Correio da Cidadania

Parque Fontes do Ipiranga, sítio da Independência, no alvo das privatizações de Doria

0
0
0
s2sdefault


O prefeito João Doria, grande expoente paulista da “nova direita”, anunciou um ambicioso plano de desestatização estadual. Menos midiática do que a venda de equipamentos como o estádio do Pacaembu ou de grandes ativos públicos, o Parque Estadual Fontes do Ipiranga (PEFI) também está na lista. É sobre esta área, que inclui o zoológico e o Jardim Botânico, que conversamos com Izabel Ramos, da Associação Amigos da Água Funda.

“PEFI é o maior fragmento de Mata Atlântica em área urbana da região metropolitana, com muitos exemplares de fauna silvestre e a presença de espécies ameaçadas de extinção”.

Além de explicar a importância da preservação deste trecho que inclui mata original, ecossistemas sensíveis e também a pesquisa e o trabalho de diversos profissionais, critica a orientação do governo estadual.

“Está pautado no maior programa de privatização do estado de São Paulo. Essa gestão visa somente agradar/beneficiar a classe empresarial, de maneira que em nenhum momento houve a consulta ou participação da sociedade civil”.

Confira a entrevista completa a seguir.

Correio da Cidadania: A Associação dos Moradores da Água Funda existe há quanto tempo e desde quando a questão da preservação da área florestal da região do Ipiranga é uma pauta?

Izabel Graciana Mendes dos Ramos: A associação foi fundada em setembro de 1962, por um grupo de moradores preocupados em buscar melhorias para o bairro, época em que girava em torno de uma siderúrgica com alto grau de poluição. Além disso existia uma carência na habitação, educação e na saúde.

A Associação trouxe também uma organização para a luta dos moradores pela preservação do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), tanto que em seu estatuto consta o desenvolvimento de projetos relacionados à temática do meio ambiente.

Correio da Cidadania: O que pensam do Projeto de Lei 183/19, que visa conceder à iniciativa privada o Parque Estadual Fontes do Ipiranga?

Izabel Graciana Mendes dos Ramos: É o fim da preservação da área das nascentes do riacho Ipiranga, conservada desde 1892 por um decreto do Sr. Bernardino de Campos (segundo governador de São Paulo).

Portanto, o PEFI possui amplo valor histórico-cultural, além de óbvia importância ambiental e científica, por representar símbolos ligados à Independência brasileira.

O PEFI é o maior fragmento de Mata Atlântica em área urbana da região metropolitana, com muitos exemplares de fauna silvestre e a presença de espécies ameaçadas de extinção.

Correio da Cidadania: Qual seria o tipo de exploração econômica que se poderia ter do Parque? O projeto legaliza o desmatamento?

Izabel Graciana Mendes dos Ramos: A concessão, cujo prazo alcançará 35 anos, poderá configurar uma ameaça à área e desviar o principal foco de sua administração, qual seja, preservação, conservação e uso sustentável da biodiversidade paulista e brasileira, inclusive seu papel educacional e científico.

É de pleno conhecimento que a iniciativa privada visa somente o lucro e não se importa com a consequência que isso vai gerar.

Correio da Cidadania: Quais seriam as eventuais consequências da concessão deste parque, ainda mais considerando se tratar de uma região onde alagamentos de grande magnitude já ocorrem com alguma frequência em épocas de chuvas?

Izabel Graciana Mendes dos Ramos: Os alagamentos que ocorrem atualmente já são fruto do desrespeito à natureza. Temos nos mapas da década de 30 duas represas na região, que foram aterradas para construção de vias (o início da Rodovia dos Imigrantes, a partir de uma saída da avenida dos Bandeirantes, onde atualmente está em construção um piscinão) e a avenida Ricardo Jafet, em seu cruzamento com a rua Bosque da Saúde.

Correio da Cidadania: Como foi a audiência pública na Assembleia Legislativa de São Paulo no dia 29 de maio?

Izabel Graciana Mendes dos Ramos: A audiência foi o momento de mostrar a preocupação com os trabalhos de pesquisadores (atualmente são 50) desenvolvidos na área do Jardim Botânico.

Correio da Cidadania: O que pensa dos planos de gestão de João Doria frente do governo do estado de São Paulo?

Izabel Graciana Mendes dos Ramos: Está pautado no maior programa de privatização do estado de São Paulo. Essa gestão visa somente agradar/beneficiar a classe empresarial, de maneira que em nenhum momento houve a consulta ou participação da sociedade civil.

Existe uma vertente ideológica de que é preciso se desfazer de bens públicos porque eles não dão lucros, o que não é verdade. Se temos um governo estadual que mostra não ter capacidade para administrar um parque, o que dirá administrar algo da grandeza de um estado como o de São Paulo?

Leia também:

Movimento defende última floresta de São Paulo

Gabriel Brito é jornalista e editor do Correio da Cidadania.

0
0
0
s2sdefault