Dilma e a esquerda sem povo
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- Roberto Malvezzi (Gogó)
- 04/04/2012
Os entraves políticos do governo Dilma não se dão apenas com sua fisiológica base aliada, mas também com aliados históricos que comungam muitas de suas causas.
Podemos citar inúmeros casos desse desencontro: o golpe na Articulação do semi-árido na questão das cisternas e da convivência com o sem-iárido; o não andamento da reforma agrária; a falta de diálogo com o sindicalismo, que no governo Lula era praticamente correia de transmissão do governo; silêncio e até conivência nas mudanças legais que afetam o meio ambiente, e assim por diante.
No ano de 2004, o Fórum da Reforma Agrária realizou em Brasília a Conferência da Terra e da Água. Milhares de pessoas estavam no ginásio de esportes da cidade. Houve uma mesa sobre energias e água. Eu estava na mesa, juntamente com alguém do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o cientista criador do Pró-Álcool Bautista Vidal e a então ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff. Ao meu lado, na mesa, estava uma secretária pessoal da então ministra. Quando falou que iria continuar o programa das barragens, Dilma foi vaiada pelo público mais ligado ao MAB. De imediato, a secretária de Dilma que estava ao meu lado murmurou: “o movimento social parou na história. Há tempos não contribui com mais nada com o Brasil”.
Hoje, quando vejo os acontecimentos, tendo Dilma como presidenta, aquela frase da secretária me veio novamente à memória: tudo indica que aquele pensamento não era somente da secretária, mas da própria Dilma.
Dilma veio de grupos de esquerda que pouco tiveram contato com o povo. Ainda que essas pessoas sejam extremamente íntegras, fazem parte daquele setor da esquerda que sempre teve dificuldades de reconhecer o povo como um ator essencial nas mudanças. As vanguardas têm a solução.
Infelizmente, ou Dilma aprende rapidamente a lidar com os movimentos sociais de uma forma mais efetiva, ou vai ver o povo na rua, como os 15 mil indignados que ocuparam Petrolina, exigindo o cancelamento das cisternas de plástico.
Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.
Artigo originalmente publicado na edição impressa n. 473 do Brasil de Fato.
Comentários
Ora, Gogó! A Anestesia social foi muito bem aplicada neste povo e com auxílio inconteste daqueles que se vestiram de branco com a seringa de quelene na mão, ajudados por aqueles que bradavam "Derrotar Serra nas Urnas e dilma nas ruas!", mas que depositaram seu voto na continuidade da fraude ao Povo com o "aprimoramento" da continuidade do que Lula começou.
Para esta ameaça, o PT já tem uma carta na manga. É a volta do Lula para "endireitar o mal feito", com a falácia que "agora Lula governará sem concessões.
O pior é que acho que gente como o Gogó cairá nessa. E digo isso com pena, mas sustentado pela defesa que fez da Marina Silva na campanha presidencial passada.
As massas do campo, caro Gogó, foram isoladas em trabalho muito bem executado, colocando as massas mais numerosas das periferias da cidade como foco para aqueles políticos que t~em a visão institucional-eleitoreira e pronto para tentarem usar os Pobres como seu exército de reserva eleitoral, como nos mostra o artigo aqui nesta página do Correio, escrito pelo Fernando Marcelino, que dá um adeus ao pessoal "do campo", quase os dizendo imprestáveis para o futuro de Lutas que ele diz ensejar.
Não foi por falta de aviso sobre isso que está acontecendo que estão a nos curar politicamente a céu aberto.
Eu tenho a certeza e meus artigos são testemunhos disso, muito antes de Lula ter sido eleito em 2002, que não participei desta anestesia. Não que isso tenha ajudado em alguma coisa, mas ao menos me permite implicar com estes artigos bravateiros por quem sempre resistiu ao combate, apostando na tal Esperança Alienada que 'algo de bom poderia acontecer".
Infelizmente, na vida real, as coisas que acontecem não são aquelas pelas quais temos Esperança, mas sim as que LUTAMOS por ela, sem demagogias e sem hipocrisia.
Que cada um saiba qual foi a sua parte nisso aí!
sindicatos que já foram combativos e atuantes etc etc etc.
Temos que pensar as razões históricas porque acontece isso , que sociedade amorfa e ôca é a nossa . Muito obrigado por este artigo
O Brasil identifica-se com a Líbia, onde a família imperial reclama o trono de volta, e está apoiada pela ONU.
Dilma é um paradoxo.
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