No futuro, o que vou dizer lá em casa?
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- Rafael Fortes
- 29/10/2007
Embora a comparação de períodos históricos e de países seja complexa e difícil, certas observações gerais podem ajudar a compreensão de processos atualmente
Pois bem, hoje, no Rio de Janeiro (e não só nele), o poder público eleito (e não só ele), que a todos governa e que lhes deve garantir os direitos, aterroriza, tortura e mata parcelas da população. O poder executivo estadual de fato combate a pobreza – matando pobres – e executa, no pior sentido do termo.
Em outros momentos de nossa história recente, uma parte dos funcionários públicos que praticava chacinas o fazia à paisana; na calada da noite ou da madrugada; anonimamente; e fora do horário de trabalho. Estas práticas eram ilegais, condenáveis e inadmissíveis. As matanças (ou chacinas) de Vigário Geral (1993), Candelária (1993) e Baixada Fluminense (2004) são exemplos famosos e recentes, embora, infelizmente, não tenham sido exceção, pois similares com menos repercussão midiática aconteciam e acontecem a cada dia.
A hipótese que levanto neste artigo é de que, em 2007, algo mudou. Agora a matança se faz durante o dia; com convocação antecipada, apoio e legitimação das câmeras e da mídia gorda; de farda; e com ordens e aplausos das autoridades estaduais e federais (e sem que se pronunciem os partidos até pouco tempo atrás de esquerda que fazem parte da base destes governos; o prefeito pefelista não chega a reclamar cada vez que morre um pobre) e da “sociedade”. As megaoperações no Alemão e
Ficamos mais cínicos? Tornamo-nos indiferentes? Ou ambos? Se, daqui a dez, vinte ou trinta anos, o Brasil tiver avançado rumo à democracia, igualdade e Estado Democrático de Direito efetivos, o que vamos declarar às novas gerações em relação ao genocídio de hoje? Vamos dizer que “não sabíamos”, tal qual outros – no Brasil e em certos países – fizeram?
Rafael Fortes é professor, historiador e jornalista.
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