Correio da Cidadania

As Nucleares no São Francisco

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O governo Lula, agora Dilma, realmente decidiu arrancar dos porões da ditadura militar suas principais obras. Além da transposição do São Francisco, barragens e outras grandes obras de infra-estrutura, agora ressuscita o desenvolvimento da energia nuclear no Brasil.

 

Combatida no mundo inteiro, recuou nos países da Europa, sobretudo depois do acidente de Chernobyl, onde a nuvem radioativa, além de causar uma tragédia na região, ameaçou pairar sobre a Europa.

 

No Brasil tivemos a dimensão do que pode ser com o simples fato de uma família de recicladores se encantar com um objeto luminoso em Goiânia, contaminando a si mesma e a região ao seu redor.

 

Temos ainda a experiência desastrosa das duas usinas atômicas de Angra dos Reis. Com muito custo, pouca utilização e ameaças constantes pela instabilidade da própria obra de engenharia, as usinas já serão desmontadas por esgotarem o prazo de validade de aproximadamente 40 anos.

 

Os rejeitos, fruto do "descomissionamento" – desligamento, desmontagem e armazenamento -, continuarão radiativos por aproximadamente mil anos.

 

As águas subterrâneas de Caetité, Bahia, onde estão nossas jazidas de urânio, estão contaminadas por radioatividade.

 

Agora o governo fala em construir pelo menos 50 usinas atômicas no Brasil, claro, começando pelo rio São Francisco. Certamente, nosso Velho Chico é mesmo a lixeira do Brasil.

 

O lugar ideal seria Belém do São Francisco, divisa do Sub-médio São Francisco com o Baixo, próximo às antigas cachoeiras de Paulo Afonso. O argumento é que ali vivem poucas pessoas (sic!), que já existe uma rede de distribuição de energia instalada e, claro, tem as águas do São Francisco. Além do mais, está próximo do Raso da Catarina, uma região pouco habitada, onde só Lampião sabia viver, considerada ideal como depósito de rejeitos.

 

Particularmente sou favorável a construção de nucleares, desde que a primeira seja feita na Praça da Sé, São Paulo. A segunda na praia de Ipanema, Rio de Janeiro. E a terceira, evidentemente, na Praça dos Três Poderes, Brasília. Se ali for seguro, então é seguro para o resto do Brasil.

 

Roberto Malvezzi, o Gogó, é assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

 

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Comentários   

0 #4 Nucleares atrapalham o futuroJosé A. de Souza Jr. 09-02-2011 14:51
Usinas nucleares, pela inflexibilidade com que foram concebidas, impedem, juntamente com as usinas a carvão, uma maior utilização de energias renováveis intermitentes (solar fotovoltáica e eólica, principalmente). Ocorre já na Espanha e na Alemanha, os operadores do sistema elétrico paralizarem as eólicas, mesmo que não fatem ventos adequados, para se dar prioridade às usinas nucleares e a carvão. Usinas nucleares, vão contra, portanto, a revolução tecnológica em curso das renováveis. Só uma razão existe para se desejar as nucleares: trata-se inevitavelmente de tecnologia de uso dual; o desejo de um dia se montar rapidamente um artefato explosivo. Mas no mundo de hoje isso é irrelevante. Não basta ter um ou meia dúzia de artefatos explosivos sem se entrar de cabeça numa verdadeira corrida armamentista. É isso que nós brasileiros desejamos?
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0 #3 Educação BásicaJosi Oliveira 05-02-2011 23:36
O Brasil deveria investir em educação básica, isto sim está cada dia mais deficitario, a falta de professores está uma verdadeira vergonha. O número de engenheiros está cada vez menos, e é isso que deveria ser pensado, investir na formação de profissionais para a criação de novas soluções para a geração de energia, ou mesmo mais estudos relacionados com a instabilidade das usinas nucleares. Não se pode arriscar a segurança de milhares de pessoas, temos uma contituição Federal e ela deve ser respeita.
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0 #2 NuclearesRoberto Malvezzi 04-02-2011 09:15
Vivemos uma época diferente. O consumo do primeiro mundo, mais que solução, é o problema. Muitos cálculos sobre a sustentabilidade do planeta nos dizem que esse padrão de consumo é impossível para toda a humanidade. Portanto, desenvolvimento tem que ganhar ares de qualidade, não só de quantidade. É a comunidade da vida que está em risco. Por isso, economistas-ecológicos como Alier dizem que o raciocínio econômico deve considerar o que até agora foi considerado externalidade no mundo econômico, entre elas, o consumo de energia.
Tomara que haja mesmo debate sobre essas questões,que não fiquemos reféns de decisões tecnocráticas e fechadas, mas que recaem depois sobre a cabeça de todo povo.
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0 #1 O BRASIL DEVE INVESTIR EM ENERGIA NUCLEALeonam Guimarães 03-02-2011 11:52
As necessidades de geração de emprego e renda e as carências em educação, saúde, moradia, saneamento básico e transporte de massa da sociedade brasileira, que é 80% urbana, são bem conhecidas e se refletem no nosso PIB e IDH. Todas as políticas públicas para vencer estes grandes desafios requerem aumento no consumo de eletricidade.
Nosso consumo atual é de pouco mais de 2.000 kWh/ano por brasileiro e é menor que a média mundial. Está muito abaixo do patamar de 4.000 kWh/ano que caracteriza o mínimo dos países desenvolvidos, cujo IDH é superior a 0,9. É bem menor do que Chile e Argentina e menos da metade dos países de desenvolvimento recente, como Portugal (4.500), Espanha (5.600) e Coréia do Sul (6.400).
Este é um sintoma da imensa demanda reprimida do nosso povo, que não existe nos países desenvolvidos. Para eles, o grande desafio é a eficiência energética e a renovação do parque gerador para cumprir metas de redução de CO2.
O esforço de gerações de brasileiros construiu um formidável parque hidrelétrico. A maior parte desta energia limpa, barata e renovável foi construída em regiões onde a topografia era favorável a grandes reservatórios, minimizando o risco devido às sazonalidades do clima.
O progressivo aumento da demanda e condicionantes socioambientais cada vez mais restritivas têm feito com que o estoque de água nos reservatórios tenha se mantido quase constante desde meados dos anos 90, trazendo a crescente necessidade de complementação térmica para garantir a segurança do abastecimento, lição duramente aprendida no “apagão” de 2001.
Poderíamos dobrar nossa potência hidrelétrica atual tratando com muita racionalidade a questão socioambiental. Mas essa potência adicional não irá gerar a mesma quantidade de energia do parque existente, pois será composta por usinas “a fio d´água”, com pequenos reservatórios.
Para atingir o patamar mínimo de país desenvolvido, precisaremos aproveitar todo este potencial e expandir muito o parque eólico e de biomassa. Entretanto, só isso não será suficiente. Complementar a geração continua na base do sistema e regular as sazonalidades intrínsecas às renováveis irá requerer algo como 15 usinas térmicas de 1000 MW adicionais.
Para a parcela desta complementação que operará na base, a geração nuclear e a carvão são aquelas de menor custo. Porém a nuclear é a única que não implica emissão de CO2 e cujo combustível pode ser 100% nacional. Para a outra parcela que regula sazonalidades, o gás natural e o petróleo continuarão sendo indispensáveis.
A experiência obtida no projeto, construção e operação de Angra 1, 2 e 3 e uma das maiores reservas de urânio do mundo, com potencial energético comparável ao pré-sal, somadas ao domínio tecnológico do ciclo do combustível, fazem com que a energia nuclear no Brasil seja altamente competitiva.
Isto torna do maior interesse nacional uma ampla discussão no seio da sociedade, similar à do pré-sal, para definição das modalidades adequadas de exploração do urânio e da geração nuclear que permitam garantir auto-suficiência e retorno social sustentável ao País.
Com investimento, planejamento, tecnologia e adequada gestão de todas as reservas nacionais, renováveis e não-renováveis, nelas incluída a energia nuclear, nosso País poderá desfrutar neste século XXI de ampla segurança energética, gerando excedentes exportáveis, e finalmente atingir o nível de desenvolvimento que todos desejamos.
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