Gilmar e o acordão
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- Luiz Carlos de Oliveira e Silva
- 05/05/2017
1. Gilmar Mendes, sabemos todos, é um homem notoriamente ligado (“orgânico”, como dizem) aos tucanos, de modo particular, e à plutocracia, de modo geral.
2. Por isto, talvez, o seu comportamento na segunda turma do STF, ao dar um safanão nos aloprados do MPF e ao votar a favor de José Dirceu, desencadeou uma série de “teorias da conspiração”.
3. A principal delas diz que Dirceu foi liberado porque está em curso um acordão. Como a Lava Jato chegou aos tucanos e uma possível delação de Palocci pode botar na roda deus-e-o-mundo, os bombeiros de todos os lados estariam pondo mãos à obra.
4. Faz sentido, sem dúvida, mas eu acho que um acordão, a esta altura do campeonato, não funcionaria, tanto por falta de engenheiros à altura de tamanha empreitada, como por falta de aceitação da opinião pública.
5. Que tipo de acordão seria? Para salvar os que Palocci pode “delatar” (banqueiros, magistrados, barões da mídia, como dizem), os pizzaiolos colocariam Lula, e lulistas de alto coturno, no balaio dos a serem salvos?
6. Lula, e lulistas de alto coturno, a salvo, só passando por cima do cadáver do MPF, que se comprometeu com a tese de que o ex-presidente é o chefe de todo o esquema corrupto e o seu principal beneficiário. O MPF, com esta tese estapafúrdia, entrou num caminho sem volta. Ou prova ou se desmoraliza. Isto talvez explique o “chega-prá-lá” que os aloprados do MPF levaram ontem do mais novo “guerreiro do povo brasileiro”.
7. Como disse acima, eu acho que não funciona, seja por falta de “engenheiros” (isto seria coisa pra Tancredo, Ulisses, Covas etc.), seja por falta de aceitação do acordão na opinião pública. A grande mídia tirou os diabinhos do antipetismo hidrófobo das garrafas, como convencê-los agora de que tudo não passou de um mal entendido?
8. Por uma destas ironias da história, a grande mídia, que tanto fez para tirar os diabinhos da garrafa, pode agora se ver em apuros exatamente por isto.
9. Um acordo light é possível, tipo: Lula condenado em primeira instância, mas com condições de disputar as eleições de 2018, com cada lado entregando alguns anéis. (Resta saber se os anéis vão concordar em se transformarem em bons cabritos.)
10. Um acordão mais abrangente, tipo: sem banqueiros e barões da mídia e sem Lula condenado, e com anistia de caixa 2, seria traumático para a opinião pública. E o principal beneficiário disto não seria Dória e sim Bolsonaro.
11. A direita poucas vezes foi tão irresponsável como quando embarcou na onda do impeachment e da demonização de Lula e do PT, instrumentos que eram de estabilização do sistema, a baixo custo para a plutocracia.
12. Agora, meus amigos, é como disse Riobaldo: “O diabo está na rua, no meio do redemunho...” O diabo não é de direita nem de esquerda. O diabo é o cão...
13. Com a palavra Antonio Palocci, hoje um dos homens mais poderosos do país. Se é que vocês me entendem...
Luiz Carlos de Oliveira Silva é professor.