Correio da Cidadania

A Esperança Teológica e a Esperança Histórica

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Tornou-se comum nas tantas andanças para alguma assessoria o pessoal solicitar que “leve alguma palavra de esperança”. Nessa encruzilhada tão angustiante, não só do Brasil, mas de toda a humanidade, é de se perguntar o que mesmo as pessoas estão querendo ouvir.

Seria bom entendermos melhor o que é a esperança. Para os cristãos é uma das três virtudes teologais: fé, esperança e amor. Paulo vai dizer que a maior delas é o amor, a única que realmente interessa ao final das contas (1 Coríntios 13,13).


Mas o que é a esperança teologal? É simplesmente crer – portanto, esperar – que para além de todo sofrimento humano, ao fim da história, seja pessoal, coletiva ou até mesmo do Universo, para lá de tudo e de todos, Deus existe e é maior que tudo e todos.  Enfim, o sofrimento e a morte não são as últimas palavras sobre a condição humana e do Universo.


É nessa esperança que muita gente deu sua vida, trocou por ela a fama, o sucesso, o poder, a carreira e até a própria vida. É nessa esperança que muita gente viveu uma vida de “noite escura”, sabendo que Deus garante a manhã de claridade. Nenhum fracasso, nem mesmo a morte na cruz, foi capaz de vencer essa esperança. Entretanto, o momento de passar da esperança para a realidade a Deus pertence. A confiança Nele faz esperar, aguardar, até que a manhã se ilumine.

A esperança histórica é um pouco diferente. É a busca de construir aqui e agora um mundo de justiça e paz maiores para todos. Portanto, temos que analisar a história, o jogo das disputas dentro da sociedade, o impacto que a humanidade faz sobre o ambiente, as vítimas da história, os vencedores, suas estratégias de poder e dominação. O agir na história é para construir um mundo que seja de todos. Na história também muitos se sacrificam e são sacrificados pelo bem de outros.

Pode ser também a esperança na conquista pessoal de alguma graça, até milagre, em vida, e é legítimo. Sem falar naqueles que simplesmente querem um emprego, saúde, casamento e tantas coisas necessárias – ou não – da vida concreta.

Então, não existe relação entre ambas? Sim, e total. Muita gente dá a vida aqui e agora exatamente porque sabe que essa doação não é perder, mas, sustentada pela esperança teológica, ganhar. Não vai colher os frutos da história. Não verá uma sociedade mais justa, mesmo assim sacrifica sua vida, sua carreira, seu conforto para que outros vivam. Assim são muitos que se dizem cristãos.

 

É sem adjetivos a atitude daqueles que não esperam nada para a outra vida, mesmo assim, dão suas vidas aqui e agora para que outros vivam. Esse é o amor em estado puro. Tanta gente fez e faz assim nesses longos anos das Pastorais Sociais, tantos outros humanistas, até ateus, e eles(as) são os maiores. Com certeza, mesmo sem saberem, Deus guardou para eles a plenitude da vida.

Viva a esperança e que a esperança viva! Mas a maior das virtudes teologais é o amor.


Roberto Malvezzi (Gogó) possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco.

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