Crise de 2015 inaugura impasse histórico no Brasil
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- Valéria Nader e Gabriel Brito, da Redação
- 23/12/2015
2015 entrará na história como algo próximo de um ano que não existiu, nos mais diversos âmbitos, marcado por variados e regulares momentos de estupefação nacional. “Fim de ciclo” e “vazio político” foram algumas das tentativas de definir todo o corolário de crises que se acumularam e agora estouram, a ponto de tornar quase invisível qualquer horizonte próximo de sua superação. Sobre esse complexo e desafiador momento histórico, o Correio da Cidadania entrevistou o historiador Mario Maestri, que não poupou palavras para descrever o momento e seus tristes protagonistas.
“A direita tradicional entendeu que era o momento ideal de virar a página e se desfazer dos administradores-delegados petistas, em prol de administração direta conservadora. Não quer mais o muito que recebia - quer, agora, tudo, ainda mais com a diminuição do bolo com a crise”, afirmou, a respeito da tensão em torno do impeachment, que praticamente monopolizou as atenções políticas do ano.
“Rentabiliza igualmente essa operação conservadora o fato de que o desgoverno, a corrupção, a imoralidade pública etc., que petistas e associados praticaram, são colocados, por grande parte da população, na conta da esquerda e de seu projeto de reorganização do Brasil pelo mundo do trabalho. O PT prestou um imenso serviço ao grande capital no governo, e presta um outro, também enorme, agora que é empurrado para a sarjeta”, completou, a fim de ilustrar o tamanho da derrota que o mundo do trabalho e das organizações populares vivenciam.
“Se o governo estivesse sendo defenestrado pelos trabalhadores, assalariados e população de bem, seria ato legal, a ser apoiado. Porém, a deposição é empreendida pela direita tradicional, para radicalizar a exploração. É deposição política, golpista, antipopular e antinacional. Ela também tem como objetivo aprofundar a maré conservadora na América do Sul”, observou Maestri.
Além de lamentar a incapacidade organizativa e aglutinadora que até agora paralisa qualquer resposta aos descalabros do capitalismo, Maestri conecta a derrocada brasileira a todo o processo de reorganização mundial a partir de 1989. Projetos e governos por todo o mundo foram condicionados por esse processo, e agora se veem sem capacidade de renovação, a não ser pelo lado de um rigoroso acirramento conservador.
“O lulismo foi um projeto de rentabilização do grande capital e de manipulação e desorganização do movimento social, para sua melhor e mais ampla e fácil exploração. Procedeu-se assalto ao fundo de garantia dos trabalhadores, em prol do grande capital. Entregaram os pensionistas ao cutelo do capital, com os créditos consignados. Permitiu-se assalto jamais visto da população pelos bancos e financeiras. Degradou-se a educação, a saúde, a segurança. A lista é praticamente sem fim”.
Leia abaixo entrevista exclusiva.
Correio da Cidadania: Passamos o ano debatendo e criticando governo “natimorto” nas palavras do sociólogo Ricardo Antunes. Como você vê o primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff, que termina sob o signo de instabilidade e chantagem que começou, agora sob ameaça de impeachment?
Mario Maestri: Não tivemos governo “natimorto”. Essa visão naturaliza a deriva direitista quase incondicional da segunda administração Dilma Rousseff, sugerindo que estava comprometida desde o início. O governo se liquidou por decisão própria. Ele optou por abraçar o programa neoliberal e executar todas e mais algumas maldades propostas pela direita tradicional que derrotou nas eleições. Tudo na procura de estabilização conservadora da nova administração, corroída pelos escândalos da Petrobrás e pelos desmandos econômicos anteriores.
Correio da Cidadania: Mas qual sentido teria essa virada?
Mario Maestri: A equipe dilmista quis propor que seguia sendo a melhor administração para ferrar o mundo do trabalho e a população brasileira. O que de certo modo se comprovou, ao avançar nesse último ano importantes iniciativas antipopulares e antinacionais, sem maior resistência. Pretendeu, também, estabelecer nova composição política, na qual a burocracia petista perderia espaço para o conservadorismo, mantendo em parte o anterior protagonismo. Desse projeto nasceu a lotização do primeiro ministério, com o Levy, a Kátia Abreu et caterva.
Ao por fim às concessões pontuais e mediações petistas tradicionais para com os segmentos populares e extremar o privilegiamento tradicional do grande capital, a senhora Dilma Rousseff deu conscientemente as costas aos trabalhadores, assalariados etc. que a elegeram. Sem pudor e rubor, praticou espetáculo explícito de estelionato eleitoral jamais visto no Brasil, rico nessas práticas. Lançou o programa e o que dissera pela janela e abraçou o programa do candidato derrotado, em demonstração de inaudito desprezo pela população do país. Em resposta, a população retirou o apoio ao governo.
Correio da Cidadania: E por que não funcionou a manobra do atual governo? Por que não lhe concederam o apoio, como antes?
Mario Maestri: A direita tradicional entendeu que era o momento ideal de virar a página e se desfazer dos administradores-delegados petistas, em prol de administração direta conservadora. Não quer mais o muito que recebia - quer, agora, tudo, ainda mais com a diminuição do bolo com a crise! Agora, Dilma Rousseff permanece sozinha, com o núcleo duro da entourage governista, praticamente sem apoio popular, a não ser dos aparatos fantasmagóricos do movimento social, que sofrerão também com seu defenestramento.
Rentabiliza igualmente essa operação conservadora o fato de que o desgoverno, a corrupção, a imoralidade pública etc., que petistas e associados praticaram, são colocados, por grande parte da população, na conta da esquerda e de seu projeto de reorganização do Brasil pelo mundo do trabalho. O PT prestou um imenso serviço ao grande capital no governo, e presta um outro, também enorme, agora que é empurrado para a sarjeta.
Correio da Cidadania: O que pensa das manifestações, protestos e palavras de ordem, à esquerda e à direita, que correram país afora ao longo deste ano?
Mario Maestri: Em 2015, as únicas manifestações políticas multitudinárias foram direitistas. Não tivemos manifestações políticas de esquerda dignas de registro. Ouvimos uma voz de direita cada vez mais estridente, incisiva e programática, e uma palavra da esquerda crescentemente inaudível, desorganizada e confusa. Um fenômeno que, em geral, não se restringiu ao Brasil. O avanço do conservadorismo é processo mundial, com sobressaltos populares em alguns países, como na Grécia, em Portugal, nas repúblicas populares ucranianas e, agora, talvez, na Espanha.
As terríveis sequelas ensejadas pela contrarrevolução mundial de fins dos anos 1980 seguem e se aprofundam através do mundo. A revolução pode também ser permanente, radicalizando-se e alcançando patamares superiores à medida que ganha força e expande sua área de ação. É indiscutível a barbarização do mundo, com níveis dantescos no Oriente Médio e norte da África.
Correio da Cidadania: Esse recuo foi geral no Brasil? Ou conhecemos avanços, mesmo pontuais?
Mario Maestri: Não. No Brasil, movimentos como a greve dos professores em São Paulo e no Paraná; dos estudantes secundários paulistas, com a magnífica vitória que obtiveram; das mulheres contra o programa misógino de Eduardo Cunha e do Congresso conservador-fundamentalista, mostram que há profunda insatisfação, força e disposição de luta na população. Porém, foram movimentos sobretudo sindicais, incapazes de se aglutinarem em torno de um projeto político geral. Não se espraiaram para a população. Não levantaram bandeiras gerais. Não aglutinaram forças. Segue uma imensa crise de projeto, de programa e de direção política. A alternativa do mundo do trabalho para a reorganização social perdeu credibilidade geral.
Correio da Cidadania: Continua o mesmo quadro de fragmentação da esquerda interrompido por breves lampejos? O que pensa das respostas e mobilizações que ela organizou em 2015?
Mario Maestri: Inicialmente, temos que circunscrever o que hoje compõe a esquerda organizada, no relativo às direções e militância ativa. Partidos como o PT e o PC do B já liquidaram há muito a luta pela superação tática e estratégica da exploração capitalista. Hoje, sequer são organizações socialdemocratas, no sentido tradicional europeu. A definição social-liberal parece pertinente para descrevê-los sumariamente.
Correio da Cidadania: E organizações de esquerda como o PSOL, o PSTU, o PCB e o movimento social? Qual sua avaliação?
Mario Maestri: O PSOL, o maior grupo que se reivindica da esquerda, com representação parlamentar, mantém-se encantado pela participação direta e indireta no Estado. Perdeu qualquer sentido antissistema. PSTU merece análise mais acurada. Nos anos 1960-80, tivemos organizações ultrarradicais maoístas, que atacavam sem mediações os partidos comunistas, os Estados socialistas etc. A seguir, literalmente desapareceram e, comumente, seus dirigentes abraçaram o conservadorismo. O PSTU-LIT saudou como processos revolucionários o desastre epocal que foi a destruição da URSS e dos Estados de economia nacionalizada. Seguiu fazendo o mesmo na Líbia, Síria, Venezuela, Cuba etc. Agora, apoia o impeachment, sob a proposta fantasiosa de que defende a derrubada do governo, nesse momento, junto com a direita tradicional, e desta última, não se sabe por quem, não se sabe quando! É uma esfera de colaboração da direção do PSTU-LIT muito ampla e de longa duração com a contrarrevolução para se tratar de mero erro de análise política.
Correio da Cidadania: E quanto ao PCB, em seu projeto de reconstrução? E as organizações do movimento social, não podem ser núcleo de direção?
Mario Maestri: O PCB é organização interessante que, na minha opinião, fica neutralizado pela incapacidade de coadunar a herança do passado com as necessidades do presente. Temos uma enorme quantidade de organizações políticas minúsculas incapazes - e algumas delas sem vontade - de superar o caráter grupuscular. Os movimentos sociais, que, no passado, ensaiaram levantar-se como alternativa, como a CUT, MST etc., foram engolidos pelo voltex da colaboração-participação-administração do Estado de classe.
No Brasil, não possuímos núcleo de esquerda minimamente audível, com projeto de reorganização e reagrupação programática do movimento social. Realidade que nasce, sobretudo, da debilidade política histórica do mundo do trabalho no nosso país, exacerbado nas últimas décadas. Creio que apenas uma grande vitória do mundo do trabalho no Brasil ou no mundo ensejaria as melhores condições para superar essa difícil realidade. A derrota na Grécia pesou terrivelmente.
Correio da Cidadania: Podemos esperar algo das novas propostas de organização política, geralmente chamadas apartidárias e horizontais?
Mario Maestri: No Brasil e no mundo, as formas de organização política tradicional dos trabalhadores fracassam, entravaram ou mostram-se improcedentes. As novas propostas, no estilo Podemos, que propõem a superação da centralidade política e organizacional do mundo do trabalho, já foram engolidas pelo ralo da história, com a traição histórica da direção do Syriza. Essa novidade chega entre nós com traços senis, através da Rede, de Marina Silva, desde o berço sustentada em forma despudorada pelo grande capital. O que não impede que, eventualmente, avance eleitoralmente, devido ao enorme vazio político deixado pela débâcle petista.
Correio da Cidadania: Como deveria se manifestar o campo de esquerda e progressista, diante do processo de impeachment?
Mario Maestri: O fundamental é quem está derrubando o governo. Do ponto de vista das instituições burguesas, não há razão para a deposição de Dilma Rousseff. Do ponto de vista da moralidade social, o governo perdeu qualquer legalidade, devido ao citado estelionato eleitoral. Se o governo estivesse sendo defenestrado pelos trabalhadores, assalariados e população de bem, seria ato legal, a ser apoiado. Porém, a deposição é empreendida pela direita tradicional, para radicalizar a exploração. É deposição política, golpista, antipopular e antinacional.
Ela também tem como objetivo de aprofundar a maré conservadora na América do Sul, que avança forte na Argentina, Venezuela etc. A esquerda deve se pronunciar, claramente, contra o impeachment e, se necessário, tapar o nariz e sair às ruas, opondo-se a ele, junto com o bloco petista. Mas deve levantar suas próprias bandeiras, deixando claro o combate sem contemplação ao governo e ao PT, como um todo. Em verdade, essa luta pode, se bem encaminhada, apoiar a reconstituição política do movimento social. Por isso a importância, para o grande capital, das organizações de esquerda que apoiam ou se mantêm neutras diante do impeachment. Portanto, não ao impeachment e nenhum apoio ao governo Dilma!
Correio da Cidadania: Outro ponto discutido neste 2015 foi o grau de esgotamento do lulismo, para alguns irrecuperável, para outros capaz de renascer. Como situa este fenômeno político que marca o início do século brasileiro à luz do ano que finda?
Mario Maestri: Algo que se esgota, é porque teve vigor, algum dia. O lulismo foi um projeto de rentabilização do grande capital e de manipulação e desorganização do movimento social, para sua melhor e mais ampla e fácil exploração. Em um sentido geral, o lulismo foi sempre um projeto contrarrevolucionário para os anticapitalistas. Ele concedeu pouco ao mundo social e tudo que foi possível e um pouco mais ao grande capital, quando a economia expandia com a valorização das matérias primas. O salário mínimo foi mantido radicalmente abaixo de seu valor, prosseguindo a hiperexploração da população. Procedeu-se assalto ao fundo de garantia dos trabalhadores, em prol do grande capital. Entregaram os pensionistas ao cutelo do capital, com os créditos consignados. Permitiu-se assalto jamais visto da população pelos bancos e financeiras. Degradou-se a educação, a saúde, a segurança. A lista é praticamente sem fim.
Correio da Cidadania: Muitos falam de um avanço do Brasil cidadão, nesses anos. Como vê essa realidade?
Mario Maestri: Foi igualmente imensa a prostituição política, civil, cultural e ideológica do Brasil sob o petismo. Durante os treze últimos anos, os últimos generais-ditadores, torturadores etc. morreram em suas camas intocados. O Brasil dirigiu e participou da ocupação militar do Haiti, por pedido dos Estados Unidos. Sobretudo o fundamentalismo evangélico foi prestigiado e agraciado pelo petismo com favores de todo tipo. Não houve qualquer iniciativa em prol do direito de interrupção da gravidez para a mulher e no combate da homofobia, com centenas de milhares de vítimas. Vivemos sob o mais desbragado contubérnio dos grandes dirigentes petistas, comandados por Lula da Silva e Dilma Rousseff, com os políticos mais conservadores e corruptos e os grandes empresários, com o resultado que hoje presenciamos.
Correio da Cidadania: Mas não houve modificação estrutural de destaque no Brasil desses anos?
Mario Maestri: Jamais empreendeu-se modificação da estrutura da propriedade, a não ser em favor dos proprietários. Durante todo o ciclo petista, aprofundaram-se as privatizações e restringiu-se o espaço público produtivo. O pouco que os trabalhadores conquistaram nesses anos está agora perdendo em forma galopante, com juros, na guilhotina da inflação, do aumento do preço da luz, do desemprego, do confisco de direito. O grande capital pagou, e pagou bem, pelos serviços do senhor Lula da Silva.
É interessante que nesse momento a Justiça investigue se as empreiteiras remuneraram o senhor Lula da Silva, através de sua ONG e das ditas conferências milionárias, em forma benévola, agradecidas pelos serviços gerais prestados, ou como remuneração de serviços singulares. Do ponto de vista do mundo do trabalho, a indecência é a mesma.
Não temos, porém, que diabolizar o senhor Lula da Silva. Ele é apenas a expressão maior de toda uma geração política que se serviu do nome dos trabalhadores, para objetivos próprios e privados, em forma mais ou menos aberta, mais ou menos desqualificada. Lula da Silva era no passado um cadáver vivo, saltitante, agora, é um morto que anda, ao estilo dos walking deads dos programas estadunidenses.
Correio da Cidadania: O que o atual quadro ilustra da democracia brasileira e seus 30 anos de construção? Seria Eduardo Cunha, que sozinho praticamente interditou a política e, de resto, todo o país, um subproduto de um fracasso bem maior do Brasil?
Mario Maestri: Não temos que supervalorizar o papel do Eduardo Cunha. Ainda mais que, de um momento para o outro, ele pode terminar no ralo da Justiça. Ele é apenas expressão da decomposição do mundo político brasileiro, ao igual que uma presidenta que, no dia seguinte da eleição, anuncia que tudo que dissera era mentirinha. Ou de um sindicalista que fala do seu tempo de trabalhador e vive em contubérnio com os empreiteiros, industrialistas e fazendeiros! De deputado de que se diz comunista e se transforma no parlamento em principal defensor do agronegócio. De centenas de milhares de homens e mulheres que ingressam no mundo político e público com o objetivo único de progressão pessoal e financeira.
Correio da Cidadania: Há, portanto, um fracasso geral do país?
Mario Maestri: Nossa percepção da sociedade brasileira é limitada. Somos aglomerado continental de colônias luso-americanas nascido em 1822 para a defesa da escravidão. Ou seja, em defesa do direito de propriedade do empresário sobre o trabalhador! De 1889 a 1930, esteve vigente no Brasil ordem republicana federalista, elitista, latifundiária e antipopular, que seguiu mantendo a exploração dos trabalhadores então livres. O getulismo expressou a proposta tímida de Estado burguês nacional, com inclusão controlada de parte da população. O golpe de 1964 registrou a abdicação-incapacidade da burguesia brasileira de acaudilhar a construção nacional.
Ela preferiu ser súcuba do capital mundial do que arriscar seus privilégios na construção de país que fosse minimamente de todos. De lá para cá, a decomposição da burguesia brasileira alcançou nível abismal. Não há democracia sem um bloco social que a sustente. Nos anos 1970, os trabalhadores ensaiaram proposta de acaudilhar a construção de nação apoiada na reorganização social da propriedade, da produção e do consumo. Foram os anos que produziram o PT pró-socialista, a CUT anticapitalista e o MST que namorou o socialismo.
Porém, no geral, a montanha pariu uma geração de ratazanas, que ocuparam e ocupam ainda gostosamente postos administrativos, legislativos, sindicais. Um processo de regressão que, como proposto, se radicalizou, no Brasil e no mundo, após a vitória da contrarrevolução mundial, em 1989-90, com a dissolução da URSS e dos países de economia nacionalizada. Não podemos fugir da necessária discussão sobre a capacidade dos trabalhadores de emanciparem humanidade que mergulha, mais e mais, em barbárie palpável, em todos os seus níveis.
Correio da Cidadania: O que esperar para 2016 após um ano praticamente perdido e ainda com maus augúrios econômicos? Tendemos a continuar vendo, a perder de vista, a aplicação deste mesmo modelo de “desenvolvimento”?
Mario Maestri: Não se trata de um “ano perdido”, mas de 25 anos em que o mundo social retrocedeu, no mundo e no Brasil, em seus direitos, programas, organizações, esperanças. Vinte e cinco anos em que o mundo do trabalho sofre regressão radical, em uma espécie de espiral negativa que parece se projetar ao infinito.
No Brasil, antes ou quando do petismo, jamais houve projeto de desenvolvimento, que não fosse em proveito dos diversos segmentos dominantes do capital. Com ou sem crescimento, os trabalhadores assalariados e população pagam a conta, sempre salgada. O que nos espera em 2016? Inflação e desemprego, para achatar os salários. Privatizações, para engordar o capital. Confiscos de direitos da população e dos trabalhadores. Muita violência, na cidade e no campo. Novas e velhas doenças endêmicas, algumas delas de perfil terrível. O domínio da privatização sobre a saúde, sobre a educação, sobre o que resta dos bens públicos.
Nessa sociedade em literal putrefação, 2016 nos promete muitos, mas muitos evangélicos, de todos os sabores, comandados por seus bispos milionários e espertalhões, emergindo e infectando os mais diversos poros de nossa sociedade. Mas, para os eternamente crédulos, o Natal trouxe a queda do Levy e o advento do Nélson Barbosa, que já prometeu seguir em frente o “ajuste fiscal” do anterior, com destaque para uma profunda reforma da previdência privada!
Valéria Nader é economista e editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.
Comentários
O que me pergunto é se lideranças como a do Lula no Brasil e do Bill Clinton nos EU teriam mesmo condições práticas de serem reformistas se realmente se dispusessem a iss.
Da forma como conduziram sua subida ao poder, não, porque nao o fizeram com a participação ativa do povo, isto é, democraticamente. Subiram por meios populistas, agora se sabe, servindo de delegados, como o diz o entrevistado, para a camada dirigente/hegemônica local e forânea. Isto é, criaram um espaço de atuação para si mas apenas acenando com reformas, ja que nao buscaram trabalhar com o povo mas usar sua boa-fé e seu desconhecimento para servir a quem realmente lhes interessava, a camada de riba.
Ora, pra participar a maioria dos cidadãos, isto é, o povo teria que estar informada sobre como funcionam as coisas no mundo desenvolvido e complexo em que vivemos. E quem, ou quando se tentou minimamente fazer isso? Participação requer consciência do que fazer e como agir. E cadê os movimentos de conscientização? Cadê os meios de comunicação, hoje chamados de mídia, minimaente preocupados com a informação cidadã? Não existe, e muito pelo contrário temos a mídia corporativa fazendo o trabalho oposto de desinformar e, com frequencia, deformar o entendimento do cidadão.
Em resumo, temos muita coisa a fazer, e temos que começar agora. As lideranças autênticas poderão surgir daí mas para agir sempre com o nosso consentimento e decisão consciente.
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