Correio da Cidadania

Pronunciamento do deputado Chico Alencar, PSOL/RJ, na Câmara

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Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados e todo(a)s o(a)s que assistem a esta sessão ou nela trabalham:

 

Faleceu, no dia 8 de julho, beirando os 84 anos de vida, o nosso querido amigo e companheiro Plínio de Arruda Sampaio. No mesmo dia em que muitos brasileiros sentiram certa vergonha, em função da goleada que nossa seleção sofreu da Alemanha, podemos nos orgulhar de um país que tem um filho como Plínio, que sempre assumiu as dores de nossa gente e a busca de modos e meios de superá-la, com terra repartida e democracia real.

 

Esse craque da cidadania deixa um legado perene de jovialidade, ânimo na luta pela justiça e pelo socialismo, alegria de existir e serena firmeza. Com essas características, que ficam para sempre, com seu entusiasmo inigualável, Plínio enfrentava todos os adversários, fossem as injustiças sistêmicas do capitalismo, a condição dependente da nação brasileira, o latifúndio ou o câncer e a morte.

 

No dia 9 de julho, mais de mil pessoas compareceram à Igreja dos Dominicanos, em São Paulo, para dar seu adeus ao nosso Plínio e celebrar sua vida. D. Angélico Bernardino, amigo dele e um dos 15 celebrantes, recitou, de cor, o 'Sermão da Montanha', para lembrar que nosso amigo é um Bem Aventurado, 'por seu amor à Justiça e à Paz': "Plínio não diria que o que aconteceu no dia de sua partida física, na partida de futebol da seleção, foi um vexame. Otimista nato, lembraria que, afinal de contas, o Brasil ainda disputará o terceiro lugar... Diria, isso sim, que vexame mesmo é a concentração da terra, é a periferia abandonada das grandes cidades, é a inexistência de uma reforma política, é a situação da saúde pública!".

 

Marietta, esposa tão amada e mãe dos seis filhos, arrancou nossas lágrimas ao falar da militância de Plínio, desde a juventude, e sua vontade (dele e dela!) de entrar no Reino (sem Rei) dos Céus na marcha dos lutadores do povo, dos que resistiram à opressão ao longo da História Humana.

 

Nosso querido Plínio, candidato à presidência da República pelo PSOL, em 2010, octogenário, costumava dizer que "os melhores anos de minha vida são os que virão".

 

Eis o testamento de um semeador, que passou a vida a semear, não se importando se algumas sementes caíram à beira do caminho, em terreno pedregoso, no meio dos espinhos. Outras, certamente, caíram em terra boa!

 

"A minha história não foi triste, embora tenha havido tristeza, nem frustrante, apesar das frustrações, nem perdedora, embora tenha havido derrotas. Pelo contrário, foi uma história vencedora, rica de encontro humano, de fruição da vida, de deslumbramento diante do milagre da História Humana, de ternura pela compreensão e solidariedade dos filhos, de gratidão pelo apoio dos parentes, dos amigos, dos companheiros de luta. Em todas as horas, como seres humanos que somos, cometemos erros, incidimos em mesquinharias.

 

Mas reivindicamos, em benefício próprio, uma virtude: a da fidelidade ao Deus que pôs alegria em nossas vidas. Por isso, quero finalizar repetindo um refrão que me soa aos ouvidos todas as vezes que procuro um sentido para a minha própria existência: "Introibo ad altare Dei, ad Deum qui laetificat juventutem meam", ou seja, "entro no altar de Deus, que alegra a minha juventude!".  (Plínio de Arruda Sampaio /1930-2014/, em entrevista à Revista MIRE - Mística e Revolução, de janeiro de 2003)

Agradeço a atenção,

 

Sala das Sessões, 14 de julho de 2014.

Chico Alencar, Deputado Federal, PSOL/RJ.

 

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