Correio da Cidadania

Os vampiros brasileiros

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Os vampiros brasileiros*: eles comem tudo e não deixam nada, os esparadrapos das eleições de 2018 não vão estancar hemorragias.

Falar de eleições de 2018 no Brasil hemorrágico é tratar do sangramento embasado nos melhorismos que se esgotaram, “desmancharam no ar” e não possuíam solidez. Apesar disto, muitas das reformas desta última década de conciliação “petucana” foram importantes, entretanto, acabou!

E terminou porque não foram pautadas e estruturadas em consonância com os anseios da população, trabalharam sob a égide da exclusão includente da pequena política, aquela que coloca um esparadrapo na ferida crônica, uma anestesia e pronto!

Após pouco mais de uma década a ferida está exposta e em processo de decomposição constante. As economias coloniais e suas burguesias nacionais veem na cooperação com o imperialismo uma maneira de lucrar ainda mais, sentem-se donas do poder político a ponto de não se preocuparem com qualquer soberania nacional. Não estão dispostas a lutar pela “segunda independência”, quiçá por certa autonomia nacional.

Muitos dos nossos “pensadores” atuais tentam imitar a Europa com suas mentalidades coloniais, negam nossa vasta produção teórica e nossas reflexões/ações neste subcontinente. Situam uma crítica transformadora e revolucionária quando nem suas práticas diárias rompem com a ordem mais simplória possível. Não percebem o quanto colaboram com a burguesia na sua falta de produtividade em prol da sociedade, na sua iminente separação da realidade, na míngua solidariedade com todo o povo brasileiro que construiu a história.

Ao contrário, lastreiam qualquer descendência europeia e demonstram sua carência de qualquer símbolo que lhes tornem menos vira-latas no mundo. Desprezam o povo, são acima de tudo brancos! O que lhes dá um primeiro privilégio. E o pequeno burguês, a classe média, os mestiços, todos, passam a imitar o exemplo assim que lhes surge a primeira oportunidade em diferenciar-se dos outros por meios dos acessos mínimos, são descuidados com a teoria e a práxis.

Já dizia o filósofo alemão “as ideias dominantes são as ideias da classe dominante e o Estado é a razão da burguesia”, logo, temos que lutar dentro e fora dele, disputando todos os espaços, política e, principalmente, didaticamente. Do contrário, a idiotice vai crescendo cada vez mais entre aqueles dentre os quais poderíamos esperar alguma coisa; ninguém se anima mais com o pensamento crítico radical.

O imperialismo conta com a colaboração de todos, mesmo daqueles que em seus estudos e produções possuem a pretensa ideia de mudar e transformar o mundo, mas sem sair do lugar de conforto, porque já dá muito trabalho.

Para que dialogar com a população? Para que disputar ideias, corações e mentes se já tenho meu carguinho público, minha bolsa de estudo ou meu pequeno poder nepotista, que, às vezes, me possibilita uma ascensão diferenciada? O estudioso não se reconhece em sua classe, não se reconhece no ser humano e no seu compromisso com a sociedade, é realmente vergonhoso participar indiretamente desta administração do capitalismo.

Não adianta falar mal do capital. Temos de transformar a realidade com uma consciência crítica de classe para si, a classe dos explorados do mundo e isto se faz na nossa forma de agir e pensar. Os conservadores adoram dizer que cada um tem sua visão de mundo, que o mérito individual nos levará ao sucesso e já não se envergonham. Pior, há vertentes de esquerda nesta órbita, o movimento dos sem horizontes.

Toda a possibilidade de forjar um programa político anti-imperialista pensando que podemos mobilizar a pequena burguesia nacionalista ao lado das massas é um disparate, está descartado, não é possível suprimir suas diferenças de interesses. Os assaltos ao poder, às riquezas naturais, aos nossos territórios e até mesmo ao nosso espírito de mudança contam com o apoio demagógico do popular, do messias que voltará, mas que já disse: não romperá com o passado (2). Os agentes apenas estão concorrência e nesse sentido que se digladiam.

Estas obviedades cansam a população, que já não espera mais nada do Estado, pois sabe que ele mudará e continuará igual. O povo vai à caravana e acha que o pobre no poder vai dar o país ao povo. Não vai! A lógica continuará a mesma? Até quando vão tentar nos enganar? No nosso território a intervenção armada e ideológica é feita sem pudores, um pouco de leitura de história, mesmo nos livros didáticos no Ensino Médio, que estão tão bem longe de ser revolucionários, demonstram este fato.

As relações dentro do capitalismo precisam ser expostas, destapadas de todas as formas. Mostram-se as veias abertas da América Latina, estamos sangrando e continuamos seguindo como se nada estivesse acontecendo, basta eleger novamente o passado e mostrar que não aprendemos absolutamente nada com a história.

Notas:

O título do texto alude à letra da música do português Zeca Afonso - Vampiros
 
1) Refiro às últimas declarações de Lula, em sua caravana, ao dizer que não cessará com as reformas iniciadas por Michel Temer. Consultado a 20.08.2017 em http://www.esquerdadiario.com.br/Lula-afirma-que-nao-anulara-reformas-de...


Elaine Santos é Socióloga e doutoranda em Sociologia no Centro de Estudos Sociais – CES/Coimbra.

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