Butão e a agricultura orgânica
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- Marcus Eduardo de Oliveira
- 02/10/2012
Imaginemos um lugar no mundo em que a taxa de analfabetismo seja zero, onde não haja problemas de mendicância e nem registros de corrupção, e onde suas florestas, ocupando 80% do território, sejam preservadas. Imaginemos um lugar em que o sistema de produção agrícola não faça uso de fertilizantes sintéticos e nem de agrotóxicos, que não use inseticidas, herbicidas, fungicidas, nematicidas ou adubos químicos; que valoriza e faça uso eficiente dos recursos naturais não renováveis, alinhando os processos biológicos à biodiversidade, respeitando o meio ambiente, revitalizando a natureza em lugar de degradá-la, buscando qualidade de vida, preservando o habitat natural, reciclando os recursos, aplicando os princípios da agroecologia.
Imaginemos um lugar qualquer no mundo que tenha abolido a produção, o consumo público, a venda e a importação de cigarros. Imaginemos um lugar cujo sistema de trânsito seja orientado pelos princípios da boa educação e do respeito dos motoristas aos apitos dos guardas, em lugar dos semáforos. Imaginemos um ponto no mapa, mais precisamente entre as montanhas do Himalaia, entre a China e a Índia, em que a medida usada nesse lugar para calcular o progresso nacional seja a Felicidade Nacional Bruta (FNB - Gross National Happiness).
Pois esse lugar existe. Trata-se do Reino de Butão, um pequeno país com uma área de pouco mais de 38 mil km² e com uma população de 700 mil habitantes, cuja economia se baseia na agricultura de subsistência, no turismo e na venda de energia hidrelétrica para a vizinha Índia.
Butão tem mostrado ao mundo que é possível alcançar padrões de vida sustentáveis e saudáveis. O objetivo agora, depois do inovador método de medir a qualidade de vida por critérios holísticos e psicológicos baseados nos valores budistas, é alcançar, até 2020, 100% de agricultura orgânica. Para isso, desde 2007, o Butão selecionou um conjunto de técnicos e especialistas para estudar métodos de difusão do cultivo orgânico (30% mais valorizado em relação ao convencional) entre os agricultores, além de novas técnicas que tendem a potencializar o uso do solo objetivando a autossuficiência alimentícia.
Na essência, Butão vem demonstrando que é possível produzir valorizando a saúde humana, alinhando-se a um profundo respeito ao meio ambiente. O outro nome disso? Desenvolvimento humano sustentável, ou se preferirem: valorização da vida!
Marcus Eduardo de Oliveira é economista, professor e especialista em Política Internacional pela Universidad de La Habana – Cuba.
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