O silêncio dos “mestres”
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- Lindomar Padilha
- 25/09/2017
Imagem de internet, blog Papo de Barba
Interessante observar como os analistas de conjuntura estão sumidos. Desapareceram em meio a tanta poeira levantada por tantos que passam por essas estradas sem pavimentação deste nosso Brasil. Mais interessante ainda é ver que estes mesmos, agora desaparecidos, foram os primeiros a "analisarem" os movimentos de 2013, classificando-os como sem pauta, sem lógica, sem rumo, apenas como "uma insatisfação" generalizada e crise de representatividade política.
Passados quatro anos, meu filho que à época tinha 18 anos, agora com 22, amadureceu e já está terminando a faculdade. Enquanto isso, pergunto: por que nossos analistas não amadureceram? O que deu errado, já que era claro que faltava apenas um "controle e direção" dos partidos e sindicatos?
Quatro anos, um mandato inteiro, e nada. Parecia óbvio que o maior problema era a crise de representatividade, até Dilma falava em plebiscito. E... cadê a reforma política? Enquanto Dilma fazia o discurso para agradar, Lula, seu mentor, seguia fazendo "articulações" com setores da direita tradicional e corrupta, especialmente com o PP de Maluf, Ciro Nogueira, Ana Amélia e com o PMDB de Renan, Sarney, Eduardo Cunha, Sergio Cabral e por aí vai.
No Brasil sempre tivemos dois tipos centrais na política: o traidor e o usurpador, ambos sempre tiveram como princípio somente a sanha de chegar e permanecer no poder, ainda que ilegitimamente. Valem-se sempre da figura do "salvador" megalomaníaco. Assim, o que vivemos hoje é apenas uma repetição, um déjà vu na história, fragilíssima história de nossa democracia. O governo Lula retomou conceitos antigos, muitos herdados da ditadura militar, como por exemplo no campo do desenvolvimentismo interno, através de grandes obras e os dois modelos desenvolvimentistas a gosto da IIRSA, como foram os PAC I e II.
No campo internacional fez também dois grandes movimentos. Primeiro no sentido de se revelar "potência". Para isso buscou insanamente fazer parte do conselho de segurança da ONU - e só para lembrar, o Brasil liderou e ainda lidera a ocupação do Haiti desde 2004 através do Minustah, que só deverá ser suspensa no final deste ano ou no próximo. Neste mesmo período, Lula e Sérgio Cabral decidiram projetar o Rio de Janeiro e o Brasil por meio do esporte. Em 2007, a FIFA (também envolvida em corrupção) definiu o Brasil como sede da Copa do Mundo. Deu no que deu.
Ainda no campo da política de propaganda internacional, o Brasil vendeu a imagem de país progressista e exportou e implantou empresas ligadas ao desenvolvimentismo nacional, especialmente para nossos vizinhos e países da África. Interferiu diretamente em países como Venezuela e Bolívia. O fato de tais empresas estarem envolvidas em denúncias de corrupção passa a ser mero detalhe depois que Lula escreveu a "Carta ao Povo Brasileiro" em 22 de junho de 2002, garantindo ao mercado financeiro que não cessaria o, digamos, "fluxo de capital" (em troca do chamado caixa dois).
Para além de obras de grande impacto nos territórios de comunidades tradicionais, incluindo aí povos indígenas, rigorosamente nada foi feito na defesa e proteção dessas comunidades e tampouco da natureza ali presente. No rastro das alianças espúrias foram-se os anéis. O traidor traiu e nada fez em favor dos menos favorecidos.
Ensaiaram uma briga entre uma suposta esquerda e a direita. Tentaram dividir o país para levantar poeira e assim evitar que o povo enxergasse o que de fato estava e está acontecendo. Tentaram polarizar. Eu mesmo fui vítima de xingamentos e rupturas de amizades de anos. Meus canais sociais foram infestados de grotescas agressões, ora da direita, mas quase sempre vindos da falsa esquerda sindical ávida por permanecer em sua sinecura inconfessa. Os jovens de 2013 foram criminalizados e silenciados, enquanto todos os partidos políticos se declararam iguais no tocante à malversação de recursos públicos. Portanto, recriaram o cenário para uma total desilusão, campo propício para o surgimento de um novo "salvador" ou quem sabe um "volta Lula".
Pois bem, com a queda dos traidores (do traidor mais especificamente), entra em cena o usurpador. O usurpador, assim como o traidor, pretende se perpetuar no poder e não medirá esforços para tanto. Para conseguir seu intento, deve aprofundar ainda mais as alianças espúrias, já feitas pelo traidor. Tudo que o traidor prometeu aos algozes do povo o usurpador deverá cobrir, como se fosse um leilão de quermesse do interior: os mais ricos gritam mais alto e, afinal, arrematam "a prenda".
O deboche, palavra mais próxima do que quero dizer, é tanto que no dia 22 de agosto (agorinha, esses dias), Lula se encontrou com o velho amigo Renan Calheiros e a família Sarney. No dia 23 deste mesmo agosto de cães danados, o usurpador (cujo nome prefiro não pronunciar) publicou o decreto de extinção da RENCA - Reserva Nacional do Cobre e seus associados. O traidor não demarcou as terras indígenas e quilombolas e nem criou grandes áreas de proteção, já o usurpador, extinguiu as demarcações e reservas que outros criaram.
O deboche que chega a parecer ironia é que a RENCA foi criada em 1984, último governo militar antes do governo Sarney. Sabem quem é o Ministro do Meio Ambiente do usurpador? Sim, ele mesmo, o Sr. José Sarney Filho, conhecido como Zequinha Sarney. Quer mais deboche? Zequinha é do PV/MA, partido que abrigou Marina Silva (caiu na REDE é peixe) assim que ela rompeu com o PT e deixou o mesmo ministério agora ocupado pelo "companheiro" Zequinha.
A conjuntura aponta para nada. Nada mudou, nada será feito, nada será nada, exceto por algumas pioras. No mais, o traidor, segue traindo, o usurpador usurpando e o grande capital rural ou empresarial segue leiloando as prendas (bens comuns) nesta grande quermesse sem santo padroeiro chamada Brasil.
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Lindomar Dias Padilha é filósofo especialista em desenvolvimento social no campo e coordenador do CIMI – Conselho Indigenista Missionário – na região da Amazônia Ocidental – Rio Branco, Acre.