Um verão para Dilma
- Detalhes
- Roberto Malvezzi (Gogó)
- 20/01/2011
A presidente Dilma visitou as áreas devastadas pelas chuvas. Pousou no lugar. Conversou com os prefeitos e o governador. Não riu das pererecas, dos bagres, nem criticou os ambientalistas, o Ministério Público, os indígenas e os quilombolas. Humildemente disse que era também um momento de aprender.
Dilma tem aparência dura, mas muitas vezes chora em público. Chorar e sorrir são atitudes exclusivas do ser humano, sinais de inteligência e sensibilidade.
Portanto, esperamos da presidente atitudes coerentes com seu procedimento e com suas palavras. O primeiro passo do poder público é mesmo socorrer com o melhor essas populações. Em segundo, é preciso o mapeamento imediato das áreas de risco no Brasil e o investimento prioritário para remover essas populações.
Será um custo econômico astronômico, mas ainda é melhor prevenir que remediar, porque muito além do econômico está a vida da população. Essa tragédia, ao soterrar condomínios de luxo, prova mais uma vez que, diante do que o mundo vem atravessando e vai atravessar, a natureza não distingue classe social.
Muitos especialistas comparam o que aconteceu no Brasil agora com o que acontece na Austrália e outros países, como Bélgica. Oras, não se pode avaliar essas tragédias apenas pelas mortes, mas por todos os prejuízos e transtornos físicos e psicológicos que eles causam. Quem passa por essa situação, a cada chuva, revive a tensão emocional de situações do passado.
O que acontece no mundo é muito mais grave que fortes chuvas de verão. O fracasso de Copenhague, Cancun, o avanço progressivo das cidades e agricultura sobre as florestas desabam em fenômenos que agora presenciamos.
Dilma precisa, enfim, vetar qualquer mudança no Código Florestal que venha aumentar o desmatamento nas encostas e às margens dos rios. A força econômica e política do agronegócio não pode sobrepor-se aos direitos da esmagadora maioria do povo brasileiro. Sua racionalidade econômica é irracional para o bem do conjunto da nação.
Sobretudo, a presidente precisa entender que ela tem um papel histórico infinitamente maior que ser uma gerente dos interesses do capital. Precisamos ser um país melhor e equilibrado, não necessariamente a 5ª economia do mundo.
A história lhe deu gratuitamente o papel de conduzir o país para um novo paradigma civilizacional, justamente nesse momento que atravessamos uma mudança de época.
Tomara que ela compreenda a magnitude da tarefa que lhe cabe e não se abespinhe diante de interesses poderosos, mas profundamente mesquinhos.
Lembremo-nos sempre: hoje foi na casa do vizinho, amanhã poderá ser na nossa.
Roberto Malvezzi, o Gogó, é assessor da CPT – Comissão Pastoral da Terra.
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