiros dias da guerra, quando ainda estava em Israel.
"A polícia entrou em casa e nos levou", conta o homem à AFP, com o rosto desgastado.
"Nos colocaram em um campo que nem seria decente o suficiente para os animais", diz, "e nos torturaram com eletricidade, soltaram cachorros".
Um pouco mais adiante, vários homens mostram suas mãos com feridas ainda abertas e seus tornozelos com pulseiras de plástico azul. Em uma está escrito "061962", em outra "062030".
Um homem mostra seus pulsos, que ainda têm marcas de cortes, pancadas e amarras, diz.
Ramadã al-Issaoui diz que passou "23 dias em Ofer", uma prisão israelense na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel há mais de 50 anos.
"Estive em um centro de detenção com centenas de detidos", conta à AFP, com a voz trêmula. "Pensávamos que poderíamos morrer a qualquer momento. Davam-nos apenas comida e água para sobreviver, não sabíamos nada do mundo exterior".
"Filme de horror"
"Psicologicamente, estamos destruídos: não sabemos se nossas famílias estão vivas ou mortas, e se pelo menos tivéssemos estado aqui durante a guerra, poderíamos ter morrido junto com nossos filhos", diz, visivelmente lutando para falar, com a testa encharcada de suor.
Enquanto caminha em direção ao interior da devastada Faixa de Gaza para se reunir com a família que deixou para trás algumas semanas atrás, Sabri Fayez diz que acabou de sair de um "filme de terror".
"Era um filme de terror interminável que se repetia uma e outra vez: os serviços de inteligência, os interrogatórios, os cães que soltavam, as metralhadoras, enquanto éramos apenas trabalhadores, ganhando a vida", relata, agitando as mãos diante de seu rosto macilento.
"A cada minuto, rezávamos para morrer e acabar de uma vez", diz o homem com o rosto cansado.
Atrás dele, chegam novos grupos. E à frente, vários homens em cima de uma carroça puxada por cavalos avançam em direção ao interior da Faixa de Gaza, onde o estrondo das explosões é incessante.
Fonte: https://www.lalibre.be/
Tradução ao espanhol de Correspondencia de Prensa e ao português de Gabriel Brito, editor do Correio da Cidadania.
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