Prisões sobem de hierarquia
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- Pedro Cardoso da Costa
- 05/12/2016
Até nas prisões de ex-governadores o Rio de Janeiro se tornou pioneiro. Na semana passada, dois cariocas foram presos: Sérgio Cabral, pela Operação Lava Jato, e Anthony Garotinho, sob a acusação de compra de voto.
Antes, ninguém do andar de cima era alcançado pelas leis ou pela justiça. O mensalão foi um divisor de águas entre a impunidade reinante e a punição de gente graúda. Até os ministros do Supremo Tribunal Federal demonstravam perplexidade.
Num passado não muito distante, vez ou outra era condenado um prefeito ou um vereador de cidadezinhas nos brejões do Brasil. Tudo acabava em cestas básicas.
A Lava Jato, a assombração de Brasília, fez o brasileiro acostumar-se com a prisão de gente grande. Além de fazer escola junto aos demais juízes de primeira instância. Os tribunais superiores só demonstraram ciumeira. Já que não mudaram por iniciativa própria, deveriam ter aprendido a lição. Mas, vale mais o orgulho de seus ministros e o argumento de dizer apenas que já têm processos demais, que não têm perfil para esse ou aquele julgamento. Além de coroarem com o argumento de que a demora eterna resulta em julgamentos perfeitos.
Nesse episódio das prisões dos peixes grandes, ficou estranha a coincidência entre a prisão de Garotinho e uma gravação de voz atribuída a ele no Fantástico, em que se mostra satisfeito por seu processo ter ido para uma relatora do Tribunal Superior Eleitoral. Quando a gravação foi ao ar, ela já havia determinado a transferência de Anthony Garotinho para um hospital particular – seria um castigo demasiado ele ser tratado numa daquelas pocilgas que deixou para a população quando era governador – e ganhou prisão domiciliar.
Como o caso ficou mal com essa coincidência entre gravações do beneficiado e o resultado que ele pretendia, o plenário do TSE deveria agilizar o julgamento dessa liminar ou do mérito. Da mesma forma, deveria ter agido o Supremo Tribunal Federal, com relação ao fatiamento do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Preocupa, apenas, o movimento dos revanchistas, certos de que, a partir de agora, quem aprontou pode pagar.
Nós, sociedade, tínhamos de botar o bloco nas ruas, como em 2013, para evitar que esses assombrados aprovem leis engessadoras para ficarem livres de possíveis acertos com a Justiça. Aqueles do andar de cima que coloquem as barbas de molho.
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Pedro Cardoso da Costa é bacharel em direito