Correio da Cidadania

Judiciário, Ministério Público e Polícia Federal: motores do impeachment

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Ainda nos tempos de vigoroso autoritarismo, Alberto Dines observava: mais arriscado atacar um juiz de direito que um chefe militar. Políticos e jornalistas estão sujeitos a processos criminais e de indenização; indispostos com Judiciário, Ministério Público e Polícia, fazem-se alvos fáceis de retaliações.

 

Talvez isso explique o silêncio quase absoluto a respeito do saliente papel do juiz Sergio Moro e da força-tarefa de procuradores da República e delegados federais na alimentação da crise que findou no afastamento da presidente Dilma.

 

Deve-se recordar que, iniciado o processo na Câmara, após prevalecer o rolo compressor de Eduardo Cunha, a decisão do Supremo Tribunal Federal de anular as principais decisões daquela casa fez a luta pelo impeachment arrefecer sensivelmente; a manifestação de dezembro na Avenida Paulista não foi o sucesso de público das anteriores e o Congresso entrou em recesso, algo absolutamente incompreensível não fora a perda de força do movimento.

 

E a situação não se modificou sensivelmente no início deste ano. Porém, de repente vaza a delação de Delcídio do Amaral, apresentada pela grande mídia como um testemunho idôneo dos escândalos de corrupção que diz conhecer. Logo depois, veio a arbitrária e espetaculosa condução coercitiva de Lula por seus alegados crimes e, por fim, o levantamento do sigilo da escuta telefônica do mesmo Lula e de pessoas a ele ligadas, culminando no diálogo entre e ele e Dilma, surgido depois de o celebrado Sergio Moro haver ordenado o fim da interceptação. Ou seja, deveria ter sido suprimida da investigação.

 

Esses bombásticos lances proporcionados pelos condutores da Lava Jato, explorados à exaustão pela grande mídia, incendiaram o país e resultaram na, talvez, maior manifestação popular até hoje. À medida que Lula e Dilma eram execrados como delinquentes; ele, ocultando propriedade de um tríplex e de um sítio; ela, tramando para livrá-lo da merecida condenação em Curitiba. Criou-se o clima para que se repetisse a histórica Marcha da Família por Deus e pela Liberdade, de 1964 e daí em diante a onda só cresceu.

 

No entanto, nem mesmo os que se bateram contra o impeachment mencionaram esses fatos, de decisiva influência na vitoriosa campanha. Não é difícil perceber por que: eles ou pessoas ligadas a eles estão na mira dos homens de Curitiba. E na célebre operação vale tudo: sucessivas conduções coercitivas ilegais, prisões processuais em profusão, interceptações telefônicas e delações premiadas periodicamente vazadas para a mídia. E quase tudo sacramentado ou não coibido por tribunais superiores.

 

Eis o primeiro resultado da avalanche: um partido incapaz de lançar um candidato à presidência, recheado de fisiológicos, quando não corruptos, apresenta-se como apto a realizar um governo de salvação nacional. Como disse Eduardo Cunha – e aqui não vai nenhuma ironia – que Deus os ilumine: terão amplo apoio no Legislativo e poderão governar, algo jamais permitido à presidente deposta em seu desastroso segundo mandato.

 

P. S. Este texto já fora escrito quando li a coluna de André Singer, na “Folha” de 14/5. Assinala a influência da Lava Jato no movimento contra Dilma, realçando apropriadamente seu caráter partidário. Tenho lido – irregularmente – a “Folha” e acompanhado telejornais da Globo e da Gazeta. Janio de Freitas, Mario Sergio Conti, Celso de Barros e André Singer têm analisado a crise em perspectiva diversa do restante da grande mídia. Exceções confirmatórias da regra.

 

 

Antonio Visconti é procurador de justiça aposentado.

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