Correio da Cidadania

Raça de Víboras!

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A última sessão do Senado, que votou a CPMF, podia ter sido realizada no Butantã. Assim mesmo, não é certo que este Instituto incumbido de recolher as cobras venenosas do Brasil, teria em seu catálogo tantos exemplares quantos seriam necessários para classificar as serpentes que foram destilando seu veneno durante a sessão de quarta-feira.

 

Nesta época de advento emerge a figura austera de João Batista. Com sua autoridade interpelava os peregrinos, convidando para a conversão de vida. Se nesse dia ele entrasse no Senado, com certeza advertiria a todos, alertando que é hora de criar juízo, e de trabalhar para o bem do país, e não para defender interesses próprios.

 

Diz o Evangelho que João admoestava a todos, com serenidade e firmeza. Mas quando se aproximaram os fariseus e os saduceus, seu espírito se encheu de indignação. Não mediu palavras para repreendê-los. “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que se aproxima?” .

 

Entrando no Senado, o Batista teria a mesma reação, ao se deparar com duas bancadas que pareciam vestir a carapuça dos fariseus e saduceus, tal seu grau de malícia e sua falta de sinceridade.

 

“Fazei obras que realmente provem vossa conversão!”, pedia João Batista. “Fazei leis que realmente sirvam para o bem do povo, e não fiqueis brigando pelo poder, cada qual tentando armadilhas contra o outro!”

 

A maneira como foi realizada a sessão da CPMF serve de exemplo típico do farisaísmo político. Diz uma coisa, mas na verdade está pensando em outra. Alega nobres objetivos públicos, quando de fato tenta criar obstáculos, para inviabilizar soluções e assim ampliar as chances de se beneficiar das dificuldades.

 

Com certeza o episódio foi mal conduzido, em primeiro lugar pelo próprio Governo. Não se vai ao Butantã com chinelos de dedo! Faz parte da previdência governamental prevenir as dificuldades, e contorná-las em tempo, para não expor o interesse público ao jogo partidário dos congressistas.

 

Mas é evidente que faltou sinceridade e racionalidade na discussão da matéria. Isto impediu de analisar os méritos deste tipo de “imposto”, que precisava da autorização qualificada do Congresso para continuar sua vigência.

 

Todos os Senadores sabiam que o Governo está prestes a propor uma profunda reforma tributária. Toda reforma tributária causa apreensões sobre o alcance exato das mudanças a serem feitas. Tanto mais era conveniente aprovar a renovação da CPMF, cuja arrecadação serviria de segurança mínima e de tranqüilidade administrativa, enquanto se aprovaria a reforma tributária. Mas nada disto foi levado em conta pelos que obcecadamente se posicionaram contra a proposta do Governo.

 

Nem se teve a tranqüilidade para avaliar os aspectos positivos da CPMF, que poderiam ser incorporados à nova legislação tributária. O “importo do cheque” revelou virtudes surpreendentes. E’ “imposto” que ninguém pode sonegar.  E’ o único que até o contrabandista e o traficante pagam.  Os pobres ficam livres, ou só pagam uma pequena parcela, enquanto os ricos pagam mais, como pede a justiça eqüitativa. E, sobretudo, este imposto fornece ao poder público uma ótima ferramenta para conferir as movimentações financeiras e coibir possíveis infrações. Os sonegadores, com certeza, não gostam deste “imposto”.  A fúria de alguns congressistas em eliminá-lo faz pensar que estavam querendo se livrar de um incômodo instrumento da fiscalização da receita.

 

O episódio acabou revelando uma séria fraqueza de nosso sistema político. Falta a presença e a atuação da cidadania organizada. Sem ela, o Congresso se enreda nos seus vícios. Ainda não foi regulamentado o Art.14 da Constituição, que prevê o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular de lei. Além destas limitações constitucionais, o atual Governo está pagando caro o pouco apreço que demonstra pela força política dos movimentos populares. Se prefere a companhia das cobras, que se previna melhor de suas picadas.

 

D. Demétrio Valentini é bispo de Jales – Web Site: www.diocesedejales.org.br

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Comentários   

0 #8 Existe mal que vem para o bem.Paulo Roberto Crestani 27-07-2008 12:12
D. Demétrio Valentini,sem dúvida
a maneira como foi realizada a sessão da CPMF serve de exemplo,pura demagogia política. Diz uma coisa, mas na verdade está pensando em outra. Mas a demagogia faz parte da nossa história,quer na politica ou na religião - "Diz uma coisa mas na verdade está pensando outra". A CPMF já foi tarde, vamos nos unir para que não volte nunca mais.
Existe mal que vem para o bem, está foi uma demagogia politica que veio para o bem.
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0 #7 Raça de VíborasVentura Picasso 18-12-2007 05:34
Visão correta dessa realidade. Não há presidente que governe com uma Câmara dessa qualidade, e issa é a história de longos anos. O lobby formado por traficantes de armas, de drogas e de contrabandistas não foi denunciado pela grande imprensa que, infelizmente, faz parte dessa corja de bandidos. A sua interferência nos anima a resistir. Grande abraço, Picasso.
Araçatuba SP.
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0 #6 Raça de víborasPedro Selomar Sehn 17-12-2007 07:29
Parabenizo D. Demetrio Valentini pelo artigo. De fato, a CPMF é um dos tributos mais justos que há, pois quem tem maiores recursos financeiros paga mais e quem tem menos, paga menos (justiça tributária). Por ser um tributo que rico não consegue sonegar, a máfia no Senado não aprovou a continuidade desse tributo. Ainda bem que há 45 senadores que pensam nos mais pobres deste país. Entretanto, os 34 senadores que votaram contra representam a elite que sempre se aproveitou e usou o povo como massa de manobra há mais de 5 séculos.
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0 #5 Raça de víborasLúcio Santos 17-12-2007 04:40
Parabéns pela lucidez do artigo. A história da humanidade é rica em exemplos de traição e falsidades. A democracia representativa está desmoralizada. Havemos de lutar pela democracia participativa. A ciência e atecnologia, em particular a tecnologia da informação e comunicação (TIC) podem e definir mecanismos operacionais para implantar a desejada democracia participativa.
Saudações,
Lúcio Santos
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0 #4 FARISEUS E SADUCEUS...Margarida Maria Pereira Pascho 16-12-2007 22:14
Na época quando o Grande Ministro Adib Jatene propôs a CPMF,a polêmica era tanta se a verba seria aplicada realmente para a Saúde, e como Conselheira da Saúde na época o CONSELHO DA SAÚDE de Jaú-SP aprovou um documento com apoio à CPMF (DESISÃO SUPRAPARTIDÁRIA)e PSDB e ex PFL hoje DEM que eram os mais afoitos na época à aprovação da CPMF,mostram hoje que cultuam a política do \"quanto pior melhor\"ou estavam sentindo em seus bolsos o quanto custa pagar controladamente os impostos como os mais pobres sempre o fizeram?POBRES USUÁRIOS DO SUS...Parabéns D. DEMÉTRIO por dizer a verdade ao nosso Povo. MARGARIDA MARIA PEREIRA PASCHOAL
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0 #3 joão roberto buzato 16-12-2007 19:20
Nascido no interior, José Bonifácio, moro em São Paulo há 35 anos e fico feliz em saber que em Jales os católicos tem um grande pastor na pessoa de D. Demétrio.

Parabéns pelo seu artigo, D. Demétrio, que Cristo esteja sempre contigo.

João Roberto Buzato
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0 #2 Ninho de cobrasJoão 16-12-2007 08:04
Prezado D.Demétrio...excelente artigo..parabéns pela lucidez com que expos o seu sentimento sobre a morada dos animais peçonhentos que infestam o país. Comungo também com o mesmo sentimento e certamente outros milhares de brasileiros e brasileiras..Um abraço
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0 #1 Edir Antonio de Oliveira 15-12-2007 20:18
Corretíssimo o artigo de D. Demétrio. Sem dúvidas nenhuma os políticos sempre estão legislando em causa própria. E o governo que foi eleito pelo movimento popular preferiu contar com esses políticos que não merecem a confiança de ninguém.
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