Correio da Cidadania

Clima exige outro normal para os municípios

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Foto: Isabelle Rieger/Sul21

Se consolidarmos este denominado “novo normal”, simplesmente caminhamos para nosso fim! Exagero? Vejam o que ocorre em todo o Planeta! Desastres climáticos sem fim, intensos como nunca antes e repetitivos.

Aqui no Rio Grande do Sul, em apenas oito meses tivemos três inundações, a de maio de 2024 mais ampla e distribuída do que a de 1941.

Não se tratam de meros aquecimentos globais que ocorrem de períodos em períodos, como dizem falsos cientistas, negacionistas.

Precisamos construir um normal sustentável, que assuma a regeneração da natureza e estabeleça novos modelos de vida e produção. Estes podem ser menos caros, mais eficientes e com mais qualidade de vida para todos(as), enfim sustentáveis.

Para isto é preciso negar os negacionistas. Não só os falsos cientistas, mas principalmente os governantes e legisladores que destroem estruturas públicas essenciais e não cumprem seus compromissos de gestores públicos, bem com parcelas do Ministério Público e do Judiciário que, equivocadamente, dão cobertura a fakes e práticas destrutivas.

O que assistimos em Porto Alegre na inundação de maio passado? Nosso Sistema de Proteção contra Cheias, que impede a invasão das águas do Gravataí e do Guaíba sobre a Cidade, robusto e suficiente para eventos até maiores do que este não funcionou adequadamente, simplesmente porque os diques da Sarandi, comportas e Casas de Bombas não tem as corriqueiras e elementares manutenções desde 2020. O Sistema de Drenagem Pluvial, a quem cabe a retirada das águas das chuvas internas e esgotos, também teve manutenção insuficiente em bocas-de-lobo, canalizações e nos importantes arroios. O resultado está aí: qualquer chuva alaga demasiadamente a cidade.

A Prefeitura proibiu o uso da palavra manutenção e responde a tudo com fakes indefinidamente.

O saneamento ambiental (ou básico, conforme definido na Legislação), integrado com o meio ambiente, sempre foi e é de responsabilidade municipal e possui a possibilidade de ser um dos eixos centrais para uma cidade mais justa e sustentável. Como a maioria dos municípios não possui recursos suficientes para planejá-lo e executá-lo necessita do apoio dos governos estaduais e da União.

O saneamento é um excepcional investimento, melhor que qualquer aplicação financeira: a cada real aplicado em água potável, coleta e tratamento de esgotos, reuso, reciclagem, compostagem e tratamento dos resíduos sólidos em aterros sanitários (todos devidamente coletados), bem como a drenagem pluvial e a proteção contra inundações, poupa-se três reais em Saúde. Mais: não é possível ensinar às pessoas sem saneamento e nem é realizável qualquer tipo de desenvolvimento.

Ainda é gerador de renda e postos de trabalho tanto quanto a construção civil ou mais. Na década de 90, Porto Alegre já executou várias bacias de amortecimento, principal instrumento do conceito de “Cidade Esponja”. Já passou da hora de intensificar a implantação das medidas de retenção das águas excedentes em chuvas maiores.

Entre outros aspectos mais diretamente vinculados ao Meio Ambiente cabe a permanente recuperação dos arroios (Arroio Não é Valão), a efetivação de praças e parques em locais já definidos como áreas verdes no Plano Diretor, corredores verdes ao longo dos arroios, rios e lagos; áreas verdes substituindo áreas de risco (cuja população deve ser reassentada em locais seguros); toda terra nua, pública ou privada, deve ser coberta principalmente por vegetação. O meio rural também deve possuir mais arborização, inclusive em meio às plantações e pastagens. Além disto finalmente devem ser efetivadas todas as medidas contidas na ABC – Agricultura de Baixo Carbono – aprovadas em 2009, na COP-15, em Copenhaguen/Dinamarca, com participação do Brasil.

Estas medidas acima, dependendo de cada município, podem reduzir a geração dos Gases de Efeito Estufa – GEEs – em valores muito altos, superando os 20%. Melhor ainda: possuem enorme potencial de captação destes gases, evitando que subam à camada de Ozônio.
E quem gera mais GEEs nos grandes centros urbanizados como Porto Alegre? São os combustíveis fósseis, principalmente gasolina e óleo diesel, em nada menos de 65%, na sua maioria vinculados ao transporte.

Temos aí um segundo eixo central para a necessária efetivação de mudanças: o transporte.
Além da óbvia racionalização do seu uso, que inclui a valorização do transporte coletivo, cabe acelerar a introdução dos veículos elétricos em todas as modalidades. Será uma revolução ambiental de nossa época. Duvidam? Praticamente não produzem poluição, nem com gases e nem com ruído. Imaginem uma Porto Alegre sem as emissões em canos de descarga e com um mínimo de ruído?

Tudo muito caro? Os chineses vão providenciar a rápida queda dos preços dos veículos elétricos.

Ao contrário do que se prega, um município com produção e vida sustentável é mais justa, mais segura, menos cara e com muito mais qualidade de vida.

A natureza e o planeta reviverão!

O que precisa? Elegermos gestores executivos e legislativos comprometidos com estes princípios e medidas. Hoje, em Porto Alegre, temos um gestor que não cumpriu com seus compromissos públicos e inclusive os nega. Há candidatas femininas que defendem mudanças, contra a insegurança da Cidade e com compromissos públicos. Uma destas candidatas é sucedânea das Administrações Populares, que, guardadas as diferentes épocas, já efetivavam a maioria destes princípios. Estas propostas trazidas à conjuntura atual constituem o Programa de Governo desta candidata.

Leia aqui as entrevistas de Vicente Rauber ao Correio da Cidadania após a catástrofe climática do RS.

Engenheiro Especializado em Plano Energético e Ambiental e Gestor de Empresas. Ex-Diretor do DEP e do DEMHAB e Coordenador do Forum Municipal de Meio Ambiente e Saneamento. Ex-Pres da CEEE. Ex-Diretor da Petrobras/REFAP e Banrisul.
Publicado originalmente em Sul 21.

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