'Dá-me de beber!'
- Detalhes
- D. Demétrio Valentini
- 07/12/2007
Uma das páginas mais surpreendentes do Evangelho é o encontro de Jesus com a Samaritana, à beira do poço de Jacó. O diálogo, que parecia impossível, foi desencadeado pelo pedido de Cristo à Samaritana: “dá-me de beber!”.
Por suas características, o episódio faz lembrar a situação levantada por D. Cappio. No caso, o poço é o Rio São Francisco. E o assunto que pode abrir um amplo diálogo, com vastos desdobramentos, é o mesmo: a sede. Sua indiscutível necessidade justificou o pedido de Jesus, mesmo que para tanto fosse necessário transpor o fosso de preconceitos que separava judeus e samaritanos.
Perto do poço, e diante da mulher que tinha um balde, Jesus pediu água. “Dá-me de beber!”. E’ o pedido com uma justificativa humana indiscutível.
Assim, todos os que têm sede, e podem se aproximar do Rio São Francisco, têm o direito de fazer o mesmo pedido: “Dá-me de beber!”
Mas o problema não pára aí. E’ preciso saber como o Rio poderá matar a sede de todos. Como ele poderá ter tanta água para tanta gente.
A própria Samaritana alerta Jesus, advertindo que o “poço é fundo”, e que Jesus não tinha balde.
A realidade do Rio São Francisco é complexa. Ela começa com as distantes regiões de suas nascentes, que precisam ser preservadas. Ela envolve as margens que o acompanham, que precisam estar cobertas de matas ciliares para protegerem suas águas. Ela depende da população que vive ao longo do seu percurso, que não pode contaminar as águas com esgotos e outros detritos.
Um rio depende do complexo conjunto de fatores que compõem a sua bacia hidrográfica. Ninguém tem direito de usar suas águas se não estiver comprometido solidariamente com toda a realidade que garante sua existência e seu potencial de vida.
Aí mora o problema. Há atitudes prévias ao uso das águas, que precisam ser garantidas com antecedência. E existem critérios objetivos que precisam ser levados em conta nos projetos concretos de aproveitamento de um rio.
“Dá-me de beber!”. Este pedido ecoa de novo, com angústia. Nele reconhecemos também o pedido que D. Cappio está fazendo. Respeitando seu gesto, gostaríamos de estender a ele a água refrescante, que restaura as energias.
Fazendo este pedido, Jesus deixou claro para a Samaritana que ele tinha outra sede, que não era saciada pela água daquele poço.
Também D. Cappio manifesta outra sede, que todos precisamos ter também. Não é só o Rio São Francisco que está
O pedido de Cristo à Samaritana era irrefutável, e se constituiu em ponto de partida para o fecundo diálogo, que acabou envolvendo a vila inteira. Neste momento de angústia, manifestamos a esperança de que o gesto de D. Cappio leve a amplo comprometimento de todos, dando garantias de que não foi em vão, e já é suficiente.
D. Demétrio Valentini é bispo de Jales – Web Site: www.diocesedejales.org.br
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