Correio da Cidadania

Um pequeno relato da terceirização

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Meu primeiro trabalho como jornalista foi para um grande site de notícias. Um terço da redação era contratado, os outros dois terços terceirizados, como eu. O salário era menor, o FGTS, benefício proporcional de férias e 13º salário foram pagos, mas eu não tinha direito ao plano de saúde dos contratados diretamente. Sobretudo, eu era contratado como trabalhador temporário e sabia que ficaria lá três meses, prorrogáveis por mais três meses e seria mandado embora depois.

Tive a sorte de encontrar pessoas muito legais, mas também me deparei com aquele sentimento que os terceirizados relatam: o de não se sentir parte da empresa, um estranho, um intruso, algo descartável porque o seu chefe, o chefe do seu chefe e o chefe, do chefe do seu chefe de fato te veem como algo descartável.

Afinal, eu era recém-formado e seis meses depois seria demitido como todos os outros que estavam na minha condição e outros recém-formados estariam prontos como eu para assumir essas vagas temporárias.

O detalhe mais comum, no entanto, veio no final. Saí um mês antes do previsto porque consegui outro trabalho e esse grande site de notícias havia trocado de empresa que contratava os terceirizados. E como conseguir encontrar a outra empresa, que havia me contratado, para receber meus direitos? Foram uns dois meses de ligações e e-mails sem retorno até conseguir encontrar alguém que pudesse me pagar o mínimo dos meus direitos.

A minha história de terceirizado foi de precarização, mas não chega nem perto de outras histórias que já eram realidade para uma parte importante da classe trabalhadora e agora vão virar regra, porque antes a justiça podia, minimamente, nos defender, mas agora... Urge a necessidade de uma greve geral.

Corta pra hoje.

No dia do ato contra a reforma da previdência, saí de São Bernardo, peguei um ônibus até o Sacomã e como o metrô estava em greve pedi um Uber para ir até o Paraíso; de lá, fui a pé até o ato da Avenida Paulista. Jornalista que sou sempre gosto de perguntar as histórias de vida dos motoristas, sejam de táxi ou Uber.

O Cléber me contou no trajeto que é formado em tecnologia da informação e trabalhou na mesma empresa por 15 anos. O salário dele era R$ 6000,00, somado a ótimos benefícios. Outras 20 pessoas trabalhavam com ele na mesma função e o salário variava pelo tempo de casa, mas as condições eram boas de maneira geral.

Acontece que em outubro a empresa, sem aviso algum, decidiu demitir essas 20 pessoas, pagando os devidos direitos. No lugar destes, foram contratados outros 30 profissionais com o salário de... R$ 1800. E os benefícios? Ah, Mister M, sumiram num passe de mágica!

Ele fez as contas rápido: em um ano a empresa recuperava a grana que teve de pagar pelas demissões. Com a nova lei das terceirizações, o que aconteceu com o Cleber, o que acontece com 10 milhões de pessoas em todo o Brasil, vai se tornar regra.

Podemos ter certeza de que em 5 anos o número de trabalhadores terceirizados vai ser maior do que os contratados diretamente, e em condições muito mais precarizadas.

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