Correio da Cidadania

Após as eleições, céu escuro e nuvens pesadas

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As eleições municipais deste ano já mostram o cenário construído: o fim da polarização PSDB x PT, o crescimento do primeiro e a derrota do segundo, com agravantes do impeachment de Dilma e das graves acusações contra seu principal líder.

 

E nós, das esquerdas que não se renderam nem se prostituíram, é que vamos ter de, mais uma vez, lutar contra esse partido, PSDB, que, certamente vai procurar vender as riquezas do Brasil e acabar com direitos trabalhistas e previdenciários. Os que se venderam, desmoralizados e ricos, vão, mais uma vez, fingir que combatem e, assim, atrapalhar as indispensáveis lutas que serão travadas, como fizeram nas privatizações de FHC, principalmente da CSN, do Banerj e da Vale.

 

Há muito o que pensar e muito mais para se fazer. As esquerdas foram diminuídas, com a abdicação dessa posição política pelo PT, PC do B, PDT e PSB. Não mais podem ser considerados de esquerda. E desgastaram enormemente esse setor.

 

Afirmo com a convicção de quem não esqueceu que, em novembro de 2002, Lula, já eleito, foi a Washington se reunir com o presidente Bush filho. Saiu da reunião e foi direto para um hotel, na mesma cidade, quando anunciou o nome do futuro presidente do Banco Central, o banqueirão internacional Henrique Meirelles, ex-presidente internacional do BankBoston, então segundo maior credor do Brasil. Indicado, ou imposto, pelo abominável Clube Bilderberg. O banqueiro aposentado pontificou como czar da economia durante oito anos. O subscritor da “Carta aos Brasileiros”, recibo da transação de sua venda, aceitou candidamente e, ao final do governo, propagandeou, como medalha, que “nunca os bancos ganharam tanto”.

 

Voltando ao Brasil, ainda em novembro de 2002, Lula foi direto para a fazenda, em Araxá, da família Moreira Salles, testa de ferro da multinacional Molicorp na empresa CBMM - Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, que explora o preciosíssimo metal nióbio naquela cidade. Esse mineral está sendo exportado livremente, a preço de banana, e contrabandeado; 200 gramas desse metal substituem uma tonelada de minério de ferro. As reservas no Pará, Goiás, Minas Gerais e Rondônia valem mais que o pré-sal.

 

Antônio Palocci, assumindo o ministério da Fazenda, em vez de imediatamente investigar as negociatas com o PROER e exigir o ressarcimento das “doações”, esqueceu, se tornou um manso vassalo do presidente do Banco Central e executou a política econômica neoliberal. Ficou milionário.

 

E, em treze anos de governos petistas, nada se fez contra as grandes transações e negociatas dos governos FHC.

 

Não foi auditada a dívida pública – ao contrário, foi multiplicada. As privatizações também não foram auditadas. Nem, pelo menos, a mais escandalosa, da Vale do Rio Doce. Ao contrário, privatizaram lençóis petrolíferos, estradas, portos, aeroportos etc. Poderiam ter desmascarado e aniquilado o PSDB, mas preferiram adotar a mesma política econômica e os mesmos métodos.

 

Em 2004, Lula assinou o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, ressuscitando o que Geisel havia denunciado. Em 2009, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, devidamente credenciado, assina outro Acordo Militar com os EUA. É mole?

 

A CUT, central sindical do PT, filiou-se à CIOLS (Central Internacional das Organizações Sindicais Livres), braço sindical da CIA e que atuou na derrubada dos governos Jango e Salvador Allende, no Chile. Recentemente, fundiu-se com a Central Sindical Democrata Cristã, surgindo a Central Sindical Internacional (CSI), com sede em Bruxelas e presidida pelo ex-presidente da CUT Antônio Felício.

 

Encerra-se um ciclo, a direita cresceu, não apenas no Brasil, e avança inclusive na América Latina. Os partidos políticos estão desmoralizados. As Centrais Sindicais, acomodadas e seus dirigentes apenas desfrutando das benesses que ganharam no segundo governo Lula: participação de 10% do Imposto Sindical (Contribuição Sindical), prêmio que obtiveram por sua inoperância e conivência. Basta ver a inação no episódio do impeachment da presidente Dilma que, pela gravidade, era caso de greve geral, que os desmoralizados dirigentes sindicais não têm condição de convocar.

 

Isso é o PT! Como dizia o grande Brizola, é “a esquerda que a direita gosta”.

Seu permanente aliado, o PCdoB, comandando a ANP, realizou vários leilões de lençóis petrolíferos, inclusive do pré-sal, e transformou a ex-combativa União Nacional dos Estudantes em balcão de negócios de venda de carteiras de estudantes e captador de polpudas doações que os governos do PT lhe concediam.

 

O PDT, outrora combativo e glorioso, após a morte de Brizola decompôs-se em uma alma penada biruta e sedenta de cifrões, amealhador de empregos em governos estaduais e municipais de qualquer partido e negocioso de tempo de televisão.

 

É nesse quadro que o povo brasileiro assiste ao crescimento do PSDB, podendo, mais uma vez, ser governado por esse partido que, certamente, negociará o que restou do patrimônio do Brasil e esmagará a classe trabalhadora, retirando direitos e mitigando a Previdência Social. Poderá ser antes ou após 2018. Partido que ressuscitou graças aos erros, conivência e covardia dos governos PT-PMDB-PCdoB.

 

Os “superlights” certamente recorrerão ao discurso da unidade. Ora, unidade tem que ser entre iguais ou parecidos e com mesmo objetivo. Nunca com traidores, que, durante a caminhada, se bandeiam por vantagens efêmeras.

 

O que restou das esquerdas situa-se, principalmente, no Rio de Janeiro, independentemente do resultado da eleição para a prefeitura. A coligação PSOL-PCB incumbe-se da grande responsabilidade de juntar os outros grupos de esquerda e os verdadeiramente democratas, elaborar um consensual projeto de nação, lutar para impedir a entrega do petróleo e demais minérios, barrar a reforma da Previdência e a trabalhista. Sair do genérico “Fora Temer” e agregar outras bandeiras de luta. O Movimento de Resistência Leonel Brizola, como sempre, estará nas lutas.

 

É fundamental, também, barrar a instalação de um Estado religioso, cuja cabeça de ponte é o bispo da Universal que acaba de ser eleito prefeito do Rio de Janeiro.

 

 

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Ronald Barata é bacharel em direito, aposentado, ex-bancário, ex-comerciário e ex-funcionário público. Também foi militante estudantil e hoje atua no Movimento de Resistência Leonel Brizola. Autor do livro O falso déficit da previdência.

 

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