Separar o joio do trigo
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- Otto Filgueiras
- 10/07/2015
Tem razão o deputado federal Chico Alencar, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL-RJ), quando afirma que setores conservadores tentam avançar, defendem ou se omitem com a matança de pobres e negros nas periferias das cidades, são contra o casamento de pessoas do mesmo sexo, contra o direito de as mulheres decidirem o que fazer com o próprio corpo e ainda homofóbicos.
Mas ele lembra também que a presidente Dilma Rousseff se encontrou com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, após o cancelamento de sua visita em 2013 por causa do escândalo de espionagem. Trata-se de política econômica do governo Lula/Dilma de total submissão ao mercado e ao capitalismo mundial. Com o tucano Aécio Neves seria igual ou pior.
E isso era tão importante para o neoliberalismo que Joaquim Levi foi ao exterior mesmo doente e contra orientação médica.
A proposta pretensamente progressista de uma Frente de Esquerda, que inclui desde setores lulistas a críticos da política social-liberal em vigor (depois que a crise econômica mundial do capitalismo chegou ao Brasil, ainda de leve) esbarra nas próprias articulações contra a redução da idade penal e mostra que até isso é difícil.
O próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está tentando tirar o corpo fora, embora seja o principal responsável pela composição com o capitalismo internacional e tupiniquim. Está pensando na eleição presidencial de 2018, para apagar o legado negativo da democracia social do capitalismo dito popular. Na verdade, um deslavado reformismo.
A dificuldade da Frente de Esquerda começa nas críticas, sem consistência, de setores da esquerda petista.
Nesse pântano há de se destacar o papel positivo dos deputados do PSOL, embora alguns deles priorizem a bandeira comportamental gay, esquecendo-se de que os EUA já aprovaram, na Suprema Corte, o casamento de pessoas do mesmo sexo. É compreensível que nossa gente pense assim, pois é a sua contradição imediata.
Mas a contradição principal dessa nossa gente não é comportamental e, sim, com o capitalismo internacional e tupiniquim, embora alguns, pretensamente de esquerda, ainda sejam homofóbicos. A crise capitalista só explora e avilta, com a sua barbárie, cada vez mais mulheres e homens, velhos e crianças trabalhadores.
Afinal, são defensores do capitalismo internacional e tupiniquim os tucanos neoliberais, o pessoal da extrema-direita, a exemplo de Jair Bolsonaro, mas também vários petistas e gente pretensamente de esquerda, que se colocam contra os direitos das mulheres, LGBTs e são homofóbicos.
E ainda há muitos petistas que falam de golpe, quando os oportunistas e direitistas apoiam de diversas formas, via Renan Calheiros, presidente do Senado, o atual governo federal.
A embarcação do governo petista faz água e os ratos estão abandonando o navio com críticas de direita ao Partido dos Trabalhadores.
Portanto, é hora de separar o joio do trigo. Batemo-nos pelo socialismo marxista para substituir a barbárie capitalista.
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*Otto Filgueiras é jornalista e está lançando o livro Revolucionários sem rosto: uma história da Ação Popular.