As Nucleares no São Francisco
- Detalhes
- Roberto Malvezzi (Gogó)
- 01/02/2011
O governo Lula, agora Dilma, realmente decidiu arrancar dos porões da ditadura militar suas principais obras. Além da transposição do São Francisco, barragens e outras grandes obras de infra-estrutura, agora ressuscita o desenvolvimento da energia nuclear no Brasil.
Combatida no mundo inteiro, recuou nos países da Europa, sobretudo depois do acidente de Chernobyl, onde a nuvem radioativa, além de causar uma tragédia na região, ameaçou pairar sobre a Europa.
No Brasil tivemos a dimensão do que pode ser com o simples fato de uma família de recicladores se encantar com um objeto luminoso em Goiânia, contaminando a si mesma e a região ao seu redor.
Temos ainda a experiência desastrosa das duas usinas atômicas de Angra dos Reis. Com muito custo, pouca utilização e ameaças constantes pela instabilidade da própria obra de engenharia, as usinas já serão desmontadas por esgotarem o prazo de validade de aproximadamente 40 anos.
Os rejeitos, fruto do "descomissionamento" – desligamento, desmontagem e armazenamento -, continuarão radiativos por aproximadamente mil anos.
As águas subterrâneas de Caetité, Bahia, onde estão nossas jazidas de urânio, estão contaminadas por radioatividade.
Agora o governo fala em construir pelo menos 50 usinas atômicas no Brasil, claro, começando pelo rio São Francisco. Certamente, nosso Velho Chico é mesmo a lixeira do Brasil.
O lugar ideal seria Belém do São Francisco, divisa do Sub-médio São Francisco com o Baixo, próximo às antigas cachoeiras de Paulo Afonso. O argumento é que ali vivem poucas pessoas (sic!), que já existe uma rede de distribuição de energia instalada e, claro, tem as águas do São Francisco. Além do mais, está próximo do Raso da Catarina, uma região pouco habitada, onde só Lampião sabia viver, considerada ideal como depósito de rejeitos.
Particularmente sou favorável a construção de nucleares, desde que a primeira seja feita na Praça da Sé, São Paulo. A segunda na praia de Ipanema, Rio de Janeiro. E a terceira, evidentemente, na Praça dos Três Poderes, Brasília. Se ali for seguro, então é seguro para o resto do Brasil.
Roberto Malvezzi, o Gogó, é assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT).
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Comentários
Tomara que haja mesmo debate sobre essas questões,que não fiquemos reféns de decisões tecnocráticas e fechadas, mas que recaem depois sobre a cabeça de todo povo.
Nosso consumo atual é de pouco mais de 2.000 kWh/ano por brasileiro e é menor que a média mundial. Está muito abaixo do patamar de 4.000 kWh/ano que caracteriza o mínimo dos países desenvolvidos, cujo IDH é superior a 0,9. É bem menor do que Chile e Argentina e menos da metade dos países de desenvolvimento recente, como Portugal (4.500), Espanha (5.600) e Coréia do Sul (6.400).
Este é um sintoma da imensa demanda reprimida do nosso povo, que não existe nos países desenvolvidos. Para eles, o grande desafio é a eficiência energética e a renovação do parque gerador para cumprir metas de redução de CO2.
O esforço de gerações de brasileiros construiu um formidável parque hidrelétrico. A maior parte desta energia limpa, barata e renovável foi construída em regiões onde a topografia era favorável a grandes reservatórios, minimizando o risco devido às sazonalidades do clima.
O progressivo aumento da demanda e condicionantes socioambientais cada vez mais restritivas têm feito com que o estoque de água nos reservatórios tenha se mantido quase constante desde meados dos anos 90, trazendo a crescente necessidade de complementação térmica para garantir a segurança do abastecimento, lição duramente aprendida no “apagão” de 2001.
Poderíamos dobrar nossa potência hidrelétrica atual tratando com muita racionalidade a questão socioambiental. Mas essa potência adicional não irá gerar a mesma quantidade de energia do parque existente, pois será composta por usinas “a fio d´água”, com pequenos reservatórios.
Para atingir o patamar mínimo de país desenvolvido, precisaremos aproveitar todo este potencial e expandir muito o parque eólico e de biomassa. Entretanto, só isso não será suficiente. Complementar a geração continua na base do sistema e regular as sazonalidades intrínsecas às renováveis irá requerer algo como 15 usinas térmicas de 1000 MW adicionais.
Para a parcela desta complementação que operará na base, a geração nuclear e a carvão são aquelas de menor custo. Porém a nuclear é a única que não implica emissão de CO2 e cujo combustível pode ser 100% nacional. Para a outra parcela que regula sazonalidades, o gás natural e o petróleo continuarão sendo indispensáveis.
A experiência obtida no projeto, construção e operação de Angra 1, 2 e 3 e uma das maiores reservas de urânio do mundo, com potencial energético comparável ao pré-sal, somadas ao domínio tecnológico do ciclo do combustível, fazem com que a energia nuclear no Brasil seja altamente competitiva.
Isto torna do maior interesse nacional uma ampla discussão no seio da sociedade, similar à do pré-sal, para definição das modalidades adequadas de exploração do urânio e da geração nuclear que permitam garantir auto-suficiência e retorno social sustentável ao País.
Com investimento, planejamento, tecnologia e adequada gestão de todas as reservas nacionais, renováveis e não-renováveis, nelas incluída a energia nuclear, nosso País poderá desfrutar neste século XXI de ampla segurança energética, gerando excedentes exportáveis, e finalmente atingir o nível de desenvolvimento que todos desejamos.
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