Um obscuro quadro dos EUA sem a reforma da saúde
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- Karen Davenport
- 12/03/2010
O orçamento do Congresso norte-americano resultou num lembrete útil sobre por que uma abrangente reforma da saúde é tão importante para o futuro de nossa nação. E não poderia vir em melhor hora. O orçamento anual do congresso (CBO na sigla em inglês) e o prognóstico econômico prevêem também maiores tendências econômicas para os próximos 10 anos, dando-nos uma visão adiantada da economia nacional sem a reforma da saúde. Não é um retrato promissor.
A análise da CBO não é uma versão refinada dos problemas das políticas de saúde. Mas traça um panorama das dinâmicas que dirigem o orçamento federal – particularmente o aumento do gasto federal na saúde. O mais importante é que projeta que os maiores seguros públicos de saúde – Medicare e Medicaid – vão crescer numa média de 7% e 6% ao ano, respectivamente. Esse aumento excederia o crescimento econômico, a inflação e o próprio aumento do orçamento federal. O crescimento desses programas – se não forem submetidos a reformas na saúde e nos seus gastos – vão impedir que cuidemos de nossas outras prioridades no orçamento.
O Medicare e o Medicaid são golpeados por um mercado de seguro de saúde mais extenso, inclusive na demanda por serviços, mudanças tecnológicas, preços e padrões de atendimento. Esses programas respondem aproximadamente a 40% do total dos gastos em saúde e cuidados médicos. Mas gastar nos programas privados de saúde tanto quanto nos públicos é algo dirigido por excessos de custos, serviços de alta tecnologia e desrespeito a seus valores. Gastos públicos e privados continuarão a crescer sem algumas iniciativas de reformas salariais e de outros custos.
Uma abrangente reforma da saúde – que direcionasse custos e cobertura – muda essas dinâmicas. Encoraja os planos a entregar algo de alta qualidade, ao invés de alta quantidade; melhora o acesso aos cuidados básicos; expande a disponibilidade de ferramentas como informações de tecnologia da saúde e pesquisa sobre que tratamentos funcionam ou não. As tendências fundamentais de nosso sistema de saúde não vão mudar sem tais reformas. E o Medicare e o Medicaid continuarão a absorver uma parcela sempre crescente da economia de nossa nação e do orçamento federal.
Esse aumento de gastos tem conseqüências que vão além do orçamento federal. Muitas pessoas que têm a cobertura do Medicare, por exemplo, vão pagar taxas significativamente mais altas por seus seguros de saúde. Estados vão lutar para equilibrar seus orçamentos enquanto investem no programa. E o fundo de manutenção do Medicare vai se aproximar da completa exaustão e abandono, jogando seu futuro de longo prazo em incerteza maior ainda.
Obviamente, os gastos futuros do Medicare e do Medicaid são apenas um aspecto de um quadro mais amplo do status quo. Como notaram os analistas do Urban Institute, falhar em reformar nosso sistema de saúde acarretaria custos estrondosos. Muitos empregadores veriam seus custos em saúde mais que dobrar, o que diminuiria suas condições de providenciar a cobertura e contratar outros trabalhadores. Famílias enfrentariam custos fora de padrão, inflacionados em 35% ou até mais.
Metade dos estados veria o Medicaid e o Programa de Seguro de Saúde Infantil custando mais que o dobro. E a quantidade de estadunidenses sem seguro de saúde subiria para 65 milhões. Claramente, o retrato da economia norte-americana sem a reforma do sistema de saúde seria dos mais obscuros, ameaçando piorar. Esse é o quadro que queremos pintar?
A reforma da saúde em números
Os gastos com saúde estão fora de controle. O total de dinheiro investido em 2008 chega a 17% dos rendimentos domésticos dos norte-americanos, quando chegou a ser de 6% em 1965. E espera-se que o gasto nacional com saúde alcance 25% de nossa renda em 2025. Sem a reforma, o gasto federal no Medicare e no Medicaid sozinhos já irá exceder todo o orçamento de defesa em 2019. Os cuidados com a saúde terão gastos maiores que o total de todos os programas domésticos específicos neste ano, e superarão os investimentos na seguridade social.
Uma reforma na saúde não a tornará apenas mais acessível a mais americanos, serve pra economizar em taxas de cobertura e o governo ganha bilhões de dólares para introduzir mais empregos e oportunidades na economia.
Restaurar a maneira como se oferece tal serviço irá possibilitar autênticas economias orçamentárias e melhor saúde.
Os dados
US$ 2 trilhões: Quantia que poderemos economizar nos próximos 10 anos promovendo inovações na maneira de gastar e reduzindo os desperdícios e ineficiências.
US$ 196 bilhões: Economia em gastos administrativos associados à tecnologia e reformas salariais.
US$ 299 bilhões: Economia estimada como resultado do aumento da aplicação de saúde preventiva, mais controle sobre doenças crônicas e redução em erros médicos, levando a menores e menos casos críticos na saúde das pessoas.
A reforma no Medicare, um dos maiores componentes nas contas de uma reforma de saúde, agora em apreciação no Congresso, poderia economizar bilhões nos próximos 10 anos.
O orçamento projetado pelo Congresso diz que em 2020 as despesas para o Medicare e Medicaid – os dois maiores programas de saúde – seriam 2% mais que todos os gastos domésticos, e maior do que foram em 2008.
14,2%: Parcela do Medicare no orçamento federal de 2009, acima dos 13% de 2008. O Medicare também foi de 3,2% do orçamento doméstico em 2008 para 3,5% em 2009.
U$499 bilhões: Gastos federais com o Medicare em 2009. Se não for decretada a reforma da saúde, a expectativa de gastos do governo no Medicare irá praticamente dobrar, totalizando US$1 trilhão em 2020.
14%: Quantia que o Medicare gasta com seguradoras privadas no Medicare Advantage Program. As taxas economizadas são estimadas em 175% nos próximos 10 anos, reduzindo os gastos extras do Medicare com planos privados.
US$ 17,4 bilhões: Custo estimado das re-hospitalizações imprevistas dos beneficiários do Medicare. Aproximadamente um em cada cinco dos associados ao plano que tiveram alta do hospital volta inesperadamente em menos de 30 dias.
US$12 bilhões: Economia estimada com taxas nos próximos 10 anos criando-se incentivos ligados à qualidade da saúde dos beneficiários do Medicare.
US$38 bilhões: Valor estimado de economia do Medicare na próxima década redirecionando gastos a ensinar os hospitais a investirem em condicionamento físico das pessoas para encorajar cuidados básicos de saúde.
O dobro do custo em despesas indiretas no treinamento físico adequado aos pacientes do Medicare. A reforma da saúde se traduz em novos empregos para americanos que precisam dramaticamente.
400 000: número de empregos que poderiam ser criados por ano se a reforma do sistema de saúde for aprovada, o que reduz o crescimento das indenizações.
120 000: Número de empregos adicionados à economia para cada 10% de custos excessivos em saúde reduzidos.
Nosso atual sistema de saúde é um grande desperdício e ineficiente, além de muito comumente alguns procedimentos serem feitos para reduzir os custos sem propiciar nenhum beneficio para os enfermos ou feridos.
US$ 800 bilhões é o custo anual do desperdício e equívocos de nosso sistema de saúde.
Um terço ou mais do número estimado de tratamentos e procedimentos cirúrgicos realizados nos EUA que não tiveram benefícios comprovados.
Entre 18 e 33 bilhões de dólares: é o preço que o uso abusivo dos serviços de radiologia custa anualmente aos americanos.
US$550 milhões: Valor do excesso de prescrição de antibióticos para a nação, anualmente.
US$700 milhões: é quanto se poderia economizar por ano eliminando implantações desnecessárias de stents cardíacos.
Mais de U$2 bilhões: quantia que gastamos a cada ano com artroscopias de joelho para pessoas com artrite – uma cirurgia que sabemos que não ajuda esses indivíduos.
Mais de 70%: porcentagem de histerectomias (cirurgias de retirada de útero) que foram consideradas inapropriadas por especialistas.
Karen Davenport é diretora de Políticas de Saúde no American Progress.
Traduzido por Gabriel Brito, Correio da Cidadania.
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