Correio da Cidadania

Desta vez, os inimigos da Pátria são os quilombolas

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Como discutimos no editorial "Ambientalistas, os novos inimigos da Pátria (Quem são os inimigos da Pátria?)", o governo, seus ministros – exceções honrosas -, parlamentares ruralistas, representações empresariais, com o apoio expresso da grande mídia, sempre que podem atacam os ambientalistas, como sempre atacaram os movimentos sociais e populares.

 

A campanha difamatória não perde fôlego e, desta vez, ataca os quilombolas.

 

De acordo com a Agência Estado, o ministro da Ciência e Tecnologia (MCT), Sérgio Rezende, criticou a ‘intransigência’ de quilombolas na região de Alcântara, no Maranhão. Segundo ele, "está havendo uma certa intransigência", disse. Ele manifestou preocupação com a situação, observando que o movimento "tem impedido ou dificultado a evolução do programa espacial". "Temos de ter um diálogo. Nesse momento eles estão impedindo o trabalho que nós estamos procurando fazer", afirmou o ministro, que esteve em Belo Horizonte, onde assinou convênios com o governo de Minas Gerais. "Muitos desses movimentos sociais são liderados por pessoas que até têm outros interesses", disse, sem citar quais seriam essas pretensões.

 

Argumentos semelhantes, pelas mesmas ‘razões’ e igualmente contra os quilombolas, já haviam sido usados pelo ministro Jobim. Segundo a Folha Online o ministro Jobim afirmou que "Da perspectiva do Ministério da Defesa, a área de Alcântara é imprescindível. Ou seja, o Brasil é o único que dispõe, junto com a França, em Kouru (base de lançamentos na Guiana Francesa), de local privilegiadíssimo para o lançamento de satélites. Não podemos abrir mão desse aspecto", afirmou, no Rio.

 

As declarações dos ministros, por si mesmas, demonstram de quem é a intransigência e a falta de diálogo. Ambos demonstram e fazem questão de expressar que o governo quer a área e ponto final.

 

Outra questão são os outros interesses que "têm impedido ou dificultado a evolução do programa espacial". Bem, vamos avaliar um pouco melhor a quem interessaria "sabotar" o nosso programa espacial.

 

É evidente que as agências espaciais e a indústria aeroespacial dos EUA e Europa não devem estar preocupadas conosco, já que estão anos-luz a nossa frente. A China, a Ucrânia e a Índia têm diversas parcerias conosco nesta área e sempre demonstraram vontade de avançar ainda mais.

 

Sobram os nossos vizinhos latino-americanos e, mesmo eles, também não estão preocupados com o nosso programa espacial, principalmente porque todos têm coisas mais importantes e urgentes com que se preocupar.

 

As acusações generalistas de que os movimentos sociais têm outros interesses precisam ser provadas e documentadas. Se não o foram até agora é porque os ‘fatos’ não existem. Se existissem e pudessem ser provadas, alguns ministros não perderiam a oportunidade de criminalizar os que se opõem ao seu desenvolvimentismo.

 

O governo não está percebendo que diversos ministros estão perdendo contato com princípios básicos das democracias modernas, inclusive esquecendo que os governos são transitórios, mas a sociedade não é.

 

Atitudes recheadas de arrogância e soberba, que defendem o princípio de que ‘os fins justificam os meios’, podem ser muito perigosas para a democracia. Não podem e não devem ser permitidas e muito menos estimuladas. O governo deve ficar atento ou vai perder o controle do ‘serpentário’.

 

Na outra ponta da questão, há quem, dentro do governo, queira estimular a reaproximação com os movimentos sociais e populares. Mas fica a pergunta: reaproximar em que? Qual a pauta? Quais as propostas e compromissos?

 

Estes são momentos difíceis e, ao que parece, podem piorar e muito. Mas não precisam piorar.

 

Tenho certeza de que os movimentos sociais e populares continuam abertos ao diálogo e têm tanto amor ao país como qualquer ministro diz ter. Mas, acima de tudo, um diálogo só pode ser construído com respeito.

 

O governo deve explicar aos ministros o que são os movimentos sociais e populares, qual a importância destes movimentos para que este governo fosse possível. Deve ainda explicar que o respeito para com parceiros históricos não pode ser menor do que o respeito para com os aliados de ocasião.

 

A partir daí, o diálogo necessário torna-se possível.

 

Henrique Cortez é coordenador do Ecodebate.

E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Comentários   

0 #4 antonio francisco da silva 27-03-2009 07:31
O Agro-negocio com sua voracidade por terras vem destruindo comunidades inteiras,no maranhão,mt ,ms e região amazônica em geral.esses sim,são inimigos de uma nação brasileira integrada e forte.ao contario dos quilombolas que querem apenas viver em paz em suas comunidades
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0 #3 Inimigos da pátria - Quilombolascarlos Alberto Santos de Paulo 09-03-2009 07:08
Prezados(as)HAVERÁ UM TEMPO EM QUE FAREMOS REVISÃO DA NOSSA HISTÓRIA DE VERDADE, NÃO PODEREMOS MANTER UMA VISÃO ETNOCENTRISTA E PARCIAL DA FORMAÇÃO HISTÓRICA DESSE PAÍS, AS COMUNIDADES QUILOMBOLAS FAZEM PARTE DA HISTÓRIA DE INJUSTIÇA PERPETRADA DESDE A INVASÃO EUROPÉIA. SEJAMOS RAZOÁVEIS COM A HISTÓRIA. EM NOME DO FUTURO DO BRASIL.
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0 #2 Inimigos da pátria - Quilombolas.Hélio Jost 25-02-2009 09:20
Não Trajano, a criação de territórios quilombolas não é uma brincadeira de mau gosto. O argumento de FALTA DE PREPARO é faaccioso. Graças aos Quilombos, temos milhares de áreas presenrvadas e que interessas ao AGRONEGÓCIO predador, explorador e produtor de produtos primários de exportação, sem falar na sua importância cultural. Queiramos ou não, somos um País de mulatos. Sou do sul, descendente de alemães de quatro costados, mas totalmente favorável à preservação das áreas quilombolas.
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0 #1 Quilombolas, inimigos da PátriaTrajano Gracia 22-02-2009 08:09
A criação de territórios quilombolas é uma brincadeira de mau gosto, pois a maioria dos afrodescentes, que são mulatos, não estão preparados para serem criados enclaves raciais em nosso país.
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