A relativização da grande mídia
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- Roberto Malvezzi (Gogó)
- 15/09/2016
Tempos atrás, quando éramos agredidos pela grande mídia, tínhamos que cobrar na justiça uma resposta no mesmo espaço, do mesmo tamanho, com um conteúdo sem retoques por parte dos editores. Claro, conseguíamos um direito de resposta em um bilhão.
Hoje a grande mídia critica e é criticada, opina e é opinada, ataca e é atacada. Melhor, praticamente em tempo real, através dos meios que a internet nos disponibilizou.
Enfim, chegamos efetivamente ao direito da livre opinião, da livre expressão, mesmo com todos os problemas que atravessam esse direito na internet. Se primeiro havia um emissor e um receptor, hoje todos somos receptores e podemos ser emissores. Basta querer. Os meios são inúmeros e podemos escolher qual é o de nossa preferência.
Claro que os grandes meios corporativos ainda têm muita influência, em alguns momentos ainda são determinantes. Porém, pesquisa recente dizia que o facebook já detém 51% de influência sobre a formação da opinião em relação aos outros meios. A tendência, inclusive, é que esses meios absorvam mais verbas de publicidade que os meios tradicionais.
Portanto, é preciso ser compreensivo com o desespero dos tradicionais barões da mídia. O auge de sua influência já ficou no passado. Daqui pra frente a tendência é mesmo da livre opinião generalizada.
O presidente impostor disse esses dias que é preciso “combater as redes sociais”. A afirmação vinha no contexto de que “esse governo não é estúpido de atacar os direitos dos trabalhadores como as redes divulgam”. Ora, os ministros impostores é que disseram em alto e bom som que a aposentadoria viria aos 75 anos de idade, 50 anos de contribuição, que o salário mínimo seria desvinculado da previdência, além de outras afirmações estúpidas. Hoje temos outros meios para nos defender de governos estúpidos.
Aliás, os golpistas calcularam mal. Achavam que ainda estavam na década de 1960. O golpe não cola porque o povo sabe. Se levamos 30 anos para saber do golpe militar, hoje sabemos em tempo real o que acontece nos bastidores.
Ainda mais, até a mídia internacional, inclusive a tradicional, tendo senso do ridículo, sabe que aqui houve um golpe.
Portanto, seja um jornalista, um juiz do Supremo, um deputado, um empresário, ou mesmo um promotor público exibicionista, se disser asnices, será exposto ao ridículo através dos meios hoje disponíveis.
Enfim, podemos tranquilamente dar adeus ao jornalismo político dos grandes meios. Além do mais, é provável que sem vê-los ou ouvi-los, melhore nossa taxa de colesterol, de triglicerídeos e a pressão sanguínea.
A internet livre faz bem à saúde.
Comentários
desculpe não ter comentado antes seu comentário. Mas, concordo regra geral. Os grandes meios ainda são hegemônicos, teremos muito que caminhar para ter meios tão influentes quanto eles. Mas, as portas se abriram e ficaram muito diferentes do passado, quando não tínhamos qualquer possibilidade de reação, ou tínhamos que fazer alguns jornais quase artesanais - como eles foram importantes! - ao menos para alimentar as lideranças. Vejo essa questão em perspectiva, para crescermos na opinião pública nacional
Ora, parece que se esquece que há uma verticalização na concentração das mídias. A mesma empresa que tem tvs abertas e por assinatura, rádios, jornais e revistas impressas também tem os portais de notícias na rede. A capacidade de atrair leitores de portais como g1, uol, terra, r7 etc. (em letras minúsculas propositalmente) são imensamente maiores do que os do Correio da Cidadania (maiúsculo) e outros blogs semelhantes. Volto a dizer, formalmente ambos os grupos têm a mesma liberdade, materialmente estão muito longe disso. Suas capacidades de se financiar e atingir grandes massas são extremamente desiguais.
Isso não quer anular ou retirar o valor destes últimos, muito pelo contrário, até as reforça, mas não permite ser tão otimista e dizer que agora temos liberdade de expressão, quase que plena, ao que parece pelo otimismo adotado. Da mesma forma ocorre com o facebook. Se este tem o poder de influenciar atribuído pela estatística – o que não duvido –, fica a pergunta: quem tá influenciando quem? Será que as discussões do facebook no processo do impeachment não nos dá uma dica de por onde a banda toca?
Outro dado para mim fundamental e que não o vejo tematizado o quanto penso que deveria, é constatar que a internet repousa materialmente sobre uma indústria bilionária. Não seria ingênuo pensar que poderíamos constituir uma trincheira de luta pela plena democracia sob uma matriz proporcionada pela indústria responsável por toda transmissão de dados, das mais variadas aplicações – dentre as quais está a internet – e que, consequentemente, está na base da manutenção da hegemonia político-econômica, no coração do capital? Será que podemos tranquilamente conciliar google, mark zuckerberg, bill gates, sisco, motorola, carlos slim, estados unidos etc. e democracia? É isso mesmo?
Apenas para ilustrar, note-se a importância que o wikipedia tomou. É comum quando fazemos uma pesquisa, o google trazer como um dos primeiros resultados um verbete desse site. No entanto, desde muitos anos páginas de resistência como Rebelión denunciam o conteúdo ideológico por trás de sua pseudo imparcialidade informativa (que se veja, por exemplo, o artigo La dictadura comunicacional de wikipedia ). Constituiu-se antigamente uma massa acrítica que se acostumou e ensinou seus filhos a pensar que os verbetes da barsa, enciclopédia britânica e almanque abril eram fonte confiáveis de pesquisa, agora essa massa substituiu esses livros pelo wikipédia. Mudou muito?
Enfim, não quero parecer pessimista o suficiente para adotar o discurso conformista do “tá tudo dominado”, apenas lembrar a velha filosofia do sábio chinês que dizia que o buraco é mais embaixo.
No que tange a mim, Malvezzi, a bastante tempo já havia seguido seu prudente e necessário conselho, dei "adeus ao jornalismo político dos grandes meio". Adeus jornalismo das tvs ou das rádios cbn e band news da vida. Opto pelo Correio da Cidadania e outros congêneres. Opto por ler você e seus pares. Cansei de ser chamado de idiota.
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